segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Os carnavais do passado presentes

Nesta segunda feira de carnaval, em casa, dois pensamentos me assaltaram e, no final vejo que os dois confluem. Um deles é como nos metemos no carnaval de maneira diversas e, depois nos aproximamos dos mementos que a ele e nele chegamos, Leio as crônicas sobre os carnavais de antigamente e elas são repletas de melancolia e saudade. Estou escrevendo sobre o carnaval hoje porque brinco de maneira diversa da forma que o vivia no passado. No carnaval de 1977 eu estava com Tereza fazendo cordão de isolamento, um cordão humano, feito com os nossos corpos, protegendo a orquestra de Elefantes, caminhando aos passos do frevo em direção dos Quatro Cantos. Tereza estava grávida de cinco meses de nosso filho Ângelo. Mas sempre fomos amantes das duas grandes agremiações, por isso íamos com a orquestra da Pitombeira, que sempre teve uma população de foliões mais atrevidos e mais “tradicionais”. Sempre queríamos fazer parte daquele cordão de isolamento: poderíamos ouvir a música e ficar protegido com a proteção que dávamos. Foi um belo carnaval todos estávamos felizes, inclusive o nosso filho que ainda não sabíamos qual o sexo que teria. Em vários outros carnavais foi da mesma alegria. Sempre saí fantasiado de mim mesmo: sapato conga, meias, bermuda e camisa. Às vezes punha uma peruca. Anonimamente fazíamos nosso carnaval em Olinda. Na terça feira era o desfile na Avenida Getúlio Vargas e, nosso estacionamento de descanso era a casa de seu Paulo e Dona France, os pais de Tereza, ali na Cândido Pessoa.

Essas lembranças que chegaram enquanto me preparo para sair em direção à Guadalupe e Amparo é que me levaram ao pensamento do protagonismo dos anônimos. Em um dos recentes programas QUE HISTÓRIA É ESSA, na entrevista com o professor Marcus Carvalho eu ouvi dele uma expressão assim: “gosto de escrever a história dessas pessoas que não mudaram a história, como Lampião, pois o que ocorreu ocorreria independente de sua existência”. É assim o carnaval: ele existe independente de participação de um folião especificamente, mas só existe porque muitos anônimos assumem o papel de protagonista do carnaval e fazem a história do carnaval.

É verdade que quase ao há registro dos nomes dos músicos que tocaram nas orquestras de Elefantes e de Pitombeira naquele ano de 1977 (com quase certeza podemos dizer que não os há), mas sabemos que elas existiram, que produziram música; também não há registro de quantos foliões puseram seus corpos para proteger aquelas orquestras (como aliás ainda se faz nos dias de hoje), mas sabemos que esses cordões surgem “naturalmente” e são respeitados pelos foliões. O carnaval é isso, é a personalização coletiva dos anônimos, com as suas alegrias, seus desejos, seus sofrimentos, suas lembranças, suas saudades, como a minha, que agora vou para as ruas de Guadalupe e Amparo carregando a saudade do carnaval de 1977 e tudo que nele vivi.

2 comentários:

Diogo Barreto disse...

Biu, fiz um blog pra mim (novamente depois de anos) e coloquei um link pra ti lá ok?! Se der tempo, dá uma passadinha.

Gostei muito da postagem, fiz algo referente a seu comentário dentro de minha experiência vivida até hoje também, expondo um ponto de vista que tenho do carnaval.

Abraço!

Fabiano e Juliana disse...

Gostei do blog, parabéns. Boa postagem, depois vou ler as outras.