sábado, abril 25, 2009

Brasil e o mês de abril

Nas celebrações do quinto centenário da chegada de Pedro Álvares Cabral na enseada de Porto Seguro, eu sugeri, e o Departamento de História da UFPE realizou um seminário sob o título BRASIL, UM PAÍS DE ABRIL. Vimos que além do abril cabralino, ocorreu o Abril dos Guararapes, o Abril da Pedro I, o Abril da Redentora. Como estamos em mais um abril, penso que deveríamos refletir sobre o Abril de Dante e Sarney.
Este vinte e cinco de abril, hoje, lembra que vinte e cinco anos passados, estava sendo votada a Emenda Constitucional apresentada pelo jovem deputado Dante de Oliveira, para que fosse restabelecida a eleição direta para presidente da República, hábito democrático que fora extirpado pelos ditadores que, em abril de 1964, tomaram o poder. Quando Dante de Oliveira apresentou a sua proposta de emenda Constitucional pouco acreditaram que ela teria curso. A partir das ruas, contudo, foi crescendo o movimento de apoio ao projeto do jovem deputado. Só tardiamente é o que os mais calejados foram aderindo ao movimento de Diretas Já, pensado por um jovem sonhador(como faz falta esse espécime!).
Foi um movimento que, no início parecia não existir, pois as emissoras de televisão não o noticiavam. Mas quando as multidões ocuparam as ruas, todos desejaram as Diretas Já. Dante apontara um dos caminhos para sairmos do inferno ditatorial. O Virgílio do jovem Dante foi Ulisses Guiimarães.
Entretanto, cavalos e capachos da ditadura se uniram para evitar que fosse aprovada a emenda. No passar do vinte e quatro para o vinte e cinco de abril de 1984, o general Cruz, em pose que lembrava Mussolini, ocupava os jardins do Congresso para pressionar os deputados e senadores. Lá dentro, “escondido em seu bigode de poodle assustado”, como diz Sebastião Nery, José Sarney, líder do governo do ditador João Batista Figueiredo, articulava e pressionava para que não houvesse quorum ou votos suficientes para impor uma derrota aos ditadores. O capacho dos ditadores impôs a derrota aos democratas. Sempre é necessário lembrar que o atual presidente do senado e do congresso foi capacho da ditadura.
O Vinte e Cinco de Abril de 1984 foi o dia em que José Sarney articulou para dar continuidade à ditadura que o fez poderoso, e desde então se mantém no poder. O que está acontecendo no congresso pode ser por conta da fidelidade canina dessa gente ao arbítrio e ao simulacro. Eles simulam serem democratas e conseguem hoje serem conselheiros daqueles que perseguiram. Foi assim que ocorreu a simulação de uma disputa entre Sarney, Andreazza e Maluf, e essa simulação levou Sarney a virar democrata ao lado de Tancredo Neves, que só nos últimos comícios da Direta Já veio a aparecer. Daí sabemos que houve eleição indireta, o capacho da ditadura foi eleito vice-presidente, o destinou castigou ao seu modo: Tancredo virou a viúva porcina da política, “o que foi sem nunca ter sido”; o capacho dos ditadores virou presidente. Na seqüência, Ulisses foi derrotado pelo “filhote da ditadura” de Alagoas, depois voou para as águas do Atlântico. Hoje Collor é ordenador das despesas do governo, no senado presidido por Sarney assessorado por Renan Calheiros que foi ministro de Collor de Melo.
E isso não brincadeira de Primeiro de Abril.

quinta-feira, abril 23, 2009

Pátria Madrasta Vil

Uma leitora deste blog entende que eu publique a redação de Clarice Zeitel. Leiam e comentem.

REDAÇÃO PREMIADA PELA UNESCO

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho,
concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre “Como vencer a pobreza e a desigualdade”.
A redação de Clarice intitulada ‘Pátria Madrasta Vil’ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.


PÁTRIA MADRASTA VIL

ClariceZeitel

Onde já se viu tanto excesso de falta?Abundância de inexistência. .. Exagero de escassez... Contraditórios?
Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada – de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.
Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome.
Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fato fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta – tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar(o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos...
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente...Ou como bicho?









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domingo, abril 19, 2009

Além do discurso, quem é excomungado?

Tenho visto, nos últimos dias, constantes reclamações pelo fato de Dom José Cardoso, arcebispo de Olinda e Recife, ter publicado a excomunhão de médicos e seus auxiliares na questão da menina do Agreste pernambucano. Para mim essa excomunhão é tão estranha quanto a excomunhão que foi dada a um torturador de um padre durante a ditadura militar terminada com a posse do auxiliar de ditadores, José Sarney. O torturador era espírita, portanto nada do que a Igreja Católica disse afetava ao torturador que não era católico.

Na época o bispo serviu de gozação por parte dos militares ditadores, como agora Dom José Cardoso é objeto de escárnio.

