terça-feira, dezembro 30, 2008

MONUMENTO AOS MIGRANTES - Parque Dona Lindu

Assim, neste final de ano, sem maiores cerimônias, pois isso já é um hábito dos nossos políticos, sempre serelepes em deixar seus nomes em obras construídas, com o dinheiro do povo, este quase nunca mencionado, o prefeito que deixa o cargo amanhã, inaugura uma pequena parte de uma obra monumental, dedicada à genitora do atual presidente da República. Esta foi uma obra polêmica. Parte da população que desejava ver o bairro da Boa Viagem com mais espaço verde, viu levantar-se um obra de concreto, pensada pelo arquiteto Oscar Niemayer. Saiu caro, pois o arquiteto fez gratuitamente projetos para algumas capitais de estados vizinhos. Mas o terreno, que era da aeronáutica, foi doado pelo governo federal com o objetivo explícito de homenagear a mãe do Presidente Lula. Tinha que ser construído e, hoje, ao menos uma parte dele, está sendo inaugurado pelos filhos da homenageada. Sabemos que isso não tem nada a ver com interesse de agradar a quem está no poder.

Uma das razões para a realização desse monumento é que ele é uma homenagem aos migrantes. Recife é uma cidade de mascates e de migrantes. Boa parte da atual população do Recife é filha de migrantes que, escorraçados pelas secas do século XX, desceram principalmente desde o Agreste Setentrional e Zona da Mata Norte, para formar a capital do Estado. A maior parte desses migrantes forma a população da periferia da Cidade. Onde não há grandes parques!!!

Os migrantes das periferias e das cidades da região metropolitana constroem, no dia a dia, transportando-se em péssimo sistema de transporte coletivo, a vida e a riqueza da cidade do Recife, recebendo salários aviltantes, como ocorreu com o pai do atual prefeito.

Ontem foi inaugurado, em ao frente do Aeroporto dos Guararapes, hoje dito Gilberto Freyre, um monumento a outro migrante, este vindo de Ceará e com grande participação na história da cidade e do estado de Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar. Em que pese ter tomado o lugar de um outro monumento, uma alegoria ao frevo, do escultor Abelardo da Hora, esta é uma justa homenagem a um dos construtores do Recife e Pernambuco modernos. Em tempo, a alegoria ao frevo foi, ou vai, para a Rua da Aurora.

O Recife tem vários monumentos a migrantes que saíram de Pernambuco para construir o Brasil em outras plagas, como é o caso do poeta Manuel Bandeira, perto do lugar de sua infância. Esses monumentos a migrantes que saem de Pernambuco devem ser visto como uma condenação ao sistema (ou aos responsáveis pelo sistema) que expulsa seus filhos que não têm terra para seus filhos plantarem, escolas onde seus filhos possam ser matriculados e receberem os ensinamentos necessários para serem empregados em fábricas. Mas o sistema não permitiu a criação de fábricas, não promoveu a Reforma Agrária e, por isso, entre outras razões, não teve emprego para a família do atual presidente, obrigando Dona Lindu a deixar o Agreste Meridional, não em direção do Recife, pois aqui nem estava o seu marido. Também, como negar?, os políticos responsáveis por Pernambuco jamais pensaram em criarem meios e condições capazes de estancar a migração de braços e cérebros pernambucanos especialmente para São Paulo. Conheço muitos que cansaram de procurar empregos no Recife e foram para o Sudeste e o Sul. Lá estão muitos que, como meus pais vieram da Mata Norte, e levantaram casas em Nova Descoberta, pagando foros a falsos proprietários. Muito desses migrantes não conseguiram reter seus filhos, pois não havia ocupação para eles. Foi assim que no final dos anos setenta, a família de “seu Mane da frente” foi toda para a periferia de São Paulo. Eu o encontrei em 1987, numa tarde de domingo no Parque São Pedro e fomos para a sua casa próximo ao Tieté.

O monumento ao migrante ficaria melhor em lugares freqüentados pelos descendentes dos migrantes que fizeram e fazem a cidade do Recife.

Embora Dona Lindu jamais tenha posto os pés nesta cidade, como a maior parte dos seus filhos, ela e eles sabem que esta cidade nem sempre reúne condições para atender as suas crianças, forçando-as a seguir o caminho seguido por ela, quando não ficam vivendo em favelas e sobrevivendo com a miséria e o bolsa família, ela e os migrants pobres que foram expulsos de Pernambuco merecem a homenagem e o mea culpa da elite que ganhou o munumento em umdos seus bairros.

Penso que esse monumento terá mais sentido se for pensado dessa maneira. Assim, quem sabe, quando for inaugurado “pra valer”, a gente possa ter como primeira peça teatral ali montada, o auto escrito pelo migrante João Cabral de Melo. Ele migrou do Recife para o Sudeste e escreveu Morte e Vida Severina para refletir a vida de quem desceu desde o Agreste Setentrional, com muitos outros que desceram os caminhos do Rio Capibaribe, para fazer nascer o Recife dos dias atuais.

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