terça-feira, julho 28, 2009

Pobreza

Uma das notícias da semana passada foi um conjunto de dados, uma pesquisa sobre a quantidade de jovens que serão assassinados nos próximos anos. È uma cifra acima dos vinte mil jovens mortos até o final da próxima década. Esses são índices positivos na luta contra a mortalidade infantil e tudo pode ser perdido na questão da sobrevivência de jovens até 19 anos. Bem, isto está de acordo com a proposta da Organização das Nações das Nações Unidas de fazer com que até 1015 seja reduzida a pobreza extrema na América Latina. Extrema pobreza significa quem vive com um dólar por dia. Há muitos brasileiros nessa situação e o estudo “Rumo ao objetivo de reduzir a pobreza na América Latina e no Caribe” apresentado pelo CEPAL, PNUD e IPEA, diz que “seis países continuariam a reduzir a incidência de pobreza extrema, mas a um ritmo muito lento”, entre eles está o Brasil, juntamente com a Costa Rica, El Salvador México e Nicarágua. Ao mesmo tempo estamos produzindo cada vez mais riqueza. O Brasil, por exemplo, espera estar entre as cinco maiores economias do mundo ao final da segunda década do século. Isso indica que continuará o processo de concentração de renda.

Podemos inferir que a pobreza continuará sendo combatida, principalmente com a concessão de bolsas que fazem crescer o consumo, mas que não garantem a melhoria efetiva da qualidade de vida. Pessoas continuarão a viver próximas a esgotos abertos, sem água tratada, sem acesso real aos benefícios criados pela civilização tecnológica. O que essas pessoas recebem, e algumas continuarão a receber, são os efeitos negativos, globalizados com maior facilidade. Para que esse quadro realmente mude, não é necessário o Estado total, pois se assim o fosse, as sociedades do antigo império soviético teriam realizado esse sonho. Mas é necessário que o Estado esteja presente, crie e direcione projetos para que a sociedade siga nessa direção desejada. Para isso carecemos de políticos que tenham uma visão para além dos seus interesses particulares e dos interesses de seus partidos; precisamos de políticos e partidos que sejam capazes de pensar além de apenas permanecerem no poder para seus enriquecimentos comprovados com a construção de castelos, mansões, além da compra de ilhas para seus repousos pessoais.

Mas com certeza algumas coisas já mudaram. No século XIX ocorreu, em Salvador, BA, a chamada Revolta da Chinela, que foi um protesto contra a escassez de farinha e carne para a alimentação dos pobres. Foi uma reação dos mais pobres contra a política governamental que não garantia os produtos para a alimentação básica dos mais pobres, esses que andavam de chinelas, pois o uso de sapato sempre foi apanágio dos que podiam pagar tal parte do vestuário. Depois veio o tamanco, influência que nos chega com a grande imigração do final daquele século, para acompanhar os pés dos pobres. O tamanco foi muito usado até meados dos anos sessenta do século passado, e hoje é utilizado para fazer o maravilhoso trupé do Coco Raízes de Arcoverde. Então foi se estabelecendo, cinqüenta anos depois da chegada dos japoneses, a sua sandália, feita de borracha, e uma das marcas tomou conta do mercado: as havaianas. Mas era utensílio das camadas mais pobres da população. Lembro-me que Enéas Álvares, quando trabalhava no Instituto Nacional do Cinema e eu ia ao seu escritório pegar filmes para apresentar no Alto do Refúgio, em Nova Descoberta, me perguntava por que eu tinha que ir ao seu escritório de sandália havaiana. Hoje, essas havaianas fazem sucesso no mundo globalizado, com famosos as usando nos pés e nas mãos. Entretanto, ainda escutei recentemente: por que é que o senhor está de havaiana?

E o que eu vejo é que muitas sandálias havaianas descartadas ainda são reaproveitadas por aqueles que vivem com um dólar diário.

