segunda-feira, outubro 19, 2009

Um final de semana com as Estrelas do Amanhã

Foi este mais um final de semana na Mata Norte de Pernambuco, participando de atividades no Ponto de Cultura Estrela de Ouro – Aliança, na cidade do Carpina e também em Goiana. Em Carpina participei do Programa Canavial e em Aliança de uma atividade no projeto Leitura no Ponto (Wanessa, Bárbara, Amélia), que então recebia os Mestres Griôs que procuraram passar para jovens e crianças um pouco da história da Ciranda. Mestre Zé Duda mostrou diversas maneiras de cantar ciranda ao mesmo tempo em que dançávamos ao som de sua voz e dos instrumentos tocados por Mestre Biu do Coco, Mestre Luiz Caboclo, Mestre Nercino, que é o figureiro do Cavalo Marinho e o aprendiz Ederlan. No domingo acompanhei a atuação do Alafiá, o grupo que cultiva e incentiva as manifestações culturais de identidade negra e popular.

Creio que foi essa a primeira vez, em seis anos, que estive presente no Alafiá desde o começo até o fim das apresentações. O Alafiá está se preparando para a festa de celebração inicial de sua atuação como Ponto de Cultura, e o faz de maneira itinerante. Quando do início de suas atividades o Alafiá realizava suas atividades sempre em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Como a matriz da Paróquia de Goiana está em reparos físicos, as suas atividades foram transferidas para a Igreja, o que impossibilitou o Alafiá continuar suas ações ali. Para superar o problema, a imaginação pensou em realizar o ato em diferentes espaços na cidade. A cada mês um bairro receberá uma festa. Será uma experiência interessante levar grupos de artistas populares aos bairros, e não tirar a população de seus bairros.

Mas o que assisti na Rua Direita – esse é o nome dos períodos colonial e imperial – ou Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, ao lado da Casa da Marinha (sucursal da Capitania dos Portos de Pernambuco) foi uma presença animada de muitos goianenses. Não eram muitos, não eram milhares, mas quase três centenas de pessoas animadas – isso no horário de pico – para assistir a apresentação da Nação Pretinha do Congo de Goiana, grupo que está organizado no Baldo do Rio e que está sendo re-estruturado este ano com apoio da FUNDARPE. O Baldo do Rio fica às margens do Canal do Rio Goiana, antigo porto, aos fundos da antiga fábrica de tecidos, que foi uma das glórias de Goiana no início da República.

Logo depois tive o prazer de assistir um outro processo de transferência cultural. Foi a apresentação do Cavalo Marinho Infantil Estrela do Amanhã, da cidade do Condado. Nessa apresentação atuou, durante algum tempo, como Capitão Marinho, o Rabequeiro Antonio Teles, que é o pai de Nice, organizadora do Cavalo Marinho enquanto que seu filho estava no Banco, cantando e tocando o pandeiro. Três gerações presentes e atuantes em um local, em uma festa. Claro que com exceção de Nisa e seu Antonio Teles nenhum dos dançarinos ou tocador ultrapassava a idade de 15 anos. Foi uma apresentação rápida – uma hora – que nos ofereceu a possibilidade de ver a criatividade do Mateus, do Bastião e do Soldado. Tudo confirmado pela segurança dos músicos do Banco e pela beleza da Dança dos Arcos em homenagem a São Gonçalo do Amarante. Os jovens poetas Goianenses, ativos de um coletivo do Silêncio Interrompido, aproveitaram o intervalo para declamar poesias de Solano Trindade e outras de sua própria criação. Surpreendentemente o público silenciou para escutar os poetas. A noite terminou com o Coco de Sinhá, liderado por José Mário, um dos mais novos mestres da região, artista múltiplo e criativo.

Enquanto isso, tem gente de olho no passado, incentivando uma guerra civil – nós contra eles – na próxima vez que os brasileiros forem decidir seu futuro. Antonio Teles, Nisa, Wanessa, Bárbara, Amélia, cuidam de animar as “estrelas do amanhã”, e tem gente que não consegue tirar os olhos do retrovisor.

PS. Três anos escrevo este blog, mas só comecei a contar as visitas nno dia 29 de abril deste ano. Hoje recebi relatório que aponta em uma dezena de milhar os leitores. Obrigado a todos e a cada pessoa que me faz uma visita.

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