sábado, setembro 27, 2008

Óbulo da viúva indeniza príncipes

Meus heróis morreram de overdose

Construída em uma poesia em que canta o seu retorno ao Brasil e celebra a Assembléia Nacional Constituinte, nesta frase Cazuza diz suas perplexidade em ver que pessoas de sua admiração estavam se acomodando no muro, nos centros e nos esquecimentos dos compromissos tomados nos dias de luta. “Meus heróis morreram de overdose”, uma overdose da materialidade que desmantelava, que dissolvolvia os ideais. O projeto que se havia proposto realizar estava sendo mercadejado, trocado por algumas moedas ou espaços por onde caminham os sons que alcançam nossos rádios e televisores. Foi muito difícil aceitar que os ideais fossem sendo transformados em mercadoria, como sói acontecer com tantos valores que se liquidificam diante nossos olhos. Tão difícil foi, que partido houve que expulsou alguns dos seus fundadores por terem eles aceitado assinar a carta constitucional. Mas o poder de corroer, de corromper que o tempo e o dinheiro possuem é quase sem medida, ou incomensurável, para citar uma palavra bem ao gosto de um que se elegeu "sem ódio e sem medo".

Entretanto, um filósofo antigo, fora de moda, escreveu que tudo que é sólido desmancha no ar. São frase que aprendemos, muitos repetem e nem mesmo se dão conta do significado, ainda que passem a maior parte dos seus dias repetindo-as, como as jaculatórias monásticas.

Mas tem outras frases como “onde está teu tesouro aí estará o teu coração”. Esta é uma dessas que aprendemos na infância e nem mesmo sabemos quem nos disse primeiro, se algum parente mais antigo – avó, avô, pai, mãe, tio, tia – ou o orientador espiritual da família, um padre ou pastor. Como disse e ensina Eduardo Hoornaert, o processo de evangelização na parte americana do Império Português, com poucos padres, foi feito mesmo pelos leigos, ou seja, avô, avó, mãe, pai, tia, tio, fossem eles escravos ou fossem eles senhores. Contavam essa frase que ouviram de algum padre que lera a Bíblia, e queria nos ensinar que o coração do justo procura sempre a Deus e o coração do idolatra está sempre próximo a alguma botija, banco, ou o que sirva para guardar ouro, dependendo do tempo histórico. Quase sempre, essa lição vinha acompanhada de uma outra frase: que se deve "buscar as riquezas que a cobiça e a ferrugem não corrompem". E as frase vinham acompanhadas de exemplos de homens, mulheres, jovens e até crianças que morriam por amor de Deus e não buscavam recompensa nem compensação nesta terra. Os que fazem o que fazem por amor de Deus já carregam consigo a recompensa. Assim, eu e muitos outros aprendemos e dar mais valor àquilo que não há dinheiro que pague, coisas como honra, ideal e outras quizilas que aprendemos a amar. Aliás, essa é outra frase que os pobres repetem muito – "não há dinheiro que pague" – quando comentam suas perdas espirituais. Imateriais, se diz hoje.

No século IV, em meio a tanta perseguição no Império Romano, com tantos relapsos que cederam aos encantos de baal e deixaram, parte de seus corações, próximo a algum posto no sistema, os concílios admitiram que se todos morressem por amor ao ideal não haveria como continuar o ideal. Pensamento pragmático. Como dizia o título de um filme americano estrelado por Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean – ultima participação de James Dean – Assim Caminha a humanidade.

Trocar os ideais por trinta moedas: assim fez Judas, ensinaram-nos os padres, ao sentir-se traído em seus projetos. Disseram que Judas não entendeu o que é a economia da salvação, essa sotereologia que nos garante a parusia, embora estivesse a serviço dela e dela fizesse parte. Se Judas era um caso perdido, por outro lado sempre existiram os Estevãos, as Cecílias, as Catarinas, os Franciscos, os Antonios Conselheiros. Esses depositaram suas graças no grande banco das indulgências.

Mas estamos em outros tempos e podemos, não perguntar, mas talvez sofismar, também. A questão é: Agora, depois que se lutou tanto, por amor ao povo e por a Deus, como dizia o Frei Tito, torturado até à morte, temos o direito de ficarmos surpresos com uma ação perpetrada contra o Estado brasileiro por um eminente Príncipe da Igreja, em busca de indenização por caausa de seus sofrimentos em celas da ditadura da ditadura militar. Estará ele trocando a glória de ser "confessor da fé" “por um punhado de dólares”?

Penso que essa se deve à senilidade desse homem que sempre esteve com o coração para o alto, como o seu nariz; talvez se deva a algum parente que deseje receber algo do povo. Não creio que essa excelência eclesiástica tenha esquecido que o Estado não existe por si e que a indenização será tirada dos impostos, pagos pelo povo que ele pretendeu tirar da exploração do faraó e levá-lo à Terra Prometida. Que os fariseus assim façam, que os fariseus esqueçam que o povo não os chamou para lutar por ele; o povo não organizou exércitos. Na verdade, em grande parte, o povo foi convocado pelos generais que hoje recebem estipêndios tirados dos cofre públicos, a gente pode até entender, mas se é para se comportar como os fariseus, qual é o sentido de tantas palavras e tantas alabações ao Deus dos Pobres?

Se se lutava contra os que explorava o povo de Javé, qual uma solitária no organismo da sociedade, a produção dos povos, como se pedir, agora, pedaços do óbulo da viúva?

