segunda-feira, junho 23, 2008

A batalha da Chã de Camará

Neste período da festa da colheita do milho, momento em que tradições geradas no Brasilo mais antigo, dessas tradições que, criadas ainda no período de dominação portuguesa, se renovam na criatividade das novas gerações dos tempos performáticvos e espetaculares, também é momento de refletir a expansão menos vista, a expansão da consciência de si e para si que ocorrem em pequenos setores sociais. Da mesma maneira que as tradições populares juninas são renovadas, as esperança dos mais pobres também se faz nova, distante dos que pretendem colocar a história nos limites dos seus projetos, relutando a compreender que a vida iniciada é vida que se recusa a ser preada.

Nesses tempos em que todas as movimentações de protesto ou de apoio às autoridades e suas políticas, surpreendeu-me o telefonema de um morador da Chã do Camará, no sábado 7 de junho, dizendo que não fosse, como faço cada sábado, no Ponto de Cultura do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança. A pessoa pediu que também avisasse às universitárias que, a cada sábado conversam e fazem artesanatos com as mulheres da vizinhança, brincam com as crianças e auxiliam na compreensão dos trabalhos escolares. Se tentássemos ir não conseguiríamos chegar à Chã de Camará. A PE 62 estava interditada desde a véspera. Nada mais disse.
Cumpri as orientações e fui ler os jornais. Em um deles estava escrito que a comunidade de Chã de Camará, havia interditado a referida rodovia depois que uma caminhonete, dessas que são compradas com cifras próximas a cem mil reais, passando a grande velocidade, atropelou, matou, uma senhora octogenária da vizinhança, não parou para dar assistência. Essa atitude de um desses guardadores de dinheiro e passam a vida tratando gente como gado, promoveu a ação das mulheres da comunidade. Só depois é que os homens da comunidade assumiram. "quando fomos dormir, de noite, os homens ficaram tomando conta."

A morte daquela mulher não incomodou o assassino motorizado e não molestaria a ninguém, pois a morte dos pobres a ninguém incomoda. Mas quando as mulheres carregaram toras de coqueiro, conseguiram pneus e obstruíram o trânsito na rodovia que faz a ligação entre muitas cidades, e os ônibus foram obrigados a parar e as kombis foram obrigadas a parar próximo ao trevo de Upatininga muitos foram incomodados. Vieram as autoridades para forçar as mulheres desobstruir a rodovia. Elas disseram que só sairiam quando fossem postos controladores de velocidade – as lombadas - para evitar novas mortes. Promessas foram feitas que, se elas desobstruíssem a rodovia eles iriam construir as lombadas. Disseram que elas estavam importunando a vida de muitas pessoas. As pessoas que foram obrigadas a abandonarem os carros e andarem a pé diziam que o que elas estavam fazendo não traria de volta a vida da mulher atropelada. Elas disseram que pretendiam evitar que outras caminhonetes tirassem outras vidas. A rodovia ficou interditada por mais de vinte e quatro horas. Não havia nenhum desses movimentos especializados em invadir espaços públicos. Foi um movimento espontâneo da comunidade que está crescendo e sentindo-se atemorizada por motoristas de automóveis que, a grande velocidade, ameaçam de morte os seres humanos que não possuem automóveis.

Quando fui a Chã de Camará, neste sábado, vi que as lombadas estavam postas. Conversei com a pessoa que me telefonara. Descobri que a notícia saiu no jornal porque a comunidade telefonara para os jornal; as rádio de Aliança, Goiana e Nazaré da Mata informaram sobre a ocorrência porque a comunidade telefonara para as rádios alertando à população para o que estava ocorrendo e que evitassem passar por aquele caminho enquanto não fosse construídas as lombadas requeridas pela população local. Interessante é que, tendo sido construídas as lombadas, a comunidade telefonou para as emissoras de rádio agradecendo o serviço que elas prestaram. Aquela pessoa que contou-me todas essas ocorrências ainda está estudando para terminar a escola fundamental, tem cerca de vinte e três anos e seu filho mais velho está com sete anos. Ela disse “se a gente não estiver organizado e fizer o que é necessário para a gente, a gente nunca vai ter nada porque eles só se preocupam com eles”. Disse essas palavras sorrindo a alegria de uma vitória inimaginável, por ela e pelas outras mulheres, poucos anos atrás. Uma cidadã se afirma quando age na produção de seu futuro e o futuro de sua comunidade.

e eu feliz com a vitória das mulheres na Batalha do Trevo da chã de Camará.

Em tempo: Sábado, dia 28 de junho, tem festa de São Pedro no Ponto de Cultura Estela de Ouro Estrela de Ouro. Chã de Camará, quilômetro 7 da rodovia PE62. Início às 19 horas.

Um comentário:

gerência disse...

oi professor,
mandei o trabalho p seu email no domingo,mas creio q nao chegou...
mandei novamente.

abracos,

michely paloma