terça-feira, outubro 09, 2007

Um encontro de mestres - parte 1

04 de outubro


Neste dia dedicado a São Francisco de Assis, o dia começou com a recepção de Mestre Zé Duda e Mestre Biu do Coco para o café da manhã, na minha casa. Eles haviam saído de Aliança desde as cinco horas da manhã, e agora haviam chegado à Jatobá, na periferia de Olinda. Estávamos nos preparando para irmos à cidade de Piaçabuçu, para o encontro de Griôs. Piaçabuçu está localizada na foz do Rio São Francisco, no Estado de Alagoas. Coincidência esse caminhar para a foz do Rio comumente dito da integração nacional. Navegando as suas águas, ou caminhando em suas margens, homens e mulheres formaram ao longo de três séculos diversas sociedades que comungam o Rio. Américo Vespúcio, após se “aposentar” de seus trabalho para a casa dos Médicis, banqueiros italianos que financiaram muitas viagens para as Américas, foi quem deu nome a esse rio que ele viu sair do continente, com suas águas entrando o oceano Atlântico. Era 4 de outubro, o rio passou a ser São Francisco. No dia 4 de outubro de 2007, Griôs de vários Estados do Nordeste começaram a dirigir-se para a Foz do Rio São Francisco.

Essa nossa viagem teve sua primeira parada na Praça do Carmo, na cidade de Olinda. Fundada por Duarte Coelho para ser a sede de uma capitania que começava na beira do oceano Atlântico e que se estenderia até o mais distante sertão, até onde se pudesse ir. A praça do Carmo, em Olinda, tem esse nome porque Jerônimo de Albuquerque deu a dois carmelitas uma ermida dedicada a Santo Antonio e São Gonçalo do Amarante para que eles se estabelecessem em Olinda. Ali eles construíram uma Igreja que está lá desde então. A praça ficava fora da cidade, uma vez que a cidadela fundada por Duarte Coelho era localizada na colina. Pois bem, na Praça do Carmo começou o encontro dos Griôs. Eles foram chegando meio desconfiados e, posso até dizer que as comunicações foram pequenas nos primeiros instantes.

Finalmente o ônibus chegou e nele todos entraram e nos dirigimos ao Marco Zero, na cidade do Recife. Ali ficamos parados observando, Zé Duda e Biu do Coco, a praça que hoje está bem diferente daquele que eu conheci nos anos sessenta do século XX. Naquela década o Recife ainda era um porto com alguma importância e a vida econômica fluía nos passos dos estivadores, dos marinheiros, dos comerciantes, dos representantes de empresas estrangeiras; mas também fluía no vaivém de pessoas comuns, pois todos os ônibus que atendiam os bairros para o porto se dirigiam, O Marco Zero era o começo da vida do Recife. À Noite a região era tomada por boêmios em busca de diversão, em busca de prostitutas que lhes dessem o carinho que a vida lhes negava. Hoje a praça não tem mais vegetação, mas é embelezada pela bela Rosa dos Ventos e dos Tempos idealizada por Cícero Dias, agora posta no chão, servindo para grandes concentrações públicas. Tive mais dificuldade de explicar as esculturas de Francisco Brenand, anunciando a criação do mundo, ali, no limite entre o mar e a cidade que dele saiu e dele viveu.

continua......

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