É Overdose!

quinta-feira, setembro 25, 2008

Corrupção: banqueiro solto no Brasil e dinheiro preso na Inglaterra

A cada dia temos a oportunidade de ver as mais possíveis e estranhas realidades. Uma das mais recentes é que um grupo de pessoas e instituições, preocupado com o possível desaparecimento do livro por conta da internet, resolveu produzir um livro que custa 265 mil reais. Foi uma pequena tiragem de 33 exemplares, todos já totalmente vendida. O livro tem como tema a obra de Miguel Ângelo; um volume pesa apenas 24 quilos e sua confecção durou seis meses. é uma obra artesanal. Estão previstas edições de outras preciosidades que terão 99 exemplares. Assim alguém guardará a memória. Além de, como se imagina, vai aumentar o interesse por livros. Li na BBC.


Também na BBC li, e em outros lugares, que o Brasil continua entre os melhores países do mundo para corruptos e corruptores. É uma posição que se mantém nesse nível, nota 3,5. Atenção: quanto mais leniente com a currupçõa mais próximo de zero. Em 2001, neste mesmo painel, a nota do Brasil era 4,0. Baixamos um pouco, nos tornamos mais tolerantes com os corruptos nos últimos sete anos; Talvez, com mais alguns aloprados, alguns mensalões, alguns outros "caixa dois" (todo mundo em uma, disse uma autoridade para justificar o seu caixa dois partidário), um pequeno aumento de morosidade no judiciário, manutenção de fórum privilegiado e outras regalias ao pessoal do primeiro andar, não demora muito e a gente alcança a nota zero. "Os altos e persistentes níveis de corrupção e pobreza que assolam muitas das sociedades mundiais são o equivalente a um desastre humanitário e não podem ser tolerados".

Por outro lado, dos doze meses que trabalhamos por ano, ainda estamos pagando apenas 5 meses e alguns dias como imposto; ao mesmo tempo não nos é permitido receber bons serviços de saúde, educação e segurança. Nossos bairros cada vez parecem grandes corredores, com muros cada vez mais altos escondendo os jardins e as pessoas. Há solidões andando nas ruas dos bairros residenciais e solidões temerosas de saírem e andarem nas ruas. Criam leis para criminalizar pessoas que, na volta do trabalho param em algum bar por uma dose, enquanto não existe policiamento sério após as 16 horas. Após as 22 horas a responsabilidade é do atrevido que sai às ruas. Nossas escolas continuam a ser de tempo parcial, inclusive por que não há o que fazer fora das salas e dentro dos muros dos colégios, onde mal se consegue andar. Mas a aprovação é quase compulsória nas escolas. Quem sabe algum dia os secretários de educação irão perceber que educação é mais que carteiras, quadros, pincéis, professores! Sem áreas de lazer para a prática de esportes – simplesmente correr e gritar, já seria interessante para descarregar a agressividade dos jovens; necessitamos de teatros para que os jovens apresentem as sua criatividades várias, etc. Claro que não adianta apenas ter professores ou pagar um pouco melhor aos professores. Precisamos de professores motivados e com projetos de vida. Enquanto se mantiver essa política que envia para a sala de aulas pessoas sem outra motivação exceto o salário, vai ser difícil. Mas para que tenhamos professores com projetos capazes de motivar os seus alunos é necessário que vejamos uma mudança de postura nas autoridades e assistamos a penalização dos culpados.

Chega de passar a mãos em corruptos, chega de buscar um jeitinho para garantir a permanência dos amigos em postos quando eles estão sob suspeição. Aquele reitor da universidade de Brasília deveria ter se afastado do posto logo no dia em que foi feita a acusação para que a investigação não fosse comprometida. O mesmo deveriam ter feitos alguns ministros que assumiram parte da direção do país depois de 2001. Essas pessoas agarram-se aos cargos sob a complacência dos seus chefes. Deram exemplos ruins enquanto o seu chefe dizia que todos eram inocentes e dançavam e comiam pizza. Um escárnio e um exemplo, péssimo, para a sociedade.

Não adianta reclamar do resultado dos exames, deve-se mudar o comportamento.

Ah! li também que um juiz inglês mandou bloquear alguns milhões do banqueiro brasileiro Daniel Dantas, aquele mesmo que recebeu dois habeas corpus em uma semana - o que pode ser apresenttado como prova da não morosidade da justiça no Brasil - Pergunto-me se os advogados de Daniel Dantas terão, na Inglaterra, a mesma facilidade para defender os interesses do banqueiro de comportamento desviante.
Lá eles também têm corrupção, mas tenta, seriamente evitar que corruptos zombem dos honestos com tanta facilidade.

terça-feira, setembro 23, 2008

Esperanças no Recife

Embora já tenha escrito nesta manhã, depois de ter lido o Diário de Pernambuco e ter tido a alegria de ler o que escreveu Michele Assumpção, não me contenho em expressar a meus sentimentos. Vi que foi uma série de reportagens produzida pela equipe sobre como a periferia da cidade do Recife mantém e organiza a vida. Sem apelações, o texto de Michele apresenta um retrato que poucos entendem e, nem mesmo sabem que existe.

