segunda-feira, abril 28, 2008

Debate antigo e possibilidades novas

Entre os ricos acontecimentos da semana que passou a eleição de Fernando Lugo, para a presidência do Paraguai, chama tanta atenção quanto a querela sobre o desaparecimento do arroz para atender a volúpia da concentração de riquezas e distribuição da fome.

Alguns meses são passados desde que Fidel Castro alertava que haveria um confronto entre a necessidade de produzir combustível e a necessidade de produzir alimentos. Esse debate vem ocorrendo desde muito tempo como resultado da opção pelo tipo de sociedade que se quis construir. Embora todos saibamos que a sobrevivência dos humanos tem se devido basicamente por conta da sua capacidade de cooperação, sempre houve grupos que, ao tomar lugares de direção, optaram por modos de exclusão e cuidaram de concentrar para si e para os seus, o que melhor todos haviam produzido. Assim, fomos construindo sociedades que, embora farta, como a nossa – a América Latina produz mais do que pode consumir – a fome seja o apanágio principal desse continente. As fomes endêmicas que destroem as vidas dos africanos contemporâneos só se tornaram possível quando foram destruídas as formas de solidariedades tribais e as substituíram pelas disputas tribais a serviço de interesses estranhos às necessidades dos africanos. Não há muito segredo para a solução desses problemas que enfrentamos, a questão é que para fazê-lo deve-se mudar o projeto societário vigente e os seus valores individualistas, não cooperativos, bélicos, etc. A questão da fome é uma questão de humanidade e não de burocracia. Enquanto a sociedade estiver organizada para entender como normal conceder esmolas para uma parte com o resto que sobra de outra parte, a questão se manterá. Enquanto for cultivada a idéia de que um pente, uma propriedade tem mais valor que as pessoas, a fome continuará acontecendo. Enquanto se valorizar mais as relações de vantagem sobre os demais em detrimento da cooperação e do respeito, a disputa entre o combustível para o tanque do automóvel e o alimento necessário para as pessoas, o agro-negócio continuará a promover a riqueza do negócio da morte.

A eleição de Fernando Lugo servirá, entre outros aspectos, para re-visitar a história dos paraguaios e a trajetória de cristãos católicos na América. Cada acontecimento nos proporciona novas questões. O que significa que os paraguaios tenham eleito um homem que os desafiou a serem reconhecidos pela honestidade e não pelo contrabando, é uma das questões. Que tipo de sociedade propõe um homem que abandona o poder simbólico do episcopado católico para servir ao seu povo, é um outro tema que é posto. O Paraguai deverá ser, para os homens e mulheres brasileiras, mais que uma seleção pebolista azucrinadora do selecionado brasileiro. Fatos como a eleição de Fernando Lugo, mais que as bravatas de Hugo Chavez, são indicadores de novidades e novas possibilidades.

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