sábado, novembro 07, 2009

De Sergipe del Rey ao Engenho de Maracatus

Tarde do sábado após pequeno período em Aracaju onde fui falar um pouco sobre a minha pesquisa a respeito do Pretinhas do Congo, considerando os espaços religiosos que são criados ao longo da história. E a Pretinha do Congo está geograficamente na parte marginal da cidade de Goiana, pois embora tendo nascido em região industrial, tudo indica que seus fundadores não eram da elite do operariado local, como hoje, nesse novo surto industrial da cidade eles não possam beneficiar-se diretamente. Religiosamente, as Pretinhas do Congo não freqüentam os grupos mais aceitos na sociedade e, o lugar onde hoje vivem, o Baldo do Rio, pequena é a presença dos grupos religiosos que fundaram Goiana. Foram essas e outras reflexões que levamos ao II Colóquio Nacional do Grupo de Pesquisa Culturas, Identidades e Religiosidades da Universidade Federal de Sergipe. Além de participar de uma Mesa Redonda, tive a felicidade de participar, como ouvinte, de uma sessão de comunicação das pesquisas que estão sendo realizadas por membros desse grupo de pesquisa, quase todas voltadas para a religiosidade popular. Aliás, o povo tem religiosidade, quem não é povo tem religião, parece.

Mas neste sábado, mais uma vez participo da inauguração de um Ponto de Cultura na Zona da Mata Norte, mais especificamente na cidade de Nazaré da Mata. Trata-se do Ponto de Cultura ENGENHO DOS MARACATUS, formado pela ação conjunta do Maracatu Coração Nazareno, do Maracatu Leão Misterioso, do Maracatu Leão Cultural e do Maracatu Águia Misteriosa. Quem apresentou o projeto à FUNDARPE para a criação desse ponto de cultura foi a Associação das Mulheres de Nazaré da Mata - AMUNAM, entidade com duas décadas de lutas e conquistas de espaços e cidadania para as mulheres e os homens da Mata Norte.

Como parte dos festejos da inauguração do Ponto de Cultura Engenho dos Canaviais foi realizada uma “roda de mestres”, uma conversa de mestres, ao vivo, pela Rádio Alternativa, que pertence a AMUNAM, o primeiro programa Engenho dos Maracatus. Como em notou Afonso Oliveira, foi necessário que na terra dos maracatus, surgisse uma associação feminina, com um maracatu formado só por mulheres – Maracatu Coração Nazareno – para que viesse a ser criado um programa radiofônico dedicado apenas aos maracatus. Mas, além disso, tivemos a notícia de que agora a Rádio da AMUNAM tem concessão permanente, com portaria ministerial.

Todas essas razões de alegrias foram completadas com a inauguração de dois espaços para a realização de oficinas pelos maracatuzeiros dos quatro maracatus: um no prédio da AMUNAM, será dedicado à discussão e produção de projetos comuns e individuais para cada maracatu e, o outro, no Engenho Santa Fé (onde o Mestre Baracho foi Mestre de Cachaça), será o lugar da produção de golas, surrões e das demais indumentárias próprias dos caboclos. Um festa simples, com a participação dos maracatuzeiros, dos Mestres João Paulo(Leão Misterioso), Mané da Silva(Leão Cultural), Edilmo e Valdemar Belarmino (Águia Misteriosa) e a Mestre Gil(Coração Nazareno), e a Eliane, presidente da AMUNAM.

E o que mais deixava os mestres nervosos, é que nesta semana, eles iniciarão, em doze escolas da cidade, aulas-espetáculo para disseminar os valores e a história do Maracatu de Baque.

Como diriam Darcy Ribeiro e João Ubaldo, e nós com eles: Viva o povo brasileiro!

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