No mesmo jornal deste dia 23 de setembro, tem uma pequena nota em que o atual Deputado e candidato a vice-prefeito de Olinda, diz horrorizado que, nesses dias de campanha por votos, visitando áreas pobres, viu que meninos estavam caçando animais para a alimentação. Creio que horror do candidato nem mesmo lembrou ou fez relação com o tempo em que ele entrou na política defendendo presos políticos. Será que não se percebe que a situação está tão ruim, ou será que todos se tornaram seguidores e consumidores do Ouro de Tolo? Na Revista Veja desta semana está dito que um artista vendeu uma escultura de um touro com cascos e coroa de ouro puro. Mas o que Michele Assumpção mostra é como, na periferia da cidade do Recife, há pessoas jovens que depositam muita esperança no futuro; jovens que dedicam seu tempo a ensinar o que sabem, a organizar a sociedade em que vivem. Lá estão pessoas que moram na beira da maré e no Alto do Mandu. Em cada um há um projeto de vida que os lança para além de si mesmos, que os lança para o futuro e para os outros. Há, nas linhas escrita por Michele, um certo entusiasmo, uma alegria por perceber vida.

Michele é uma jornalista que se dedica ao conhecimento e a publicização daquilo e daquelas criações improváveis. O nome dessa jornalista está sempre associado à alma e criatividade popular. Ela consegue, como poucos, enxergar que Recife é sempre uma manhã de sol.

Aprendizes de feiticeiro e suas perguntas

Quero conversar um pouco sobre duas perguntas que me foram feitas durante a semana. A primeira foi «por que ter um blog»? e a outra foi sobre o que pensava a respeito do fato de um candidato a ser prefeito na cidade do Recife estar utilizando a, segundo dizem, a máquina administrativa a seu favor. Penso que só poderia dizer a resposta da segunda pergunta se eu tenho o instrumento que chamaram de blog. Como eu poderia publicar em algum jornal que o que este candidato está fazendo é o mesmo que o presidente de honra de seu partido estar a fazer?

Muito fácil acusar o discípulo, evitando tangenciar a figura do mestre, se este mestre tem o poder “da caneta”, como sempre mencionaram os políticos e os jornalistas do passado. Todos sabemos dos filtros que permitem a continuidade de certos comportamentos, filtros sociais e que, garantem a ascensão ou queda de alguns alguéns. A Roda da Fortuna não empurrada pelas mãos do acaso, mas pelas mãos dos criadores dos acasos. É necessária certa sabedoria para perceber a mudança dos tempos. Ora, os tempos, não o físico, porém os sociais pedem dos produtores de ventos fortes em passado recente que produzam, agora, a calmaria. Necessária se faz a cautela dos destemidos do passado, aconselha-se a não perder o que já se conseguiu, mesmo que o que se conseguiu não foi nem de perto o que se sonhava nos tempos da insatisfação. As grandes cuecas deixaram de ser apenas pano de fundo e protetoras de certos “documentos”, deixaram de ser simples proteção de partes da anatomia física para salvaguardar e esconder o resultado de novas posturas morais. E, parece ser óbvio, que o que se esconde e quem ficou calado diante dos diversos desvios, é até capaz de criticar o pequeno aprendiz de feiticeiro, mas jamais o feiticeiro maior. E depois, ficam, muitos analistas que se beneficiam do seu silêncio diante das impropriedades do feiticeiro, surpresos por nada tocar a figura do feiticeiro. E que eles, como aquele militante de um partido mais à esquerda do que o do candidato mencionado por ele, por não ter sido escolhido como o aprendiz principal, sabendo que depende do Feiticeiro, faz parte do mesmo jogo. E querem nos iludir com perguntas que, aparentemente são de oposição. Na verdade, é um discurso protetor, uma parede que protege o Feiticeiro que despacha tranqüilo na sala principal da casa. Depois as paredes irão reclamar que as pedras e ovos podres não alcançam aqueles que estão na sala sob a sua proteção. Uma reclamação que pode ser ouvida, e quem sabe, atendida por mais uma ação do feiticeiro, um pequeno recipiente com alguma porção mágica, algo que os alopre, algo que os faça sentir parte do grande jogo. Quem sabe, alguma recompensa pelos serviços prestados no passado, quando estavam juntos e ainda todos aprendiam os truques dos antigos feiticeiros.
Creio que esse espaço virtual, esse meu diário público me permite escrever essas coisas. Vou aprender um pouco mais e utilizar um pouco mais esse instrumento criado pelas feitiçarias humanas. Pena que os feiticeiros só muito lentamente permitem que os aprendizes livres alcancem e usem essa maravilha.

quinta-feira, setembro 18, 2008

O Estado do mínimo prejuízo aos bancos

Pois bem, não é que o Estado-Mínimo para atender a previdência, prover a saúde, a educação, a segurança e bem estar dos cidadãos deve ser mínimo só para essas tarefas? É exatamente isso. Quando é para garantir os direitos dos cidadãos mais pobres, vem a latumia a ensinar que o “mercado” é que deve ser respeitado e definir o preço da fatura. É assim com os salário: os trabalhadores devem se organizar e lutar para que tenham os valores de seus salários reajustados; por outro lado, os preços dos produtos são definidos unilateralmente pelo dito “mercado” que é controlado pelos donos das empresas que lutam para que os salários cresçam poucos e não diminuam os seus lucros.

