sexta-feira, outubro 19, 2007

Ocorrências da semana -argentinos, holandeses e brasileiros

A semana passou e não tive tempo para dedicar-me a esse espaço. Agora, no seu final, creio que posso ir um pouco mais além de lamentar que não escrevi.

Uma das correspondências que recebi foi a respeito de um padre que, na Argentina, durante a ditadura militar, esteve a serviço do sistema, ouvindo confissões e passando adiante segredos que lhe eram confiados. Todos nós sabemos que a Igreja Católica, na Argentina, foi cem por cento ao lado dos ditadores, pois entenderam que sem o apoio dos militares a Igreja perderia espaços políticos e as almas dos argentinos. Os cardeais e bispos argentinos traíram o povo de Deus, e traíram a Pátria. Foi isso que está dito na condenação à prisão perpétua que foi dada ao padre criminoso, delator, e responsabilizado por mais de três dezenas de seqüestros e mortes. Deus se apiede das almas daquelas vacas de Barzã, semelhantes a algumas das vacas que tivemos no Brasil.

Outro acontecimento foi uma pequena entrevista feita para um grupo de estudantes de vídeo-digital sobre a presença holandesa no Brasil. Disse que, como a Capistrano de Abreu, esse assunto não me interessa: é algo próprio de senhores de engenho e escravos endividados do século XVII, um momento menor da história do decadente império espanhol e dos primeiros anos da independência das sete Províncias dos Países Baixos. Além de uma saudade eterna pelo futuro que não ocorreu, uma saudade sentida por alguns descendentes dos portugueses de aquém mar, hoje descontentes da opção dos seus antepassados, o que resta são algumas construções subterrâneas, uma palavra e um forte. Evidente que pessoas de mentes colonizadas lamentam não serem holandeses. Mas esses queriam ser qualquer coisa, exceto eles mesmos. Esse é um problema sério. Nós não podemos negar que durante algum tempo Pernambuco esteve sob DOMÍNIO COLONIAL holandês, mas isso não quer dizer que devemos ser colônias ainda nos dias de hoje. O fato de termos a primeira Sinagoga é tão importante quanto a primeira Igreja Católica do Brasil. É capaz de termos tido também o primeiro centro comercial de escravos na América. Nele, cristãos – novos ou velhos - e judeus, e holandeses, mais tsarde alguns africanos, compravam seres humanos como se compram cavalos: olhando os dentes e as reentrâncias. Era o costume civilizado da época. Lamentável é que não temos a primeira universidade das Américas. Todos estavam interessados na produção e transporte de pães de açúcar.

Portugueses católicos, Holandeses Reformados, Judeus portugueses exilados em Amsterdã, tudo isso faz parte do passado e só interessa se apontasse para um presente e para um futuro. O passado pelo passado é a celebração da morte. Ainda assim é bom ter o espetáculo, pesssoas com vestuário da época barroca nas ruas da cidade, como o que ocorreu ontem, com direito a Maurício de Nassau passeando desde a Ilha do Recife até a Ilha de Antonio Vaz, tudo terminando com um banquete na frente do palácio que o Maurico não construiu.

Temos muito a conhecer sobre o nosso país, nosso povo, nós mesmos, pois nós somos o nosso povo. Devíamos gastar menos energia em louvar tanto os que nos oprimiram e cuidar de safarmo-nos dessas opressões. E essa não será uma luta contra outros, mas uma luta dentro de nós, uma luta para que nos aceitemos com os nossos limites, para pararmos de sonhar e de nos aprisionar com os limites que os outros deram.

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