quinta-feira, agosto 06, 2009

Sabedoria paraguaia:O Brasil aceita tudo

“O Brasil aceita tudo.” Esta bela frase, tornada pública em matéria jornalística no dia 5 de agosto, foi dita por um paraguaio que ensinava como utilizar, no Brasil, documentos forjados no Paraguai, aceitos por brasileiros. Um claro ato de não observância das leis locais e internacionais. Mas ele fazia isso com tranqüilidade, pois, vendia facilmente carros a brasileiros que aceitam falsificar documentos de residência para justificar a compra de automóveis no país vizinho. Os documentos forjados no Paraguai devem ser usados no Brasil, e isso está sendo feito pois “o Brasil aceita tudo” , como diz o sábio paraguaio que assiste o Brasil aceitar todas as exigências feitas pelo presidente Lugo.

Assim parece pensar grande parte dos brasileiros. Em reportagem esportiva, após a desclassificação de cinco atletas brasileiros por uso de substância não permitida, o repórter perguntou se, tendo o técnico assumido que foi dele a decisão de orientar os atletas a usarem a substância, não seria possível diminuir a pena dos atletas. Bem que se poderia dar um jeitinho, e fazer de contas que os atletas não seriam responsáveis pelo que põem dentro de seus corpos. A pergunta do repórter mostra que, talvez o paraguaio tenha razão. “O Brasil aceita tudo”. O Brasil aceita que uma pessoa possa dizer publicamente que não conhece o seu afilhado, mesmo que uma fotografia o mostre, no dia do casamento, ao lado do afilhado. O Brasil aceita tudo.

Durante a ditadura militar, compreendendo que os eleitores, proibidos de votarem para os cargos de governadores de seus estados, estavam votando sistematicamente em pessoas que, no Senado, fariam oposição ao regime, o ditador Ernesto Geisel fechou o Congresso e veio com um “pacote de abril”, modificando a composição do Senado. Até então cada estado federativo escolhia dois senadores para formar a Casa Revisora Mas, com o objetivo de garantir a presença majoritária do regime e garantir a "governabilidade", foi criado o terceiro senador, este escolhido pelo ditador de plantão. Foi o que se chamou de “senador biônico”, aquele que é escolhido para cargo eletivo sem ter sido votado, sem sido a escolha do povo. Alguns anos depois a ditadura sucumbiu e foi convocada uma Assembléia Constituinte que fez a Constituição. Na nova Constituição, cidadã, como disse o deputado Ulisses Guimarães, manteve em três o número de senadores, ao invés de eliminar a cria da ditadura. E, para a eleição desses senadores foi posta a figura dos suplentes, que são sujeitos ocultos ou ocultados. Esses são eleitos com os votos daqueles, sem que os eleitores saibam quem são eles. Quase um terço dos atuais senadores chegaram ao posto sem terem sido eleitos, são suplentes.

Atualmente, tem uma comissão de Ética no Senado que está investigando o senador que disse não conhecer seu afilhado (mentiu) e esta comissão está sendo presidida por um senador que era suplente do suplente. Como dizia o sábio paraguaio: O Brasil aceita tudo.

2 comentários:

Anônimo disse...

"foi criado o terceiro senador, este escolhido pelo ditador de plantão"

Parte desta informação está incorreta. O cargo de terceiro senador de cada estado já existia. Após o fechamento do congresso, o pacote de abril tornou um biônico um dos cargos já existentes.

Já estava na constituição de 1946:

Art 60 - O Senado Federal, compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.

§ 1º - Cada Estado, e bem assim o Distrito Federal, elegerá três Senadores, .....

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao46.htm

Biu Vicente disse...

Está correto o esclarecimento, aliás eu já havia percebido essa incorreção mas não tive tgempo em retornar ao texto. Contudo, é a existência desses suplentes desconehcidos pelo eleitor que, penso, pode tornar vazia a prática eleitoral.
Obrigado pela contribuição.