Nós estamos vendo e experimentando essa situação desde os tempos em que Collor de Mello resolveu que o mercado é que deveria governar o Brasil. A política continuou com Fernando Henrique Cardoso que sedimentou essa situação do Estado-mínimo, retirando forças das instituições que garantiriam a segurança, a educação, a saúde e a velhice dos cidadãos. Cada um deve cuidar de si, diziam; o Estado não pode intervir na economia, os agentes econômicos e o “mercado” é que devem decidir os caminhos a serem trilhados; os cidadãos devem ser responsáveis por seus atos. Foi a cartilha neoliberal ensinada pela Margareth Tatcher e pelo Ronald Regan (não me contive e um dos cachorros da minha casa recebeu esse nome sugestivo). Muitos brasileiros foram estudar em Chicago e voltaram com a cartilha decorada. Fizeram tudo conforme o figurino. Assim como a “dama de ferro” inglesa quebrou a espinha dos sindicatos dos mineiros, o “príncipe dos sociólogos” quebrou a estrutura do sindicato dos petroleiros. Depois tudo foi cedendo e sendo cedido. O País foi privatizado. As empresas estatais foram vendidas por darem prejuízo e passaram a dar lucros. Os planos de saúde privados, como vampiros, passaram a controlar as doenças da população, cada vez mais privada dos serviços públicos de saúde; as universidades públicas tiveram planos para aposentadoria dos professores e funcionários, enquanto se favorecia o surgimento de universidades privadas, criadas por empresários da educação. Tudo tem que dar lucro: educação é um negócio e todo colégio uma empresa. Além disso, o governo não podia gastar dinheiro do Estado com essas bobagens de saúde e educação. Nunca há dinheiro para essas coisinhas. Mas quando alguns bancos começaram a ter problemas, o “príncipe dos sociólogos” e seus economistas inventaram o Proer, um programa para evitar que os cidadãos possuidores de bancos viessem a ter prejuízo. Uma das conseqüências do Proer é que hoje não concorrência entgre os bancos nos Brasil. Também foram tomadas iniciativas para garantir que os bancos estrangeiros seriam honrados por devores honrados, teve um candidato a presidente que foi aos Estados Unidos da América, e de lá veio com uma “carta aos brasileiros” com essa garantia. Apesar do titulo, a carta parece que foi escrita por assessores de banqueiros para os banqueiros. Tinha-se de acalmar o "mercado". O candidato foi eleito e está cumprindo o compromisso e todos estão muito felizes: os banqueiros por terem as suas bolsas garantidas, e os não banqueiros e sem condições de comprar o que comer com os salários, também recebem as suas bolsas. Os valores são diferentes, mas são valores. Tudo isso é possível graças à nossa criatividade: “o príncipe dos sociólogos” tem entre os seus desafetos os seus seguidores. Ele criou o Proer, o continuador de sua obra inventou um tal de superávit primário para que ficasse garantido o pagamento dos juros.

Agora somos um país que ri dos seus (nossos) professores. Pois não é que os alunos se tornaram professores de seus professores? Em uma visita ao Brasil, o senhor Bush disse que jamais imaginara que viria aprender algo com o Brasil, e ele disse isso se referindo ao programa de produção de etanol como energia automobilística e de tantos outros aplicativos. Essa semana vimos que os norte-americanos resolveram se curvar à inventividade brasileira, mais uma vez. Com a crise financeira se desenhando no mundo, a partir dos irresponsáveis do mercado imobiliário norte-americano, os Estados Unidos e países capitalistas defensores da liberalização do mercado e da ausência do Estado nas relações entre os agentes econômicos, criaram um Proer internacional. No mínimo, o Estado mínimo não pode deixar que os bancos quebrem. Afinal, eles são os donos do Estado. É o mínimo que o Esatdo mínimo pode fazer pelo "mercado", assim ele se acalma mais uma vez com o dinheiro dos contribuntes. Na verdade, devíamos cobrar royalties por essa nossa invenção econômico financeira. Prêmio Nobel de Economia para a equipe econômica de FHC, formada em Chicago.

Nossos índices melhoram a cada dia, nos dizem e juram as estatísticas do IBGE. Os juros que são pagos aos bancos auxiliam a nos fazer potência, embora nossas escolas não tenham os equipamentos necessários para nos alavancar (eita palavra querida por jornalistas econômicos!) ainda. Mas chegaremos lá. Já tem esgoto em 51% das casas brasileiras e 60% dos brasileiros são donos de suas casas, inclusive nas favelas. Não é uma glória? Parece que ninguém deve aos bancos as prestações da “casa própria”.
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terça-feira, setembro 16, 2008

A Esperança e as bolsas

A caminhada matinal me fez encontrar uma pessoa a colocar nas calçados retratos de um dos muitos interessados em prefeiturar a cidade, e de outros que desejam apenas a vereança. Por ordem de um juiz eleitoral, eles devem deixar espaço para os pedestres. Na verdade, pela maneira que os retratos são postos em exibição, podemos supor que o supervisor daquela pessoa está mais interessado em que os retratos sejam vistos pelos motoristas dos automóveis do que pela possível parada dos olhares dos pedestres. Interessante é que todos os personagens retratados expõem um belo sorriso. Alguém já disse que eles estão rindo dos eleitores. Não creio. Afinal, todos os que se dispõem a expor suas vidas no cuidado das coisas públicas, são pessoas altruístas, dedicadas à construção do bem comum e, jamais pensam em tirar vantagem pecuniária do exercício do cargo público. Assim eu penso, embora conheça muitos que fizeram ótimo pé-de-meia e garantem uma bela aposentadoria após oito ou doze anos de serviço público. Mas creio são exceções.

Vendo aqueles retratos lembrei-me de eleições passadas e, uma dessas lembranças veio a ser uma campanha para governador, aquela em que todos acreditávamos que a Esperança voltava, após os anos da ditadura. Naquela eleição, pusemos, mais uma vez, Miguel Arraes no Palácio das Princesas, de onde ele havia sido arrancado, mas não derrotado. Digo pusemos, pois naquela campanha tive alguma participação mais ostensiva.

