terça-feira, março 04, 2008

Westfália, Bush e o capitão Nascimento

Comecei hoje o semestre letivo propondo um debate sobre o conceito de Idade Moderna, mas parece que os estudantes preferiram ficar silentes ou esboçar, vez em quando um sorriso. Ao final a minha conversa, uma aula quase monologo castrista, pedi que escrevessem um texto sobre alguma das muitas idéias que foram postas para pensar. Em um momento da conversa disse que a decisão do presidente dos EUA, Bush, invadir o Iraque contra o posicionamento da ONU, em ato unilateral, significou um retrocesso de três séculos, pois ele violara disposições de convívio entre as nações desde o Tratado de Westfália, em meados do século XVII. Foi interessante ler, em um dos textos mais interessantes que recebi, uma percepção de não teria havido retrocesso, uma vez que as guerras e as invasões de fronteiras têm sido comuns desde então e, de certa maneira, aquele tratado jamais havia sido respeitado.

Ora, o ponto que foi apresentado pela aluna baseia-se em questões pontuais, enquanto eu debatia a questão de princípios. O que nós estávamos discutindo era que o mundo moderno, esse criado pela experiência européia desde meados do século XIV até parte do século XIX, define-se pela certeza dos princípios, a certeza das regras, da ciência. E o que Bush fez foi não respeitar o princípio de informar ao país as suas intenções bélicas. O mesmo fez Adolf Hitler em relação à Polônia e, mais recentemente, a Colômbia em relação ao território equatoriano. A questão é que os países, os Estados devem respeito a cada um, respeito às fronteiras e o jogo a ser jogado, mesmo um jogo de guerra, o oponente deve ser informado oficialmente. São princípios, são metas a serem alcançadas pelas nações, assim como é uma meta a honestidade dos homens e das mulheres. É algo a ser alcançado, algo desejado e desejável para que se viva e conviva. Sim, há um “retrocesso civilizacional” quando as regras comuns a todos são desprezadas por algum que se sinta superior aos demais. Quando regras de sociabilidade não são obedecidas especialmente por aqueles que devem preserva-las e cuidar pelo seu respeito, vive-se situação de anomia,uma vez que já não se sabe mais o que o certo e o errado, como diz a última frase do filme Tropa de Elite.

Esse filme é bem um retrato da situação vivida por muitos de nós, nesse emaranhado de incertezas, ou certeza pouco acertadas. Uma das cenas mais interessantes do filme é o debate sobre o pensamento de Foucault sobre o estado e a sociedade, especialmente quando o policial expõe seus argumentos e o silêncio severo se pôs sobre toda a turma, a ponto do professor-mediador indicar o final da aula. Da mesma maneira que o capitão Nascimento sabia que estava errado quando se decide pela caça ao bandido por conta de alcançar o seu objetivo pessoal, superando todos os limites de vida social, assim também fez o presidente Bush, não respeitando as convenções que foram sendo criadas ao tempo em que se construiu o mundo moderno.
Mas essas palavras, esses pensamentos estão aqui para ajudar-me a entender a mim, ao mundo moderno e as inquietações de meus alunos

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