terça-feira, fevereiro 12, 2008

o dinheiro de plástico no absoluto e a fumaça de um charuto na democracia

A cada dia, que nos é dado viver, nos deparamos com a capacidade da vida nos surpreender. É que cada dia é uma surpresa, um conjunto de momentos únicos, com algo que lhe é específico, embora faça parte de uma continuidade que nos permite reconhecer o mundo, com suas formas, pessoas, luzes e cores.. O específico do cotidiano é a surpresa, a novidade permanente e que fará desse dia, tão parecido fisicamente com os já vividos, ser o único em toda a nossa existência. Guardar o que é específico de cada dia é o que nos enche a memória que, misturada com as ocorrências corriqueiras complementam a nossa existência e nos auxilia a dar significado a ela. Quando pensamos a história, pensamos sempre nesses momentos únicos, irrepetíveis, que mudam significativamente a perspectiva que se possuía do mundo. Em nossa vida os atos são irrepetíveis, mas nem todos modificam o curso de nossas vidas.

Quando ocorreu a eleição de Luiz Inácio da Silva muitos disseram que estávamos vivendo um momento histórico, o que tem se comprovado. A presença de Luiz Inácio da Silva criou possibilidades novas para os que formam o Brasil. Passaríamos a ser governados por segmentos da sociedade que sempre foram governados. Um migrante, um metalúrgico desatento, aposentado precocemente por acidente de trabalho no qual perdeu o mais importante dos dedos de uma mão, o mínimo, chegava ao poder, conduzido pelas esperanças de muitas gerações.

Esperava-se muito daquele líder sindical, forjado em muitas lutas, cursos de lideranças, construtor de muitas amizades e garantidor de uma nova moralidade na vida pública. Os grandes problemas daqueles que cultivam a áurea da santidade em vida é que, mais cedo ou mais tarde os fariseus começam a encontrar ações que o tornam tão fariseu quanto aos que ele criticava. Vez por outra isso acontece, não somente porque os fariseus procuram, mas porque encontram o procuram.

A maioria das pessoas vive com o seu salário. Se quiserem um pouco mais têm que mudar de emprego ou fazer um bico por fora, nas horas que deviam dedicar ao lazer. No Brasil instituiu-se, não de hoje, a “sinecura”. É aquele emprego que não exige trabalho.

Os tempos mudam e as coisas se aperfeiçoam, especialmente para os que se dedicam à difícil tarefa de “fazer política”. Foi instituído um salário para os políticos com o objetivo de abrir possibilidade para os não ricos poderem também participar da criação das leis que regem a sociedade. Uma República não pode ser apenas dos patrícios, como a de Roma antiga, considerando "patrício" apenas os que são donos das terras da pátria. Mas nossos políticos têm muita imaginação. Primeiro conseguiram um salário maior do que o da população; segundo estabeleceram que precisavam de uma roupa melhor e o salário não dava para comprar, estabeleceram um “auxílio paletó”; depois pensaram que precisavam de funcionários para os auxiliar a pensar, e foi-lhe concedidos funcionários públicos concursados; mas eles começaram a dizer que tinham que ter gente de confiança e criou-se uma “verba de gabinete” e a permissão de trazer para o serviço público quem fosse de sua confiança pessoal; depois criou-se uma verba “idenizatória” que é para pagar despesas com viagens. Evidentemente todos os demais trabalhadores têm que arcar com essas despesas utilizando o seu salário. Mais recentemente, desde 2001, criou-se um cartão de crédito “corporativo” (o Estado é uma corporação?) a ser usado para fazer frente a pequenas despesas do governo.

A novo moralizador parece que andou utilizando esse cartão “corporativo” para despesas que deveriam ser pagas com o cartão de crédito pessoal. Parece que o chefe tem mantido os mesmos hábitos de alguns dos seus ministros. Quando isso começou a ser discutido, foi celebrado um acordo para salvar o chefe, como se salvou Renan Calheiros. E, mais uma vez, nós ficaremos sem saber o que realmente tem sido feito com o nosso dinheiro. Tudo isso é porque, como nós sabemos, nas monarquias absolutas o que ocorre com a família real não é de interesse dos súditos.

Pelo menos parece que Bill Cliton pagou o charuto, embora tenha perdido a estagiária. Coisas da Democracia!!!

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