domingo, maio 03, 2009

É tempo de ter nojo

Este texto foi publicado no Jornal Panorama da Mata Norte, da cidade de Goiana, PE, e foi publicado na úlitma quinzena de abril



Um amigo perguntou-me se eu havia lido, em uma das revistas semanais que circulam em todo o território nacional, a reportagem sobre a quantidade de dinheiro pago por nenhum trabalho no Senado Federal, local de trabalho de 81 senadores que tem para servir a cada um, cerca de 140 funcionários diretores: ou seja, quase dois funcionários para cada um dos senadores. Antes que eu respondesse a pergunta, uma pessoa que estava ao meu lado disse que começou a ler, mas, por puro nojo, não conseguiu terminar a leitura. Disse que teve vontade de vomitar lendo que há um expressivo número de funcionários com salários superiores a R$25.000.00 (vinte e cinco mil reais), salário maior que o recebido por um juiz do Supremo Tribunal Federal, o que é proibido pela Constituição. A ânsia de vômito que essa pessoa sentiu é porque essa aberração está ocorrendo em um lugar onde estão pessoas escolhidas para fazer leis que garantam a tranqüilidade e felicidade dos brasileiros. Realmente não há como não ficar enjoado ao saber que um ex-presidente da república é o principal fiador dessa nojeira e, o que é pior, ele é conselheiro do atual presidente da República.
Vez por outra, recordo que uma das frases mais repetidas, para criticar os abusos dos ditadores, veio da inteligência de Rui Barbosa. Era mais ou menos assim: “de tanto ver os desonestos vencerem na vida, um homem começa a ter vergonha de ser honesto”. É essa a sensação que os brasileiros comuns, que jamais serão escolhidos para ser candidatos a qualquer posto eletivo, sentem; e sabem que a desonestidade já alcançou a quase totalidade da sociedade, pois assistimos como sempre aparecem pessoas que furam fila, estudantes que copiam e colam “pesquisas”, professores que julgam trabalhos que não lêem, diretores de repartições que chegam atrasados, médicos e dentistas que nunca chegam, padres que rezam missa com medo de perder o trem, pastores que pensam que Deus é surdo, agentes do Estado que agem como gente sem honra e tantas coisas mais... Só o conjunto dessas ações desonestas é que pode explicar que não haja revolta quando sabemos de tantos ataques aos cofres públicos, por que ficamos sabendo que há uma média de cinco assassinatos por dia em nosso Estado e julguemos que isso é normal?
Nós nos acostumamos a ouvir sobre tantas falcatruas que começamos a pensar que o comum é roubar. O presidente faz um comentário racista, mas não há qualquer questionamento, pois não a vale a pena ser honestos e lutar para que se entenda que a cor da pele não explica a exploração. Quem vai dizer que quem está no poder comete erros? Não respeitamos os sinais de trânsitos e achamos que isso não é crime, da mesma maneira que nossos filhos acham engraçado tratar mal seus colegas e seus professores.
É tempo de termos nojo do que ocorre em nossos parlamentos, mas é tempo de começarmos a ter nojo de nosso comportamento que aceita toda essa nojeira.

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