sexta-feira, dezembro 28, 2007

Sobre Aluísio Lorscheider

Estive pensando em escrever um texto sobre dom Aluísio, um dos mais importantes servidores da Igreja Católica e dos homens e mulheres que conoheci. Foram poucos os meus contatos com ele, mas sei da sua importância para cada um de nós. A sua ação foi enorme no mundo dos poderosos, embroa ele jamais tenha deixado de ser um humilde servo da humanidade. Recebi, por intermédio de Guilheermo, um amigo comum a mim a a Eduardo, este texto de Eduardo que o conheceu melhor e que conviveu mais aproximado de domAluísio. Assim, apenas ratificando o anoda morte de padre Henrique para 1969, o texto segue como foi escrito por meu amigo Edaurdo Hoornaert.


Dom Aloísio, um franciscano cardeal.

Eduardo Hoornaert.

Não é fácil ser ao mesmo tempo franciscano e cardeal. Desde cedo, Aloísio Lorscheider abraçou um ideal feito de emoção e fascínio por um caminho de vida diferente do padrão comum. O ideal é viver a vida como ‘irmão menor’ no meio dos homens e acreditar na utopia de uma fraternidade universal para além da humanidade, abraçando os animais ‘nossos irmãos’, as pedras e as estrelas. Ficar feliz na companhia de um Jesus que nasce num presépio, anda no meio do povo, sofre perseguição e morre na cruz, mas ressuscita e irradia uma luz que atravessa os séculos. Usufruir das coisas sem possuí-las e assim alcançar a liberdade, realizar a ‘perfeita alegria’ e tornar-se artista de Deus.
Eis o ideal franciscano que Aloísio Lorscheider viveu desde seus nove anos de vida. Mas suas potencialidades intelectuais e humanas o guindaram cedo ao posto de bispo, o que não deixa de ser estranho para um franciscano, pois a inspiração fundamental do episcopado não combina bem com o sonho franciscano. O bispo é o herdeiro do fiscal da sinagoga judaica. Ele não pode mostrar-se ‘menor’, tem de impor autoridade. Seu Jesus não anda no meio do povo, entra em procissão na catedral. Fica igualmente difícil a um bispo seguir o ideal de ‘usufruir sem possuir’, pois ele tem de administrar as propriedades da igreja.
Só relato brevemente uns episódios. Fiquei impressionado com a simplicidade com que ele se apresentou no Encontro Intereclesial das Comunidades de Base em Itaici (1981): ‘Eu sou da diocese de Dona Maria (coordenadora das Comunidades de Base de Fortaleza)’. Lembro-me de suas viagens à diocese-irmã de Rio Branco (Acre). Ele ficou um dia inteiro no meio de líderes das comunidades estudando o evangelho. Sabendo que eu estudava a história de Padre Ibiapina, manifestou vivo interesse pelo método inovador com que Ibiapina trabalhava com o povo. No longínquo ano de 1968, viajou a Recife para confortar Dom Helder Câmara depois do assassinato de padre Henrique pelas forças de repressão.
No meu entender, Aloísio Lorscheider foi antes de tudo um franciscano. O princípio franciscano do ‘usufruir sem possuir’ fez com que ele assumisse a função de cardeal sem propriamente ‘tomar posse’ do cardinalato. Dom Aloísio não era ‘cardinalício’, ele não ‘possuia’ o cardinalato como quem possui uma propriedade. Ele usufruía franciscanamente do cardinalato para espalhar idéias, fortalecer experiências na base da sociedade, soprar vida em brasas quase apagadas. Isso fez o charme de sua personalidade. As pessoas se sentiam bem na presença do franciscano cardeal que escolheu sentar-se lado a lado com animadores(as) de comunidade, desprovido de qualquer pretensão.

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