Se Dom Hélder tivesse determinado a excomunhão dos meus torturadores ou do meu carcereiro, que eram católicos, conforme me disseram enquanto cuidavam de mim, ou se tivesse posto fora da comunhão os que prenderam a outros, como Cajá, (que ficou famoso e deputado), os padres Dario e Pedro (foram expulsos do Brasil), se Dom Hélder tivesse excomungado aos que atiraram contra a residência do bispo, ele teria servido de pasto para abutres semelhantes aos que hoje olham para o bispo do Recife. Não os defendo nem os acuso, mas penso que as pessoas podiam se perguntar: os católicos que mataram o padre Henrique deveriam ter sido excomungados?

Evidente é que nesse mundinho que vivemos tudo é relativo, especialmente o interesse de alguns. Claro que o atual arcebispo de Olinda e Recife teria sido menos desafortunado se utilizasse os poucos neurônio que dispõe antes de agir maneira tão rápida e ineficaz a respeito do caso da menina grávida por cconta do abbuso sexual de seu padastro, embora isso o ajudasse a receber um prêmio em defesa da vida, que receberia independente dessa bobagem que cometida, pois ela é referente a um trabaho realziada pela pastoral da criança e não pela sua desastrada atuação no caso dessa desgraçada família.

Mas quero chamar atenção ao fato de que nem sempre os nossos desafetos estão totalmente errados e nem sempre nossas definições e as de nossos amigos estão totalmente corretas.

Nada mais tenho a dizer sobre isso, além de lembrar que excomunhão estabelecida por autoridade católica só tem valor para quem é católico. Assim como a determinação de prisão para criminosos é responsabilidade do Estado. A prisão é a forma laica de excomunhão, por isso é que os criminosos são presos e separados – seja dizer: excomungados – da sociedade.

Ladrões de galinhas são presos, são excomungados, pois fazem muito mal à sociedade; ladrões de colarinhos brancos freqüentam salas governamentais. Esses São úteis ao poder, jamais serão excomungados.

sábado, abril 18, 2009

Cartas de Dom Hélder e carta aos políticos

Aproveito o sábado chuvoso e com sol eventual para descansar. Assim, vi Caravaggio, li trecho de Sobre o Tempo, de Norbert Elias e três cartas circulares escritas por Dom Hélder durante o Concílio Vaticano II. Essas foram escritas já em 1965, período em que Dom Hélder já estava arcebispo de Olinda e Recife. As cartas remetem ao surgimento da Operação Esperança ao mesmo tempo em que ainda cuida de animar a Feira da Providência no Rio de Janeiro. Eram os primeiros passos da Operação Esperança e o contato com a realidade do Recife pôs o Dom mais sensível aos pobres e à justiça social. Assim as suas preocupações envolvem a discussão sobre a posição da Igreja diante os anticonceptivos, o debate sobre a política armamentista, o Terceiro Mundo, a Justiça como nome da paz, uma reflexão sobre o movimento de não violência de Martin Luther King.

Se nas primeiras cartas Dom Hélder pareceu-me extasiado diante as mudanças que ocorriam na liturgia católica e vivia o deslumbramento com o contato direto com a liturgia Oriental, nessas cartas sua alma parece-me voltada para pessoas como Gandhi, King, pois eles apresentam um modelo para a caminhada que ele prevê para si nos anos seguintes. A busca da paz, a construção da justiça através da não violenta. Dom Hélder está estudando profundamente o movimento de Luther King, escreve para ele, solicita a sua presença no Recife, lamenta não tê-lo encontrado quando esteve no EUA por ter sido o Dr. King preso no dia anterior ao encontro, e transcreve partes do livro de Luther King. Dom Hélder pensa a Operação Esperança como sendo o movimento de não violência a partir de sua arquidiocese.

Terei mais alimento na leitura das próximas cartas, mas as que li hoje mostraram-me que preciso retomar certos exercícios para melhorar o meu comportamento.

Enquanto isso continuo achando que é necessário aumentar a pressão sobre os nossos congressistas para que eles se recordem de que são representantes do povo. Ainda espero saber que algum deputado pernambucano levante sua voz contra os abusos que agora chegam ao nosso conhecimento. Mesmo tempo usufruído dessas vantagens legais, mas imorais, ou terem silenciado diante delas, agora eles são obrigados a se pronunciarem. Sugiro que o deputado em quem votei na mais recente eleição – Paulo Rubem – e o que votei na eleição anterior – Ferro - , digam algo a respeito. Sugiro também que cada um exija de seu deputado uma declaração pública contra esse descalabro. Penso que posso até pedir que o Senador Marco Maciel, em quem não votei, mas a quem muito respeito, diga algo.