sábado, julho 25, 2009

Esperando a primavera

Estamos na última semana de julho, o inverno quase acabando nesta parte do país, ou seja, acabando o tempo das chuvas. Daqui a pouco, depois de agosto, chega a primavera, que é o tempo de novas coisas aparecerem, novas flores, tempo de alegria dos bichos e da natureza. Com alguma sorte, poderá ser o tempo de clarear as idéias do supremo dirigente e ele vir a entender que essa gradação de crimes é coisa de criminoso, de quem já cometeu tanto crime que só conta como crime quando o crime for muito grande. Crime pequeno não é crime, pensa o grande pensador já penso de tanta empáfia. Talvez esse não seja um crime, pois a empáfia chega com o poder, com o conhaque, com a falta de respeito aos outros. Mas, é bem difícil se importar em respeitar outros quando se percebe acima do bem e do mal. Esses trinta dias de agosto podem auxiliar a entender que os crimes, mesmo quando praticados por quem está além da “pessoa comum”, são sempre crimes. Sarney já uma vez, em passado “já esquecido na memória das nossas jovens gerações” foi absolvido e absorvido por um “presidente”, o Médici. E isso ocorreu quando ele chegou ao Senado pela primeira vez, quarenta anos atrás.
Esses tempos atuais são interessantes, eles nos pedem mais cautela, mais estudos, mais pesquisas e, simultaneamente esse nosso tempo quer tudo muito depressa e uma pressa tal que já não se pode mais viver o presente, simplesmente, há que se viver já, de imediato, o futuro. Parece que não há mais nada a fazer em relação ao presente, além de deixar-se envolver de tal maneira que não o percebamos, pois já estamos vivendo o que vai acontecer. Anuncia-se como realidade aquilo que ainda virá e, como já se vive não será mais necessário que venha, pois quando vier já se passou. Não se diz que algum governante irá colocar em ação um projeto que virá, caso seja concretizado, construir x milhões de casas. Se diz: governo constrói x milhões de casas até o ano y. O futuro foi roubado. Assim como roubam o passado. Tudo ocorre no presente. (Exceto as casas que ainda estão sendo planejadas, mas afirmadas como existentes. E porque não acreditar?) O que se perde é pouco, apenas não haverá a sensação do novo. Afinal você já pode comprar o carro 2010 antes que o ano 2009 tenha passado pouco mais de sua metade. Já não há mais este tempo. Ou não há mais tempo, pois tudo é presente. Como dizia Médici: “o futuro já chegou”. Talvez por isso todos estejam falando no futuro do pretérito. Eu gostaria de convidar.... seria interessante se o senhor pudesse vir... É mais elegante, e de bom tom, politicamente correto, falar sem dizer o que se quer, nenhuma afirmação presente, só a possibilidade de que já poderia ter acontecido, não precisa necessariamente acontecer. Melhor ainda é não deixar que se saiba o que se quer dizer – ou se queria dizer.
Será que eu deveria ter escrito este texto? de qualquer maneira, deveria (ou deverei?)pensar que não é um crime que me levaria à pena de morte.

segunda-feira, julho 20, 2009

Quarenta anos após a alunisagem

Pensei que deveria escrever um pouco a respeito da chegada do homem à lua, ou lembrar que naqueles idos eu julgava que o dinheiro gasto naquele investimento seria suficiente para solver o problema de fome, acabar com a miséria neste mundo. Assim, aquele empreendimento não incendiou a minha imaginação tanto quanto a minha indignação. Hoje sei que governantes e seus povos aceitam a manutenção da pobreza em troca de migalhas. Libertar a humanidade da fome apenas ocorrerá quando os humanos decidirem libertar-se das mesquinharias que os fazem acumular milhões. Talvez por isso tenha sido dito que “pobres sempre tereis”, pois é assim que queremos: sempre teremos pobres para fazer discursos, para distribuir esmolas, fazermo-nos parecer bons.

O homem chegou à lua no final dos anos sessenta após um esforço de uma geração, um esforço político, econômico, social. A mesma década que os foguetes produzidos pelos homens os puseram no solo lunar, também viu o esgarçamento de valores sólidos, mantenedores de ordens superadas, simultaneamente à conquista dos direitos sociais da segunda e terceira geração. Faz quarenta e poucos anos que mataram os Kennedys: o que liderou o esforço escolar-científico para a conquista da lua, ao mesmo tempo em que escalava a guerra do Vietnan e, internamente, em seu país assumia a luta dos direitos civis, acompanhando o pastor Martin Luther King, também assassinado naquela década; e o outro Kennedy, que junto com o irmão imaginou a invasão malsucedida de Cuba, e que também foi assassinado, também naquela década. Foi, a sessenta dos século XX, uma década de muitas mortes, mas também os anos sessenta foram muito vivos, terminando com o festival de woodstock. A chegada à Lua deve ter alguma relação com o amor livre.