Como a direita escalara um descendente de senhor de engenhos e terras da Mata Sul para se opor a Miguel Arraes. Escrevi vários textos tendo como mote o seguine: às vezes o velho é novo e o novo é velho. Entretanto sabemos que há velhos que são velhos e jovens que são jovens, jovens que não envelhecem e jovens que, por maldição histórica, sempre serão velhos. José Múcio era um jovem que continuava a tradição de umas coisas velhas do nosso estado. Hoje ele é um dos mais importantes ministros do presidente Luiz Inácio da Silva. Um jovem ministrando para um jovem.

Mas além daquele exercício cívico-literário e anônimo (mas foram bem reproduzidos pelo pessoal da campanha e distribuídos, especialmente nos comícios realizados nos bairros mais ricos), na época eu estava vice-diretor, professor de História da Igreja e um dos coordenadores de estudos do Instituto de Teologia do Recife. Alunos e professores não queriam ficar alheios ao clima de mudança, euforia e esperança que corria em Pernambuco e no Brasil. Era evidente que cada um, como cidadão podia participar da campanha política. Mas estávamos de arcebispo novo e, diferentemente do seu antecessor, Dom José Cardoso não permitia que pessoas ou instituições eclesiásticas assumissem compromisso público com qualquer dos candidatos. Todos entendíamos que o novo arcebispo não desejava que os católicos fossem orientados a votar em um candidato progressista, afinal ele havia sido escolhido para arcebispo de Olinda e Recife, entre outras tarefas, com o intuito de estancar as reflexões da teologia da Libertação. Os professores e alunos do ITER desejavam uma manifestação pública.

Contatos foram feitos e, uma noite, ocorreu uma reunião de Miguel Arraes com a direção do ITER, os Coordenadores de Estudo, professores e representantes de alunos. Foi uma conversa muito instrutiva para mim: aprendi que os médicos estavam se tornando uma força política por conta de seus contatos diretos com a população; aprendi que a Segurança Pública era uma área muito sensível e de difícil equação; entendi que a educação era uma prioridade no futuro governo e que Arraes continuava a focar os trabalhadores do campo. Depois desse encontro, uma reunião produziu um manifesto e eu fui escalado para levar pessoalmente o documento ao nosso candidato. Terminei por ser figurante de um dos guias eleitorais, entregando o tal manifesto àquele que era visto como a esperança e, ao mesmo tempo, um desejo de retomar o caminho que havia sido truncado em 1964.

Nunca saberemos realmente se a presença do Instituto de Teologia do Recife no guia eleitoral de Arraes auxiliou algo na sua eleição. Mas, penso que a lição de que devemos participar do processo democrático foi dada, mesmo que essa participação inclua riscos. O resultado da eleição foi favorável a Arraes, embora a sua eleição tenha causado desgosto a alguns dos aliados e, alguns anos depois, um deles se uniu a José Múcio para derrotar Arraes. Quanto ao Instituto de Teologia do Recife, algum tempo depois foi fechado por ordem romana aplicada pelo arcebispo. Deixei de ser vice-diretor do ITER, perdi o direito de ensinar História da Igreja em estabelecimentos eclesiásticos. Mas participei dessa e de outras campanhas eleitorais em que as pessoas acreditavam no que diziam e vibravam nas ruas. Depois vieram os marqueteiros e todos os candidatos passaram a ter o mesmo sorriso e a barba aparada e cabelos alinhados. Ganha-se em beleza perde-se em debate.

A esperança hoje são as “bolsas”: para alguns a eterna BM&F e para outros a que é dada nos bolsões, com os restos da BM&F. Todos os candidatos garantem que a bolsa vai continuar, a esperança é que a bolsa continue.

sexta-feira, setembro 12, 2008

A semana da Pátria

Esta foi uma semana que me pareceu quase típica. Digo assim pois o domingo, dia 7 de setembro eu não fui a nenhuma demonstração cívica: nem a oficial, com a presença das autoridades e do povo; nem a de protesto e advertência, conhecida como o Grito dos Excluídos, que vem sendo organizada desde que FHC era presidente e a atual administração do país era oposição e apoiava ações como essas da CNBB. Fiquei em casa, não como protesto, mas como um elogio à preguiça.

Mas, ficando em casa, dificilmente ficamos sem fazer nada. O ócio pode ser bastante produtivo e, naquele dia atendi a várias demandas atrasadas, depois de dormir. As poucas informações que as emissoras de televisão nos mandam, são realmente poucas, pois muitos dos jornalistas não correm mais em busca da notícia. Os donos dos jornais compram as notícias. As agências de notícias, sempre alguns, selecionam as notícias e as vendem aos jornais que, não por acaso são também donos dos canais de televisão, apesar da constituição (essa lei “arremendada” e chamada às falas sempre que sua aplicação prejudica alguém da elite – os antigos e os recém acomodados) proibir.

É salutar para nossa formação pessoal comprar os jornais domingueiros e compará-los. As manchetes são exercícios de dizer de forma diferente as mesmas notícias; as matérias são em sua maioria escritas fora do estado; os colunistas locais nunca discutem entre si e se esmeram em elogiar sempre algo ou alguém, mas raramente se encontra um debate. Pelos jornais percebemos o quanto os nossos escritores e filósofos pensam sempre a mesma coisa, supomos assim por conta da ausência de debate. Mas também pode ser que a fluidez do tempo e dos acontecimentos já não mais permita que sejam perdidas horas em busca de pensamentos. Por outro lado, já não se fabrica notícias desde a quinta feira, pois na tarde do sábado já estamos lendo as notícias do domingo, e elas foram impressas na sexta feira. Mas parece que isso é assim no mundo inteiro. Também ocorre com as revistas semanais que nós ouvimos antes de as comprarmos nas bancas ou as recebamos em casa. O domingo é uma continuação do sábado que só tem acontecimento fora de nosso mundo imediato, o Brasil.

