segunda-feira, maio 12, 2008

Ciclones e céu estrelado

A semana passou com a velocidade de sempre, embora o conjunto de atividades realizadas nos dê a impressão que o tempo seja ser cada vez mais escasso. Nesse diapasão da vida moderna, do acúmulo de conhecimento de fatos, não dos fatos, pois esses sempre existiram, embora o ignorássemos, quase não conseguimos entender os acontecimentos. Enquanto um vendaval destruía vidas na antiga Birmânia, um ciclone atingia estados do sul do Brasil, um outro tipo de catástrofe atingiu professores e escolas formadoras de professores. Um concurso para selecionar novos docentes, talvez feito com maior rigor, com uma exigência grande para um exíguo período de tempo a ser utilizado para resposta, demonstrou que uma enormidade de candidatos não ultrapassou o ponto de corte na prova de língua portuguesa. Um clamor. De um lado grupos reclamando do pouco tempo para responder às questões, gente dizendo que as provas foram organizadas com o objetivo de desmoralizar a “classe” dos professores, que a imprensa se levantou contra a “classe” dos professores; de outro lado os organizadores demonstrando que se faltava professores nas escolas é porque não havia profissionais capacitados para assumir as funções de magistério. Assim continuará, o Estado de Pernambuco – que paga os salários mais baixos do país aos desavisados que pretendem ser professores - contratando estudantes por contrato temporário. Como desenvolver uma política pedagógica com professores que são substituídos a cada dois anos, é algo que só os responsáveis pela pedagogia e a didática no Estado de Pernambuco sabem. Este é o grande segredo!!!!!

Notamos que ficaram em silêncio profundo, as instituições que concederam diplomação e licença de ensino a quem não ultrapassa o ponto de corte – 6.0 – na prova de língua portuguesa. Há um grande silêncio em torno dessa questão. Em quase todos os cursos de graduação – ou todos – a nota mínima para a aprovação é 5.0. Exigir que alguém, para ensinar seja o candidato capaz de, em prova de valoração de 0 a 10, saiba 60%, é um absurdo, uma vez que as faculdades só exigem 50%.

Neste final semana estive na Chã de Camará, situada em Aliança, para o lançamento do livro Maracatu Estrela de Ouro de Aliança: a saga de uma tradição. Foi uma festa surpreendente. Não tivemos energia elétrica das 17 às 21 horas, o que nos deu a oportunidade de socializar à luz da lua e dos brilhos das estrelas embelezadoras da noite. Afinal as estrelas deviam estar presentes na festa da Estrela de Ouro.

A maioria dos presentes era gente do canavial, moradores dos povoados, caboclos e caboclas. Mas havia pessoas de Goiana, Condado, Nazaré da Mata, Tracunhaém. Recife, Olinda. Cada caboclo de lança, cada baiana, cada dama de paço, cada músico, o bandeirista, o rei a rainha, cada componente do Maracatu recebeu um exemplar o livro. Receberam em letras o que seus pais e eles mesmos escrevem com suor e transformam em alegria. Alegria deles próprios quando dançam e alegria espetacular para os têm o privilégio de vê-los dançar. Maior privilégio tive eu de com eles escrever a sua história e por à disposição deles e toda a sociedade, este livro. Isto feito no terreiro, no mesmo terreiro em que o Mestere Batista criou o Maracatu Estrela de Ouro. Mais ainda, lá estavam presentes pessoas que participaram da criação.

Sob a proteção das estrelas e na presença do Mestre Batista, e também com a presença de Rafael Aimberê, meu neto, dos meus filhos, genros e nora, tive uma das mais belas noites de minha vida, brincando em terreiro de homens livres, a liberdade da dança. Assim foi até às duas da madrugada, quando um orvalho com jeito de chuva fina nos mandou descansar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Prof. Biu, li os seus últimos artigos e quero, antes de tudo, parabenizá-lo pelo belíssimo trabalho em Aliança. Entre ciclones e céu estrelado, você fai fazendo a sua parte e vivendo intesamente a vida. O que me chamou a atenção, nesse último artigo, que tão bem fala das contradições da vida, foi a sua análise sobre o concurso para professor do nosso Estado. De fato, parece que há uma grande vontade política em, cada vez mais, desqualificar o trabalho do professor. As provas do concurso foram realmente exaustivas e incompatíveis com o prazo estabelecido. Como havia muitos textos, era impossível uma análise segura, em tempo tão ínfimo. Mas, apesar da torcida para que houvesse uma reprovação em massa, tenho a satisfação de dizer que muitos alunos e ex-alunos do CESVASF foram aprovados, inclusive, alunos de História e de Letras que ainda nem terminaram os cursos. Não temos ainda o número exato, mas já está sendo feito esse levantamento e, assim que tiver dados reais, eu lhe informo. Sei de uma aluna do 7º de Letras, Giselda, que obteve uma excelenta colocação, e um aluno de História que faz parte da equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Belém, que também foi muito bem colocado. Temos, ainda, vários alunos aprovados entre os concluintes dos cursos de Pós-Graduação. Acho que estamos quebrando as expectativas negativas em relação às Faculdades do interior. Mas isso não sai no jornal... Seria muito bom se a Secretaria de Educação de Pernambuco fizesse um levantammento dos profesores aprovados nos últimos concursos para profesor, descobrindo a Faculdade onde esses professores cursaram a licenciatura. Acho que o CESVASF teria uma boa posição. É assim: entre ciclones, secas, tempestades e céus estrelados, vamos fazendo a nossa parte.
Um grande abraço,
Dodora