Interessante que Xiran Xue, que sofreu, quando criança, nos anos sessenta, os rigores da Revolução Cultural Chinesa, imposta por Mao-Tsé-Tung, nos diz, nas páginas amarelas da Veja, que essa idéia “liberdade”, “há trinta anos esse conceito não existia na China. Os atuais governantes não foram educados à luz desse conceito. O mesmo se pode dizer dos professores.” Pois esse conceito – liberdade – também, junto com outros, ainda é recente aqui em nossa pátria, também. Para muitos essa palavra, que significa também viver o ato de escolher, tem sido entendida apenas como “possibilidade de consumir” dentro dos limites peritidos por uma pequena quantia monetária que lhe é dada. Pode consumir, mas não de mudar a qualidade de sua vida, a qualidade de suas opções.

O passeio do Armstrong foi um passo pequeno para o homem e ele indica que ainda falta muito para o "grande passo da humanidade" que pode ser, também, ter um maior conhecimento do espaço sideral, mas é principalmente afastar a fome, a miséria e a desolação em vive mais da metade da população da terra, sem condições de exercer plenamente a sua liberdade. As condições materiais já estão dadas, só falta parar de pensar como Judas. Enquanto pensarmos como ele continuaremos a ouvir: “pobres sempre os tereis”, mas devemos saber que não é por vontade de nenhuma força exterior aos que, como Judas, sempre acham que o dinheiro pode ser “gasto” com os pobres. Judas sabia disso, e os seus seguidores também.

sábado, julho 18, 2009

Tem juventude se movimentando: Icapuí, Nazaré da Mata e Aliança

Esta semana recebi convite para participar nos dias 16 a 19 de julho, do VIII Acampamento Latino Americano de Juventude, em Icapuí, interior do Ceará. Em carta simples, com poucas palavras, o padre Antonio Lopes informa que esses jovens reunidos em Icapuí, chegados de muitos lugares da América Latina estão realizando uma homenagem a Dom Hélder Câmara, o qual costumava dizer que aos jovens não se deve mentir, que os jovens são capazes dos maiores heroísmos desde que se lhes ofereça motivos e lhes permita sonhar.

Sobre Icapúí, assim está escrito em uma página do IBGE: “As famílias de Icapuí são em média formadas por 6 pessoas, e em sua grande maioria, tem o pai pescador e a mãe artesã. São em geral religiosas, predominando o catolicismo e o protestantismo enquanto religiões. Nota-se que estas famílias possuem uma forte inclinação para a organização popular participando quase sempre de associações e grupos comunitários. As moradias do município detêm uma arquitetura própria, onde as casas mais antigas apresentam em sua grande maioria alpendres e são construídas de taipa. Eram assim construídas no passado (com alpendres dos quatro lados) para abrigar os viajantes e retirantes que faziam o trajeto por dentro do município. Porém, em tempos mais recentes, Icapuí tem ganho reconhecimento até mesmo fora das fronteiras nacionais devido a atenção e importância que se tem dado a educação e a saúde. Estas áreas têm sido discutidas junto com a população, em todas as comunidades, como direito a cidadania. Icapuí pode se regozijar atualmente por ter todas as suas crianças na escola.Outra preocupação do município é o nível de qualidade da educação, por isso é feito convênios com outros órgãos, que podem oferecer know how, como UFC, UECE, etc. Na área da saúde são 10 postos que prestam atendimento à população e um hospital municipal com plantão de 24 horas. Aqui a mortalidade infantil tem os menores índices: 12 por mil nascidos vivos”.

Lembro de Dom Hélder, em diversos momentos conversando com jovens, uma vez na quadra coberta do Colégio Salesiano, no Recife; outra vez em um encontro nacional de jovens em Lagoa Seca, Paraíba, e em diversas ocasiões outras. Uma das últimas, quando levei um grupo de estudantes de uma das minhas turmas, ele já aposentado. Então pude sentir a mesma ternura que eu mesmo senti quando tinha vinte anos, cada vez que dele me aproximava. Ainda dizia que os desafios são para serem vencidos pois a escuridão da noite anuncia a madrugada. Ouvi essa idéia de muitas maneiras ao longo de nossa luta pelo retorno do nosso país à liberdade democrática. Lamentavelmente não pude ir a Icapuí. O motivo, é que eu tinha um encontro marcado com jovens e crianças e velhos da Zona da Mata Norte de Pernambuco.

