terça-feira, junho 02, 2009

Nação Cultural em São José do Belmonte

Enquanto almoçava hoje, conversava com um estudante que me perguntou sobre a minha participação no projeto Pernambuco Nação Cultural, ocorrido recentemente na cidade de São José do Belmonte, no que se convencionou chamar de Sertão central. Sua pergunta deveu-se ao fato de ele saber que fiz uma palestra naquele evento, logo após a minha passagem por Correntes e Garanhuns, que fica no Agreste Meridional. Ora, acho muito simpático esse projeto do governo do Estado de Pernambuco, pois ele reconhece que há uma diversidade cultural em Pernambuco e também dentro de cada uma das regiões e cidades.

Mais sedutor para mim, é verificar que está a ocorrer o reconhecimento da existência cultural dessas localidades, o reconhecimento do artista local, chamado para ser professor do seu ofício. Essa palavra “oficineiro” eles não aplicam para a “oficina” do professor Ariano Suassuna,- bela aula sobre poesia lírica, cômica e épica - como também não utilizaram para mencionar as palestras que foram dadas pelos convidados, eu entre eles. Mas todos fomos professores oficineiros, embora eu creia que será melhor chamar Zé de Mestre de Mestre, ou seja, professor, quando se falar de que ele está transmitindo o seu saber, o saber de sua região que é a sua cultura, parte da cultura universal.

Pois bem, foi uma grata experiência fazer uma palestra que foi ouvida e discutida, respeitosamente, por pessoas dos mais diferentes grupos sócio-econômicos da aprazível São José do Belmonte: havia no salão paroquial cerca de cento e vinte pessoas, estudantes do ensino básico, do ensino médio, professorandas, professores, jornalistas, comerciantes, donas de casa. O tema que me foi dado a debater, o Sebastianismo, é um tema de interesse local, pois ali ocorreu um momento dessa manifestação de desespero e fé. O melhor é que o tema era de conhecimento de todos, por isso procurei oferecer uma interpretação do fenômeno social, chamando atenção que era apenas mais uma interpretação, um pouco diferente daquela que põe toda a responsabilidade do massacre ocorrido na Pedra do Reino apenas aos camponeses, como se fosse possível ser camponês e perder a esperança em vida melhor sem a intervenção de um “rei obscuro”, sem que houvesse a presença de senhores de terras e de sonhos que impedem outros sonhos até o desespero. O Sebastianismo não é algo próprio dos pobres sem interferência dos ricos. Não existe Sebastião de Aviz derrotado em Alcácer Quiber sem Felipe II na Espanha.

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