Felizes aqueles que não deixaram crescer em suas casas locais como bibliotecas, ou lugar onde se guarde algum livro que possa ser acionado. Isso os impediria da glória de assistir a mediocridade em andamento nos programas televisivos. Evidentemente que a televisão pode trazer para dentro do lar o glorioso esporte da Fórmula Um, um esporte que garante o sucesso de muitos proctologistas, por conta das hérnias anais que podem ser provocadas pelo imenso esforço de ficar sentado ouvindo um dos maiores oráculos brasileiros.

Mas neste domingo do dia da independência, algumas pessoas dedicaram-se a ficar até tarde para ver um dos mais belos retratos da mediocridade atual, que é a legião de estrangeiros que formam a seleção brasileira de futebol, brilhantemente orientada pelo intangível e elegante Dunga. O empate-derrota nos garante o segundo lugar (acima da Argentina) neste momento da eliminatória, o que é quase uma ‘bolsa-classificação’, pois, se garante o momento atual, sem mudanças estruturais não há garantia de sucesso futuro.

Durante a semana participei de uma atividade promovida pelo Diretório Acadêmico de História, que pretendeu discutir relações interdisciplinaridades da história com outras ciências. Acho uma ótima idéia, mas, parece que, da mesma forma que químicos, físicos e matemáticos julgam que as humanas não são ciências (falam de ciências moles), os jovens do Diretório Acadêmico não convidaram nenhum estudioso ou cientista das físicas, químicas e matemáticas (dizem ciências duras) para pensarem alguma possível relação com a ciência histórica. Aqui fico ainda na esperança que nossos conceitos avancem um pouco mais, para que possamos entender - realmente entender, que, para além do populismo acadêmico, gente como Josué de Castro, médico de formação, deve ser considerado para uma conversa interdisciplinar. Essas incapacidades de atualizar o discurso interdisciplinar é que provocou o telefonema de uma universitária, escandalizada por saber que eu, professor de história estarei participando de um encontro a respeito de literatura. É nisso que dá esse negócio de ter que repetir o professor em tudo, caso haja o desejo de aprovação e ascensão na carreira acadêmica. E aí voltamos à questão do “bolsa” que tudo resolve e nos faz agora um país de classe média.

E dentro de 36 horas será domingo de novo. Tomara que meu filho traga meu neto para brincarmos na piscina plástica.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Pelópidas, o Prefeito do Recife

Pelópidas Silveira que morreu aos 93 anos de idade neste final de semana, foi prefeito da cidade do Recife logo após o término da ditadura denominada Estado Novo, foi o primeiro prefeito do Recife eleito após aquela ditadura e, foi o último prefeito da capital pernambucana antes da ditadura iniciada em 1964. A sua vida política, como militante, ocorreu ao longo da construção democrática, depois foi preso, teve seus direitos políticos cassados e, talvez desalentado, passou a ser um permanente conselheiro aos novos que se dispuseram a continuar parte de seu ideário. Entrementes, Pelópidas tem uma obra como professor na Universidade Federal de Pernambuco.

Quando minha família migrou da margem do Rio Capibaribe, em Carpina, para estabelecer-se em Nova Descoberta, antigo Beco da Tamancaria, aquela rua ainda não era calçada, mas o percurso que sai da Avenida Norte até a igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes, foi calçada por Pelópidas. A parte da rua onde está a minha casa teve que esperar um pouco mais e foi obra da administração Augusto Lucena. Mas o tempo e os estudos me levaram a conhecer Pelópidas através dos estudos e pesquisas.

Durante algum tempo fui estagiário no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano e, enquanto limpava e organizava documentos do governo do Estado, tomei algumas notas e transcrevei alguns documentos que interessavam à minha pesquisa sobre a arquidiocese de Olinda e Recife. Como católico, em meu tempo de infância ouvi falar de maneira pouco favorável a respeito de Pelópidas, especialmente um dos vigários de Nova Descoberta. Talvez eu quisesse compreender porque. Alguns dos documentos que copiei comentavam a eleição de Cid Sampaio que tinha, como companheiro de chapa, Pelópidas Silveira. Comecei a copiar o que podia e, algum tempo depois, dediquei-me a ler e refletir o que havia em minhas mãos. As reflexões levaram-me a entender que Pelópidas, quando foi prefeito na segunda metade da década de quarenta, estabeleceu a prática de garantir a venda de pescado para que a população católica pudesse cumprir suas práticas religiosas; verifiquei que ele estabeleceu a semana inglesa, realizando, de certa maneira, os anseios do Arcebispo Dom Miguel Valverde, para que fosse guardado o domingo como Dia do Senhor. Depois aprendi que a prefeitura do Recife, sob a administração de Pelópidas, concedeu um terreno, no bairro da Várzea, para que fosse construído o Seminário Menor Nossa Senhora da Conceição, local de início de preparação para a formação de sacerdotes. Mas, Dom Antonio de Almeida Moraes Junior não admitia que o Recife fosse administrado por uma coligação política formada por socialistas e comunistas e passou a fazer campanha contra a Frente, acusando Pelopidas de Comunista.