Pela manhã, no Engenho Santa Fé, nos reunimos para avaliar o que estamos construindo com o Programa Canavial, um programa de rádio que envolve rádios comunitárias de quatro cidades – Goiana, Nazaré da Mata, Vicência e Carpina – com o objetivo de apresentar e discutir as criações culturais da região. Todos os programas são produzidos e apresentados por jovens de cada cidade. Entre os jovens o cirandeiro João Limoeiro, que apresenta o Programa Canavial na cidade do Carpina. É um grupo heterogêneo e comprometido com os valores culturais do povo brasileiro. Todos envolvidos com Pontos de Cultura de suas cidades. Também estávamos celebrando a conquista do Prêmio Mídia Livre, do Ministério da Cultura. Todos estamos fazendo rádio e entre nós não há nenhum jornalista profissional, mas todos apaixonados pela nosso criatividade.

À tarde, fui ao Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança. Ali, cada sábado três jovens professoras brincam, estudam, recreiam com crianças e adolescentes. Neste sábado o grupo recebeu a visita dos mestres da cultura, mestres de Ciranda, Coco, Cavalo Marinho, Maracatu de Baque Solto. Os mestres contam histórias de suas vidas, tocam instrumentos, ensinam a dança, as canções. Eles são os guardiões da cultura, que na África recebem o nome de Griôs. Esses mestres farão estarão com essas crianças uma vez por mês, e estão se preparando para visitar escolas do município. Se não fui a Icapuí falar sobre Dom Hélder, creio que, sem mencionar Dom Hélder, estive a auxiliar fazer com que jovens cultivem a esperança da vida e renovei a minha vontade de viver, participando desses encontros em que, os jovens com menos idade e os jovens com mais idade e experiências, criam e recriam a cultura e a esperança de maneira simples, pequena porque, como dizia Dom Hélder “o mundo será melhor quando o menor acreditar no menor”, pois sempre podemos dar e receber e quando ocorre a doação ocorre a renovação e o mundo é criado mais uma vez. E assim tem sido e assim será.

Como uma Icapuí – Canoa Veloz – neste dia estive com jovens reunidos no Engenho Santa Fé – Nazaré da Mata, com os jovens reunidos no Ponto de Cultura Estrela de Ouro, e estive com os jovens do VIII Acampamento de Latino Americano de Juventude, realizado no interior do Ceará, no lugar chamado Icapuí.

terça-feira, julho 14, 2009

Trópicos, éticas e escapulários

É assim como um inverno, esse período de chuvas nessa parte do mundo: alguns locais ficam mais frios, outros mais molhados. As chuvas caíram, subiram como nunca no Amazonas, com um rio represando outro, e parte do Brasil notando que a solidariedade fica mais próxima do Trópico de Capricórnio que do Trópico de Câncer, ou melhor, da linha do Equador. Coisas essas que se aprendem ouvindo, vendo e lendo as notícias das águas que sobem e que fazem nascer solidariedades que ofertam notícias.

Também nisso podemos perceber certas questões éticas, certos comportamentos que, a proximidade de Capricórnio é cancerígena para a ética e seus conselhos que protegem certos habitantes, pouco normais, que vivem próximos do Trópico de Câncer. É que em Brasília foi definido, no Senado, uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que faz lembrar uma anedota em que um menino rico, que é dono do campo e tem uma bola de futebol, chama os vizinhos para jogar, mas sempre lembrando que ele é o dono do campo e da bola: ele tem que ganhar! Assim o governo está controlando a presidência e a relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito que vai examinar os atos do governo em relação à Petrobrás. Os vizinhos irão para o campo sabendo que o jogo não tem juiz, pois o juiz é o dono da bola. O melhor é que a próxima - a segunda - reunião dessa CPI ocorrerá no dia do aniversário do lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima. Entre tantas metáforas, teremos que esperar para saber qual o significado e resultado desta.

Ao mesmo tempo, o mais poderoso senador da República, Renan Calheiros, influí de tal maneira no Conselho de ética do Senado, montado às pressas depois de cinco meses, que por sua vontade ainda não se sabe quem vai ser o presidente do referido Conselho. Por questão ética, o senador Calheiros que já renunciou o cargo de presidente do senado para evitar cassação de seu mandato, só admite um verdadeiro aliado para dirigir, com o seu código de ética, o Conselho de ética do senado Federal. Por isso o Conselho de Ética não foi formalmente formado. (as maiúsculas e minúsculas nesse caso são metafóricas, não são erros de digitação nem do digitador)