quarta-feira, abril 15, 2009

Feliz Páscoa

Ontem ocorreu o lançamento de seis volumes de belas cartas escritas por Com Hélder Câmara. Na leitura da primeira carta já podemos intuir da importância de ler o que escreveu esse Dom, ali, quando está relatando os primeiros momentos do Concílio, ele já nos apresenta o que virá em seguida. Uma inteligência, uma pessoa que entende o que se passa ao redor, alguém que nos aponta o que será feito enquanto organiza o seu tempo, não apenas o seu tempo pessoal, mas o de toda uma comunidade com a qual está conectada. Uma dádiva divina ter convivido com o DOM, especialmente no tempo em que ele realizou, com maior clareza possível a um homem, os desígnios de seu Deus. Todos os que puderem devem comprar e ler, os que não puderem comprar devem ler, e os mais abastados devem doar essa coleção a alguma biblioteca pública. As cartas do Dom são documentos históricos, são documentos de nossa história.
Assim, pensando no Dom da Vida, escrevo hoje para desejar aos cristãos e aos não cristãos, uma boa Páscoa, uma boa passagem para dias melhores, mais alegres, mais justos, mais felizes, e que isso aconteça diariamente. Que este seja um momento de fertilidade de nossa imaginação, de nossas vidas, em nossas ocupações. Que sejamos portadores dessa esperança que a idéia de Páscoa carrega: vida nova, vida nascente, vida permanente.
Que sejamos portadores do Dom da Vida. Assim seremos pascoais.

domingo, abril 05, 2009

Obras Completas de Dom Hélder

OBRAS COMPLETAS DE DOM HELDER

Lançamento de 6 volumes das Obras Completas de Dom Helder, editados pela CEPE, sendo 3 vol. das Circulares Conciliares (o Vol. I é reedição) e 3 vol. das Circulares Inter-conciliares.


DIA: 14 de Abril de 2009

Hora: 19h

Local: Arcádia/Paço Alfândega (último andar)
Recife Antigo

sábado, abril 04, 2009

Nãoe esquecer e lembrar a liberdade

Esta semana, quando assistimos tantas medidas sem medidas, tomadas pelo Congresso Nacional, o que faz alguns pensarem que é melhor viver sem ele, é tempo de recordar que, quarenta e cinco anos atrás, um grupo de brasileiros, conseguiu o apoio da maioria dos demais brasileiros e deram, início a um tempo sem congresso, ou com um Congresso que teve suas portas arrombadas e foi decapitado. Até mesmo alguns que foram notáveis por sua vida parlamentar, uniram-se a um grupo de funcionários públicos fardados e com a permissão de utilizar armas, e realizaram o golpe de 1964, dando início a uma ditadura que se prolongou até 1985. É lamentável que nosso congresso esteja atualmente controlado por alguns elementos que foram formados pela ditadura, que aprenderam a esconder as informações e as suas ações dos demais brasileiros, mas é melhor um congresso ruim que a gente possa criticar que congresso nenhum. Apesar de Sarney e seus filhotes, devemos defender o congresso, ao mesmo tempo em que devemos continuar a lutar para que ele melhore e se torne um modelo para os demais cidadãos.

Como muitos brasileiros, fui adolescente na ditadura, e sei como era difícil expressar pensamentos e até mesmo andar na rua com certos livros. Vi como parlamentares sérios eram respeitados e aclamados por sua coragem e, graças a eles, os ditadores e seus asseclas mataram menos do que desejaram. A coragem de Márcio Moreira Alves condenando a invasão da Universidade de Brasília, não deveria ser lembrada, como fez um jornal, a responsável pelo Ato Institucional de número 5, responsáveis foram os que silenciaram diante da prepotência, Márcio Moreira Alves teve a ousadia de chamar a nossa atenção, pois ele sempre soube que não foi eleito deputado para ficar discutindo mordomias para si e seus pares, como fazem certos exemplares do tipo de um ex-presidente da Câmara, lamentavelmente elogiado pelo presidente Lula. Foram muitos os bons deputados cassados pelos ditadores. Mas é necessário que continuemos a construir essa democracia. Como lembrou recentemente a Miriam Leitão, mais da metade da atual população brasileira nasceu após o golpe, mais de quarenta por cento nasceu depois do fim do governo do último ditador e, esses mais jovens devem aprender de gente como a Miriam Leitão, que foi presa pelo estado ditatorial brasileiro e, como eu, não pediu nenhuma indenização por ter cumprido sua função cidadã.
Lembrar que abril de 1964 teve início um difícil página da história brasileira é obrigação nossa, é nossa obrigação lembrar aos nossos jovens que muitos brasileiros lutaram para retomarmos o Estado de Direito, o Estado de Liberdade, que nesses últimos vinte anos estamos construindo uma sociedade democrática, (é certo que temos sofrido algumas decepções, mas isso não deve nos vencer) e que se este presente se deve ao que foi feito, o futuro será o que eles também assumirem de fazer.

Ah! neste sábado, dia 4 de abril, completo quarenta anos na profissão de professor.