terça-feira, setembro 25, 2007

o estômago, o bolso e a moral

Sem querer, comentei que o Brasil atualmente vive uma situação semelhante à época da ditadura militar, uma vez que o país está sendo governado por Medidas Provisórias, substitutas dos Decreto-Lei, tão utilizados pelos ditadores. Os ditadores não mandam projetos de lei, enviam MPs e DLs, de tal forma e quantidade, que se torna impossível ao legislativo legislar, se isso ele desejasse fazer. Assim, os representantes do povo que deveriam estabelecer as leis, apenas discutem quanto o chefe, presidente ou ditador de plantão - para utilizar a expressão do compositor Carlos Imperial, pode pagar pela aprovação da MP.

As MPs tornam o legislativo inculpado de leis erradas, assim pensam os legisladores. A sua incapacidade de negar algo ao executivo abre caminhos largos para os desejos insaciáveis de poder, da ilusão da unanimidade, esta que é comprada por migalhas de pão. Os que só pensam no pão, esquecem que o homem não vive só pão. O pão mata a fome imediata, acalma o estômago, o que permite a dominação. Aquele que se contenta com o contentamento do estômago é capaz de, com o estômago, vender a alma. Um cão faminto não se domina ao ver um pedaço de alimento: Ele baba e corre sôfrego a comer e, assim esquecer que a migalha é parte de uma parte maior que lhe foi e será sempre negada. A unanimidade é burra pois ela se alimenta de capim, de coisas. É por isso que se diz dos "chalaças" que eles babam.

Dizem que um programa de televisão apresentou as mesmas perguntas para duas populações diferentes:
no Brasil perguntaram, a quem vive recebendo migalhas de alimentos e informação, se um personagem de uma novela deveria ser castigado. A resposta foi que não, que não se pode castigar uma pessoa que se esforça para ter coisas, mesmo que com isso ela tenha provocado sofrimento e destruição; no Brasil acharam que posuir coisas é mais importante que possuir amigos e bom caráter.
Fizeram a mesma pergunta para famitos, para pobres que vivem em Angola, saídos de uma guerra. A respota foi que essa pessoa deveria ser castigada, para perceber que as pessoas são mais importantes que os vestidos que elas vestem.

Não é a pobreza que faz o homem e a mulher perderem o senso de justiça; é a perda do senso de justiça que faz surgir e crescer a pobreza. A pobreza material de nosso país é conseqüência de uma pobreza moral, uma pobreza ética que vem sendo cultivada desde os tempos mais antigos e, agora está sendo adubada pela mesma desfaçatez que os militares ditadores no poder praticaram. A falta de vergonha não estava na farda, pois a farda não faz o ditador. Os ditadores mandam costurar os ternos, os casacos, as casacas.

Os ditadores usam botox: O botox material que esconde as rugas; e o botox midiático, imoral, que pretende esconder a mentira .
Todo mundo está vendo, mas tem muita gente com a boca e bolsos cheios de migalhas e, dizem as pessoas que frequentam o ambiente, não se pode falar com a boca cheia.

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