Essas ações dos aliados do atual governo deram, à oposição, a idéia de que o governo não estava cumprindo os acordos necessários para que se pusesse em votação a Lei de Diretrizes Orçamentárias da União, essa que aprova o que o governo poderá gastar no ano seguinte, e por isso recusaram em votar o orçamento proposto pelo palácio. Resultado: atrasaram as férias dos senadores e deputados e esse pessoal junto pode trazer alguns problemas. Um deles já apareceu: na proposta da LDO, o executivo está propondo que sejam suspensas as ações de auditagem no próximo ano (eu acho que haverá eleição no próximo ano), assim o governo poderá agir sem o controle do Tribunal de Contas da União. Aí eu fico me perguntando qual a razão que o governo tem para pedir que não sejam auditados os seus atos. Para que servirá o Tribunal de contas da União, se ele não puder fazer auditagem das ações dos governantes? E por que se tem tanto medo de auditagem em um ano eleitoral? E eu pensei que pelo fato de o executivo indicar os membros do TCU isso lhe daria tranquilidade!!! Parece que nem nos amigos se pode confiar.

Nesta semana os católicos recifenses celebram a Flor do Carmelo, a Senhora do Carmo. Essa invocação da Mãe de Jesus dá a seus filhos um escapulário que lhes garante uma proteção especial no momento da morte e que ela, a Flor do Carmelo, por maiores que sejam os nossos pecados, nos livrará do fogo do inferno. Tomara que ela nos livre da ética que estão ensinando aos brasileiros em troca de renda sem trabalho, de peixe sem vara de pescar.

Vamos rezar cantando como Roberto Carlos: Nossa Senhora, me dê a mão, cuida de meu coração, da minha vida, do meu destino, cuida de nós!

sexta-feira, julho 10, 2009

Gente comum, o conselho de étca do curral e os olhos verdes

A semana passou e eu fiquei calado em meu canto para não comentar coisas da vida, dessa vida comum que vivemos e que fazemos o possível para não encontrar coisas da política, coisas do poder. Até mesmo li jornais e fui a consultórios médicos para verificar que tenho saúde aprovada por eles. Só não consegui escapar das manchetes de jornais que conspiram contra alguns anormais, ou seja, aqueles que não podem ser julgados como pessoas normais. Soubemos que não há possibilidade de uma “pessoa normal” vir a ser eleita para qualquer cargo político. Definitivamente a política parece ser algo que deva passar bem distante de simples operários. Deve ser por isso que o atual presidente do Senado, após cinco meses de sua posse, não teve condições de formar o Conselho de Ética daquela casa legislativa. Afinal, como o Senado estar prenhe de vestais não tem carência de um colegiado que venha a lembrar os seus membros dessas coisas que preocupam “as pessoas comuns”. Gente comum, um funcionário público comum, poderia até perder o emprego se esquecesse de informar que é possuidor de um castelo digno de ser invejado pelo príncipe que acordou a Branca de Neve, mas não um deputado que comprou segurança a si mesmo e pagou com o dinheiro das “pessoas normais, comuns”. Gente comum, como aquele ricaço americano que enganou uma pirâmide de gente comum com uma pirâmide financeira foi preso, algemado, julgado, condenado a duas vidas de prisão. Gente comum é algemada, mas os não comuns, esses “anormais” que são postos acima da lei, dificilmente serão tratados como gente comum.

Há uma complacência com os costumes dessaspessoas “não comuns”, há uma tolerância para com seus hábitos, e isso está ficando tão visível que The Economist já está entendendo que o presidente Luiz Inácio faz gestos tolerantes sempre que é de seu interesse, pouco se importando com os resultados futuros de sua leniência, seu apego à defesa dos amigos, em prejuízo da moral. Em defesa da “governabilidade” vemos a vitória da “lei de Gerson”, aquela que diz ser o certo “tirar vantagem de tudo”, especialmente da falta de vontade de alguns pensarem e agirem. O Congresso Nacional brasileiro está apostando na inércia, na incapacidade de agir, mesmo de re-agir dos cidadãos. Só isso explica que os deputados tenham aprovado uma lei eleitoral que permite que condenados na justiça possam ser candidatos a cargos eletivos e, se eleitos, tornarem-se possuidores de foro especial, escapando da justiça comum, essa que cuida das “pessoas comuns”.

