segunda-feira, julho 07, 2008

Coisas de final de semana



É uma manhã clara em Brasília e, enquanto espero o momento de embarcar de volta para o Recife, penso um pouco no que ocorreu nesses últimos dias.


Na sexta feira estive no espaço da Menina Mulher, uma entidade que oferece assistências a adolescentes em situação de risco social; e lá conversamos um pouco sobre a relação entre as danças brasileiras de ascendências africanas e as religiões, especialmente certas orientações do cristianismo pentecostal que vê a presença do diabo em qualquer movimento. Essa demonização do mundo, esse esforço de dominar e controlar pelo uso do medo, é uma recorrência na maior parte das religiões, especialmente essas que se organizaram em igrejas. Essa busca da localização do mal na ação dos outros seres, parece-me, é fruto da vaidade que acompanha certos grupos humanos desde épocas remotas, a vaidade de achar-se proprietários da verdade, donos das divindades. Em nossa sociedade, tem crescido o número de pessoas que vive mais preocupada com a situação que poderá existir após a morte, enquanto se esquece das condições de exclusão, sofrimento, que tem sido a marcada existência de tantos jovens. Provoca dor quando se encontra com jovens tão certos de “verdades” que lhes foram repetidas tantas vezes, que fecham as portas de suas mentes para qualquer outra palavra que não seja a palavra de pessoas que se autodenominam representantes diretos de um deus, um deus que escolhe alguns para a salvação e alguns para a danação. Pessoas que pregam e vivem deuses excluidores semeiam sociedades excludentes. Como o Brasil tem sido uma sociedade excludente desde a sua formação inicial como Estado, ele é um bom lugar para esses pregadores de divindades excluidoras. Mas o bom daquela manhã e daquela tarde foi poder debater com meninas-mulheres e promover o confronto de idéias. Afinal, abrir caminhos de liberdade é permitir que as pessoas sejam informadas e se formem conversando.



Já o sábado foi de debate com estudantes de História do Brasil, na cidade de Goiana. Uma manhã também produtiva pelo animado debate. Gosto muito de conversar com professores que atuam no interior, espaços distantes das capitais. Lá descubro essas pessoas que, em situações bem mais difíceis, conseguem abrir suas mentes e seus corações para o conhecimento. Nem sempre esses professores tiveram acesso a bibliotecas e leram muitos livros, (Esse é um problema crônico em nossa sociedade excluidora: como se estuda sem acesso a livros nesse país!) mas estão desejosos de saber e trabalhar em sala de aulas. É interessante como sempre há professores e pessoas interessadas em serem professoras nos interiores do Brasil e recebendo salários de fazer vergonha a escravos; ao mesmo tempo, ainda que prefeituras ofereçam salários de R$ 7.000.00, não se consegue médicos brasileiros para atendimento aos brasileiros que não vivem nos grandes centros urbanos. Deve haver algum engano na pedagogia e nos objetivos do ensino médico.


Na noite do sábado já me encontrei em Brasília para acompanhar o Coco Popular de Aliança em sua apresentação no projeto RioPernambuco.com, que ocorreu no Espaço Cultural da Caixa Econômica, ao lado de Afonjá. Se foi bom ver homens e jovens da Mata Norte de Pernambuco afirmando-se como sujeitos de suas vidas para além da exclusão social dos canaviais, mais gratificante foi com eles visitar os espaços sociais e de representação política do país na manhã do domingo.





Na noite, juntamente com a apresentação do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, cantando e tocando ao lado e com Jorge Mautner, fizemos o lançamento do livro Maracatu Estrela de Ouro de Aliança: a saga de uma tradição, no mesmo espaço cultural, com o auditório lotado e com o público dançando em frente ao teatro ao final do espetáculo. O mesmo acontecera na véspera com Biu do Coco e Mestre Duda liderando uma ciranda.


Foi um excelente final e início de semana.






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