domingo, dezembro 30, 2007

A Casa de Xambá continua inventando o Brasil

Restando poucos dias para o final do ano 2007, a Secretaria de Cultura da Prefeitura de Olinda reconheceu e delimitou um Quilombo Urbano, em um espaço geográfico, no bairro de Beberibe, em um logradouro conhecido como Portão do Gelo. Essa ação é um reconhecimento à saga de um espaço religioso como local de resistência cultural. A Casa de Xambá, hoje liderada pelo Pai Ivo, é a saga de Dona Biu, brava mulher que manteve a tradição de seus ancestrais, transmitindo-a para as novas gerações. A Casa de Xambá, sob a proteção de Santa Bárbara, é um referencial para as tradições que atravessaram o oceano Atlântico nos tumbeiros e formaram, juntamente com os ditos índios, com os europeus e mamelucos, esse mundo cultural que é o Brasil.

A Casa de Xambá, além da relação com a formação grande nação brasileira, tem uma ligação mais estreita com a história de Olinda, em um momento mais recente. Quando, no início do século XX, as várzeas do Rio Beberibe ainda não estavam totalmente tomadas pela expansão das moradias, Dona Biu estabeleceu-se com seus familiares, atraindo, durante o Estado Novo, a repressão policial contra as manifestações religiosas de matrizes africana e indígena. A política centralizadora, de cunho fascista, não admitia dissensões, entre elas a religiosa. A bravura de Dona Biu, a sua capacidade de resistência, como a de outras mulheres em outros locais da cidade de Olinda, mas também no Recife - como é o caso de Badia, no Pátio do Terço, foram fundamentais para o aperfeiçoamento da construção cultural olindense, pernambucana e brasileira, afirmando, com a existência da Casa de Xambé, a presença fundadora dos cultos de origem africana para o povo brasileiro.

O primeiro Quilombo Urbano do Brasil é uma afirmação do povo brasileiro. Um povo que agrega, na bela tradição ibérica, uma tradição mais includente que excludente. Como todas as tradições, ela é gerada na dor, mas dores geradoras de novas maneiras de viver.

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