Pelópidas, organizador do Partido Socialista, foi um dos líderes dessas Frentes do Recife. Escolhido pelos alunos para ser o Paraninfo de uma das turmas do Colégio Arquidiocesano, estabelecido onde hoje estão prédios da UNICAP, ele foi notificado que não era uma pessoa bem vinda ao estabelecimento de ensino. Um dos diretores do Arquidiocesano era o padre Miguel Cavalcanti, aquele que veio a ser vigário na paróquia de Nova Descoberta e com quem mantive boa convivência até sua morte. O reacionarismo de Dom Antonio não o permitia enxergar as boas novidades, ele preferia evitar qualquer mudança que pusesse em risco a sua tradição mineira que ele confundia com a tradição da Igreja. Tal não acontecia com jovens intelectuais católicos que publicaram nota de apoio a Pelópidas.

Aquelas notas tornaram-se base para o meu doutorado e livro Entre o Tibre e o Capibaribe: limites da igreja progressista na arquidiocese de Olinda e Recife. O Dr. João Asfora, confrade no Instituto Histórico de Olinda, levou o livro a Pelópidas que, após o ler, quis conversar comigo. Asfora deu-me o número telefônico da residência do prefeito e conversamos por telefone. Comentou positivamente o livro, perguntou-me se haveria continuação de modo a debater, também, o pastoreio conservador do atual arcebispo. Não pudemos nos ver pessoalmente, conforme decidimos naquela conversa telefônica.

Comento aqui a emoção de ter conversado com alguém de minha admiração desde a minha infância e dele, que foi sujeito de tamanha importância para Pernambuco, conselheiro de tantos e ilustres personagens, ter gasto tempo para ler meus escritos e ainda dizer que foi dos melhores que ele havia lido recentemente.

A primeira obra sobre a primeira Frente do Recife parece ter sido escrita para ressaltar a necessidade de uma nova frente após a Ditadura, e em torno de Miguel Arraes. Assim, outras figuras foram postas em situação secundária. Novas leituras desses momentos históricos serão feitas e as contribuições mais permanentes e menos eleitorais aparecerão. Então veremos mais explicitado o papel de Pelópidas Silveira, guardião do pensamento livre.

sábado, setembro 06, 2008

WALDICK e FERNANDO: Artistas brasileiros

No quarto dia de setembro, como todos os dias de todos os ano, ocorreram mortes. Entretanto, duas mortes chamaram atenção. Logo cedo na madrugada ocorreu o passamento do cantor Waldick Soriano e, no começo da manhã recebemos a notícia da morte do ator Fernando Torres. Duas artes foram tocadas pela bruxa, e ela ganhou um cantor do povão e um ator mais conhecido da classe média.

Sei que está um pouco fora de moda usar expressões como essa – "classe social" – mas é que ela, além dos preconceitos e das semânticas, ela define melhor a sociedade quando a olhamos com o objetivo de fazer alguma análise para melhor conhecêla. Aliás, parece ser preconceituoso achar que não há classe social na sociedade em que existem classes e, consequentemente interesses conflitantes. Fico pensando na alegria do papa Leão XIII que era contra essa análise de sociedade baseada em classes com interesses que se contrapõem e estão em luta.

Mas voltemos a nos ocupar desses dois homens octogenários, Waldick Soriano e Fernando Torres; cada um foi, ao seu modo, retrato de uma parte da sociedade e, ao mesmo tempo, toda a sociedade viu-se neles e nas suas obras. Um era nordestino e foi mais ouvido pelas suas canções, nas emissoras de rádios e em apresentações nas mais diferentes cidades, desde o início da década de sessenta; ou outro, sudestino, foi primeiramente visto nos teatros do Rio de Janeiro, só mais tarde sendo conhcido pela população que possuía televisão após os anos setenta quando foi montada uma rede de televisão mais nacional, em extensão, que certas instituições nacionais. O primeiro mal concluiu cinco anos de escolaridade, e tornou-se escritor e autor de poesias que são repetidas por muitos, o outro, estudou até ser médico formado, mas se tornou um dos maiores atores do Brasil. Ambos amados e reverenciados pelos meios de comunicação social.


Chama atenção, nesses dois personagens da nossa cultura, o fato de que suas habilidades artísticas provocaram emoções e, enquanto o modo de apresentação das emoções em um, era considerado inferior, noutro, o seu modo de representação era motivo de orgulho, satisfação. As emoções são dos seres humanos que a vivenciam desde o lugar onde se encontram histórica e socialmente e lá fazem a sua história. Os diamantes são diamantes, ainda quando brutos, as emoções são emoções, ainda quando representadas cruamente.

Waldick, filho de uma família que o abandonou, criado no interior da Bahia, foi lavrador, garimpeiro, tropeiro, viveu as mais fortes emoções em sua juventude. E aprendeu a fazer canção das dores, suas e de seus companheiros. O primeiro sucesso foi na voz de Silvinho: Tu és o Maior amor da Minha Vida. Mas lembro que naquele período, o hoje bairro Nova Descoberta, cantava sempre Pobre do Pobre , que relatava o sofrimento de um homem que via seu amor ir ao altar com outro , um a quem ela não amava, porque, dizia ele "não tive o dinheiro para comprar a felicidade". Era o mesmo drama que fazia a classe média chorar, na mesma época, na voz de Antonio Prieto em La Novia, música tema do filme A Noiva, fenômeno de bilheteria em todas as classes sociais. Mas, se era chic chorar a dor de cotovelo de um espanhol, já era cafona a mesma dor vinda na voz e no jeito do povo brasileiro, em um bolerão ou mesmo samba canção. Outro grande sucesso de Waldick foi o pedido para que um amigo levasse uma Carta, para dizer A Paixão de Uma Homem e dizer "para aquela ingrata como está meu coração". Mais tarde veio o desabafo, cantado por todos, às claras ou na bebedeira envergonhada, dizendo que Eu não sou cachorro não. Era um desabafo para uma mulher, mas que foi assumido, mal assumido, como uma crítica social. Assim a Ditadura entendeu quando ele quis cantar Tortura de Amor, proibida numa época em que se torturava fisicamente alguns dos sonhadores brasileiros. Ainda hoje muita gente canta essa canção (hoje que a noite está calma, e mina alma esperava por ti....) sem saber que ela tem origem nos sentimentos de um ex-garimpeiro.

