sábado, dezembro 22, 2007

Ética do natal brasileiro: entre a manjedoura e o saco de papai noel

Estamos em pleno período natalino, caminhando na direção do final do ano, momento que, para muito, é de reflexão, de avaliação das ações ocorridas ao longo do ano, na expectativa de encontrar aspectos positivos e negativos vivenciados. Embora as festividades natalinas devessem lembrar mais especificamente o nascimento de uma criança que, em sua vida provocou mudanças substanciais na vida de uma parte da humanidade, a cada ano este aspecto tem sido posto em local mais reservado, menos evidente. Ocorrem trocas de presentes, doações são feitas, não mais como resultado de um sentimento religioso. A cada ano parece sumir na memória a idéia da divindade da criança que deveria ser lembrada. O saco com presentes, carregados por um velhinho, é faz a alegria das pessoas, sonhadoras e consumidoras de delícias. Todos sonham com os presentes, com os objetos carregados pelo velhinho.

Entre os presentes deste ano, os brasileiros recebemos a informação que somos 184 milhões de pessoas, um número menor do que o esperado. Agora o crescimento populacional do Brasil é de 1,2% ao ano e as famílias são, em média, formadas por cerca de três pessoas. Dois dias antes soubemos que agora somos a sexta economia consumidora do mundo. Parte da população do Brasil tem mais aparelhos de telefonia celular, tem mais automóveis, tem mais televisores, enquanto parte da sociedade terá esgoto a céu aberto até meados do século e, o país ainda pode demorar mais de cem anos para garantir a educação média a todos os seus habitantes. Temos consumo de país rico e os eternos problemas de país pobre. Tem aumentado o consumo de bens industriais, mas temos um dos piores índices de escolaridade do continente, os nossos jovens estudam pouco, mas são mortos com a prontidão de um país em guerra. Entretanto cabe afirmar que temos feito alguns avanços na direção de escapar da mediocridade a que, alguns de nossos antepassados não muito distantes, quiseram nos condenar.

O grande sofrimento do ano foi a exposição absoluta da falta de vergonha dos políticos na tarefa de se autoabsolverem, absolvendo a tresloucada ética de um presidente do senado. Da mesma forma que em ano anterior o presidente da república absolveu seus colaboradores do crime de Caixa Dois partidário, com a desculpa de que todos fazem assim, este ano os senadores não se fizeram de rogado e continuaram na trilha apontada pelo honestíssimo presidente Luiz Inácio da Silva. A ética, como a religião, está se tornando um prato desses que se fazem em restaurante de auto serviço, ou self service. Mas o sofrimento ético, se depender do presidente da república e do presidente do PDT a falta de bom comportamento ético na administração pública de alto nível continuará. Interessante é que o Ministro do Trabalho ameaça processar a comissão de ética porque esta está exigindo que ele cumpra o Código de Conduta da Alta Administração Federal. Luppi é, ao mesmo tempo ministro e presidente de partido, o que é vedado pelo código de ética. O presidente da República deu posse ao ministro sabendo da irregularidade. É difícil acreditar que ele venha a demitir o ministro. Tudo é uma questão de ética. Uma ética para o consumo; de preferência consumo interno. Essa ética vem no saco do Papai Noel, mas não é encontrada entre as palhas de uma manjedoura na zona rural de Belém.

O menino que aniversaria no dia 25 de dezembro – segundo a tradição – nasceu na periferia e manteve tal comportamento que não mereceu estar entre os reis, embora hoje os reis o citem facilmente. Nascido em área rural, há quem festeje e consuma o aniversário daquele menino. É tudo uma questão de ética sob medida para a ocasião.

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