domingo, setembro 30, 2007

blog, diário e intimidades da fé

Quando mais jovem eu tive, escrevi um diário. Era mais ou menos comum a certo grupo de rapazes e moças nos anos sessenta. Os que sabiam ler e recebiam orientação, leram o Diário de Anne Frank. Os jovens católicos, além desse, leram o Diário de Danny e o Diário de Ana Maria. Eles discutiam alguns temas que jovens franceses viviam naquela época em que a França estava perdendo o seu império colonial e o mundo estava se redesenhando. Os diários eram nossos blogs, só que eles eram íntimos e tornavam-se nossos inimigos os que os violassem. Os diários eram nossos mais íntimos amigos. Hoje, blogs, como esse que mantenho, cumpre apenas a função de me auxiliar a pensar sobre o mundo, o meu lugar neste mundo, como os diários dos meus quinze anos (creio que queimei todos, pois tinham mais segredos que esses que hoje compartilho com quem se dispõe a ler essas bobagens). Adolescentes sempre dizem bobagens. Os que se pensam maduros, como eu penso, também o fazem. Nessa época que hoje vivemos, uma época de exposição, os blogs são os lugares de exposição de nossos íntimos, ou da parte que nos permitimos contar. Os blogs nos permitem a sensação de sermos vistos nessa imensa floresta do mundo contemporâneo, uma floresta física e "real" além dessa outra que é virtual e "real".

Pois bem, hoje o meu neto, Rafae Aimberê, foi feito cristão pelo batismo, dando continuidade a uma tradição antiga na família. Todos fomos bartisados cristãos católicos. Durante a cerimônia, se posso chamar de cerimônia o que vi ocorrer na Igreja matriz do Arraial do Bom Jesus. Fiquei pensando muitas coisas e relembrando algumas experiências que tive. Desde cedo fui iniciado no cristianismo católico e a ele me dediquei, inclusive estudando teologia e encaminhando a minha vida para o sacerdócio. Vários motivos, inclsive excessso de orgulho, afastaram-me do ministério, embora tivesse colaborado com a formação de clérigos e agentes de pastoral duranrte muitos anos. Em meu "portfólio" posso colocar ao menos três bispos que foram meus alunos. Como fui responsável pela liturgia na em diversas ocasiões, pensei que o Padre Carapuceiros teria belos motivos para sua crônica, caso presenciasse a sessão de batismo que presenciei no dia de hoje. Apenas o Ex opera operate ex opera operanti e a fé dos cristãos assumem a presença divina em ato tão desleixado do vigário e seus auxilaires. O que assisti é uma manifestação da divindade da Igreja, pois se ela dependesse da ação de certos presbíteros, ela não teria chegado ao terceiro milênio. É a fé simples dos simples, como me ensinou o professor padre Diomar Lopes, que mantém a vida da Igreja.

Durante a cerimônia, rica em simbolismo, que a maioria dos padrinhos e parentes sequer percebem, pois muitos não sabiam nem mesmo o que fazer, pensei nas razões da formação do catolicismo popular, e também no comportamento burocrático dos padres no acolhimento dos fiéis que procuram os sacramentos. Por mais que se fale em Vaticano II, a maioria dos presbíteros, parece, nem mesmo entendem que já ocorreu o Concílio de Trento. E lamento que católicos fiquem discutindo sobre a orientação do bispo, que o bispo fique preocupado com a aplicação das leis, enquanto em país evangelizado por padres católicos, e sendo re-evangelizado, pessoas ditas católicas, religiosas, comportam-se em um templo como se estivessem em uma parada de ônibus, e os celebrantes ajam como bilheteiros dos ônibus, apenas verificando se todos passam pela borboleta.

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