Se o presidente da República se esforçasse um pouco para dizer que a prática de caixa dois é um erro; se o presidente não viesse defender salários e vantagens astronômicas para os deputados enquanto define que o salário mínimo não pode mais que R$530.00m no p´roximo anos. O DIEESE, criado nos tempo de Lula sindicalista, quando ainda estava próximo do se chama “homem comum”, diz que o salário mínimo para estar de acordo com o preceito constitucional deveria ser mais que R$2.200.00. Se o presidente usasse um pouco de sua capacidade de convencimento para indicar algumas práticas mais éticas, se não fosse tão sôfrego na defesa dos seus amigos pegos em erros, ele completaria com louvor a parte do seu governo que protege os que vivem mais miseravelmente neste país. Hoje se cria, se fortalece, a idéia de que a ética tem pouca importância, que o respeito às normas podem ser postas em lugar secundário, desde que se garanta a “governabilidade” e um ministro (José Múcio) dar a um governador (Eduardo Campos) o seu curral eleitoral. Esta vitória de José Múcio foi maior que a vitória de Jarbas Vasconcelos sobre Miguel Arraes, o avó do governador dos olhos verdes.

Vai ver que Lula pode ter alguma razão nessas coisas de cor dos olhos.

domingo, julho 05, 2009

Caminhos de culturas

Semana agradável com muitas emoções e novos conhecimentos, essa que terminou no sábado e, para esta que começa neste dia esperamos construir caminhos novos que também levem à novas situações de saber. Estive em São Paulo com o objetivo de encontrar artistas e suas artes. Ocorreu o lançamento do segundo edital Interações Estéticas do Ministério da Cultura. Foi uma oportunidade de saber e ver as interações construídas ao longo de 2008-2009, verificar como as diversas linguagens interagiram e artistas de diferentes classes sociais, de diferentes regiões do país, conviveram, criaram conjuntamente e expressaram sentimentos, realizaram projetos. As conversas foram de caráter agradável, substancial e frutífero, e envolveram todas as linguagens das artes brasileiras. E toda essa conversa envolvendo Pontos de Cultura de todo o território nacional. Uma festa mestiça, mulata, sincrética: uma festa brasileira.

Estive, nesse encontro, acompanhando o projeto KAOSNAVIAL que envolveu o Terno do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, do Ponto de Cultura Estrela de Ouro, a guitarra de Afonjah e Jorge Mautner, do Ponto de Cultura Kaos: uma Interação de ritmos, melodias, poemas e sons que explodiu no palco do espaço da FUNARTE, com maracatus, sambas, cirandas, regues e cocos. Esperamos que no mês de outubro venha o Cd resultante da interação das estéticas da Mata Norte, São Paulo e Rio de Janeiro.

Aproveitei a viagem para conhecer dois museus, o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca Paulista; o primeiro no prédio da Estação da Luz e o segundo construído na frente da Estação da Luz na passagem do século XIX para o XX. O deleite das palavras e o acompanhamento da história das línguas e, mais especificamente, da Língua Portuguesa me fez perder a noção do tempo – fiquei três horas – olhando e interagindo com a criatividade de todos que interagiram para fazer um museu tão vivo. Além disso estava em mostra as interações entre o Português e Francês. Entretanto tive uma surpresa. Ao longo de meus estudos de História do Brasil sempre ouvi falar e li nos livros sobre a existência de uma Língua Geral, que era o meio de comunicação nos tempos do Império Português, até os tempos do Marques do Pombal, e então fui surpreendido com essa língua ser alcunhada de Língua Geral Paulista, a qual tendo recebido as muitas influências, inclusive a dos nordestinos, teria gerado o Português falado no Brasil. Foi mais uma coisa que aprendi, mais uma maneira de contar a história do Brasil a partir de São Paulo, como a Europa conta a história do mundo a partir dela. Cada um com suas invenções. Não vou dizer que isso é política, mas é exercício de poder.

Como as palavras estão ligadas às imagens, pude ver o Mestre Caju, do Maracatu Beija Flor de Aliança cantando versos, a demonstrar a diversidade, a mestiçagem da cultura brasileira. E o Coco de Embolada de Caju e Castanha nos acompanha após ouvirmos e vermos, versos e textos de Camões, Augusto dos Anjos, Chico Buarque, Gregório Matos, Vinícius de Moraes, Graciliano Ramos e tantos outros mestres da língua e cultura.

Aconselha-se a todos que forem a São Paulo, não gastarem todo o tempo na Rua 23 de Março; tornem obrigatória uma viagem de metrô, com parada na Estação da Luz.

Hoje, neste domingo 5 de julho, foi inaugurado o Ponto de Cultura da Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco, na cidade de Aliança. ASMBS foi uma criação de três grandes Mestres: Hermenegildo, Manoel Salustiano e Severino Batista. Parabéns Manezinho Salustiano, parabéns a todos os 102 maracatus de Baque Solto de Pernambuco.