domingo, dezembro 16, 2007

O deputado narciso e pesamento livre

Esta semana ocorreu interessante encontro entre projetos políticos que utilizam as mazelas da população para glorificar-se e a crítica série e pertinente realizada por setores do pensamento acadêmico.

Alguns costumam dizer que a universidade não se relaciona com a sociedade, o que é verdade em muitos casos, contudo, não se pode negar que alguns acadêmicos estão, em suas pesquisas, intimamente ligadas com as encruzilhadas que atormentam os cidadãos por conta de políticas públicas anunciadas às pressas e apontadas como resultados quando ainda estão no papel. Um desses acadêmicos é o professor Jorge Zaverucha. Quando acadêmicos participam, com seriedade de debates, apontando soluções que surgem de suas pesquisas, e quando essas sugestões não coincidem com os desejos dos governantes, é comum que essas autoridades tratem de afastar o pensamento acadêmico e livre. Alguns políticos querem sempre a confirmação de seus projetos e esperam que os cientistas confirmem os seus planos. Esse ranço autoritário, comum em certas repúblicas que se diziam socialistas, também é encontrado nas terras dominadas pelo cultivo da monocultura da cana de açúcar. Monocultores agrícolas também desejam a monocultura do pensamento. É dessa maneira que oligarquias têm se perpetuado, muitas vezes com o serviço subserviente de acadêmicos que não possuem a envergadura do professor Jorge Zaverucha.

Recordo-me ter sido chamado para assessorar um encontro de educadores, no governo anterior ao atual. Quando, em um grupo de estudo, tive a oportunidade de dizer que havia um erro naquele projeto de educação desenvolvido naquele momento, fui afastado dos trabalhos apara atender ao pedido de um gerente de um dos DERES. Hoje nós estamos vendo o resultado da política educacional desenvolvida nos últimos dez ou vinte anos. Os jornais informam que não há trabalhadores educados o suficiente para atender às demandas dos projetos industriais de Suape. Agora todos sabemos que a grande política educacional das últimas décadas gerou os mais vergonhosos números e a a mais triste realidade educacional do Brasil e de Pernambuco. Entretanto, o interesse político se sobrepôs à análise científica. O mesmo tem ocorrido noutros debates, como esse sobre a segurança pública. Políticos encarregados de defender a qualquer custo projetos governamentais ou partidários, terminam por afrontar a realidade.

Todos nós sabemos e observamos, a cada eleição, como os políticos aceitam as pesquisas e análises, apenas quando essas coincidem com os seus desejos. Não é sem motivo que não são alcançadas as metas que, efetivamente, poderiam trazer melhores condições para a população.

Um deputado acusa o professor Zaverucha de ter sido comprado pela oposição. Depois do que temos assistido nos recentes debates nos diversos parlamentos, municipais, estaduais e nacional, até entendemos esse deputado: ele está querendo diminuir a atividade de um intelectual sério, julgando-o como julga os seus companheiros de trabalho. Como diz um poeta: Narciso acha feio o que não é espelho.

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