A propósito, José Sarney, conselheiro do atual presidente do Brasil, à época um dos premiados e responsáveis pelo sucesso da ditadura, recentemente negou que houvesse trtura no regime militar. Os tempos mudam e, para não poucos. Waldick Soriano vem se tornando um retrato de um Brasil, pouco glamoroso, mas carregado de emoções insatisfeitas, como muitas das necessidades básicas.

Em verdade. É apenas quando as necessidades básicas estão satisfeitas que os grupos e indivíduos humanos têm tempo para refletir melhor sobre as suas ações e sofisticar as maneiras de apresentar a beleza dos sentimentos de formas mais belas. Isso foi possível para o ator Fernando Torres que já chegou ao conhecimento dos telespectadores em sua maturidade de ator, depois de vários anos de teatro. Essa foi uma das vantagens da televisão, trazer para mais próximo atores como Fernando, sua mulher Fernanda Montenegro e sua filha Fernanda Torres. Personagens vividos nas novelas Dez vidas, Baila comigo e Laços de Famílias encantaram muitos que não podiam, nem podem ainda, ira aos teatros.

A morte desses dois artistas abre espaços para novos tradutores de sentimentos, embora, cada um a seu modo, tenha, criado formas próprias de tradução e comunicação com o seu povo, o povo brasileiro

quinta-feira, setembro 04, 2008

As Frentes do Recife

Participei, ontem, de banca acadêmica que aprovou o título de Mestre em História para Taciana Mendonça Santos, um texto resultante da pesquisa e reflexão sobre acontecimentos da política recifense e pernambucana entre os anos de 1955 e 1964. O título do seu trabalho já aponta o olhar de um historiador. “A(s) Frente(s) do Recife”.

Os três principais trabalhos que tratam desse tema (José Arlindo Soares, Roberto Aguiar e Antonio Lavareda) são de cunho sociológicos, e voltados para apreender os resultados das urnas, de maneira a justificar alianças políticas atuais (do tempo em que foram escritas) com alianças passadas. Assim eles conseguem ver apenas uma Frente, enquanto que Taciana Santos percebe que cada “Frente" exige alianças diferenciadas pois cada uma delas se faz em condições históricas específicas, ainda que se trate sempre de “alianças” políticas. Interessante, nota ela, que enquanto Pelópidas tem dificuldades em articular aliança com os setores de direita, Miguel Arraes faz esse trajeto com muita facilidade. A Vocação e a prática pessedista garantiu vitória tranqüilas ao mago vindo do Ararripe cearense.

Outro aspecto interessante da dissertação sobre as frentes do Recife, é a discussão feita sobre a criação e aplicação da lei que garantiu o retorno de eleições diretas para a capital pernambucana. Entretanto, ainda falta aprofundar as questões dessa história para as demais capitais, de modo a não criar mais um mito sobre Recife. O olhar do historiador é bem mais desmitologizador e deve ser mais praticado.

Penso que trabalhos posteriores irão confirmar a importância dos militantes comunistas na história política e social de Pernambuco, mormente do Recife, mas, creio, também irão demonstrar que as Frentes vitoriosas não o foram por conta dos comunistas, mas por conta da prática aliancista de setores inconformados da direita, bem casada com as orientações da "central" de decisões comunista. Pode-se verificar que as frentes vitoriosas de um aprendiz de Arraes, embora viesse a se tornar seu adversário (quase inimigo políticos), Jarbas Vasconcelos, sempre ocorreram pela direita. Pela esquerda ou só com os retalhos da esquerda, as alianças não são vitoriosas, como ocorre atualmente no Recife. Pode ser que venha a ser dito, em algum momento, que Recife é uma cidade cruel para todos, não apenas para os namoradores do fascismo, como Agamenom Magalhães. Os comunistas, como disse depois o professor Denis Carvalho, estão no centro do processo, mas é preciso ainda esclarecer se lá se encontram como principal protagonista, ou como peça que conservadores utilizam para mudar de maneira civilizada, de maneira ordeira, de modo satisfatório, sem acirramentos de ânimos, e, deposi da mudanças continuarem no poder. De certa maneira, ainda não explicitada, essa questão é posta pelas pesquisas de Taciana. Como ela disse, enquanto os outros estudiosos do tema parecia que estavam olhando os números das tabelas eleitorais, os seus olhos estavam mais voltados para o que diziam as tabelas que apontavam as letras, os partidos e, quando nas alianças não apreciam PSD, não havia vitória fácil para a Frente daquele ano, ou havia derrota.

Falta ainda estudar o comportamento das Frentes em relação às eleições estaduais e federeis, como bem frisou a nova mestra em História pela UFPE.
Parabéns Taciana.