sexta-feira, agosto 31, 2007

Ressacas da luxúria

ùltimo dia deste agosto eu quero dizer o meu contentamento com o fato de, neste ano, ter escrito e ter sido lido por algumas pessoas. Essa tem sido uma disciplina que me impus com o objetivo de não guardar comigo certos pensamentos e indignações que poderiam ser comunicadas.

Li nos jornais de hoje que a ressaca do mar em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, não trouxe prejuízos, mas espetáculo. Em parte é verdade, uma vez que o prejuízo tem sido causado nos últimos trinta anos como conseqüência da irresponsabilidade dos prefeitos e da sociedade. A Prefeitura de Jaboatão permitiu a destruição das praias daquele município, quando concedeu o direito para que fossem feitas edificações à beira do mar, criando um paredão que não mais permitiu aos cidadãos aproximarem-se das águas do Atlântico. essa permissão foi dada para atender a ganância de alguns empresários e à luxúria de visitantes, além de novos ricos da localidade. Agora, em resultado, nem os que são daqui têm acesso ao banho de mar, nem os de fora vão querer se hospedar em hotéis que não oferecem segurança. Por seu turno, o avanço do mar expulsa aqueles para quem foi construído o "paraíso".

Os conhecimentos dos mares e das marés nos anos sessenta e setenta do século passado já eram suficientes para alertar os governantes sobre o que poderia ocorrer com essas construções tão próximas do oceano. Os diques artificiais construídos em Olinda no início dos anos setenta são uma mostra disso. Todos sabemos que não deveria haver cosntruções naquela avenida hoje conhecida como Marcus Freire, mas havia até restaurentes dentro do mar!

Esse fenômeno de imbelicidade, luxúria, ganância, arrogância contra a natureza e a sociedade, também está ocorrendo nas praias de Goiana, Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, São José da Coroa Grande. Para alegrar contas bancárias e satisfazer egoísmos estão destruindo o litoral pernambucano e, com isso, a indústria que dizem querer montar com hotéis luxuosos e condomínios fechados.

Animais que não desenvolveram perspectivas de futuro ficaram ferozes nas selvas ou foram amestrados por aqueeles que desenvolveram inteligências. Prejuízos econômicos decorrentes das ressacas marítimas, na verdade são conseqüências da gula e luxúria dos destruidores das praias. E ainda querem que as prefeituras, com o dinheiro dos impostos, protejam o que resta de seus projetos anti-sociais.

terça-feira, agosto 28, 2007

Uma história das Arábias

Houve um tempo em que se mencionava uma história vinda das Arábias que contava as aventuras de um homem honesto que foi surpreendido pela sorte; um dia ele encontrou uma caverna que servia de esconderijo para uma quadrilha formada por Quarenta Ladrões e um chefe. Este homem, bafejado pela sorte, tinha a alcunha de Ali Babá. Ele não era um ladrão, não chefiava a quadrilha que roubava a região, mas era o homem que descobrira o que os ladrões faziam e onde ocultavam as riquezas roubadas. Observando os hábitos dos criminososm ele aprendeu até a linguagem necessária para ter acesso às riquezas dos ladrões.

Após ter descoberto os ardis dos criminosos, bem que Ali Babá poderia ter ido ao califa, informado aos tribunais o local do esconderijo. Mas o bom homem resolveu guardar para si o segredo e decidiu roubar os ladrões. Assim, pouco a pouco ele foi roubando os ladrões. Alimentava a esperança de que jamais seria descoberto pois o que retirara para si era pouco, em relação ao que havia naquela caverna.

Assim, como por milagre, Ali Babá ficou rico e passou a morar melhor e ter mais possibilidades de fazer o bem, distribuir alguma comida para os pobres, ajudar alguns vizinhos, uma vez que Alá lhe dera tantas riqueza. Alí Babá assim foi se tornando um homem cada vez mais rico e reconhecido como bom.

Entretanto os ladrões notaram que estavam sendo pilhados e resolveram descobrir quem os havia lesado. E viram como Ali Babá havia mudado de vida em pouco tempo. De simples trabalhador tornara-se alguém importante na cidade, sendo saudado por muitos como uma verdadeira bênção que Alá havia mandado para o lugar. Até sua mulher tornou-se mais bonita.

Acontece que os ladrões descobriram que estavam sendo roubados e não gostaram da idéia de serem enganados por um homem tão simples e resolveram agir. Os ladrões então disfarçaram-se de vendedores de óleo, e foram procurar o Escolhido de Alá. Alí Babá os acolheu em sua casa, mas já havia aprendido os modos dos ladrões e os reconheceu, apesar do disfarce. Percebendo que perigava a sua situação, Alí Babá tomou iniciativa e conseguiu eliminar os seus perseguidores, inclusive o chefe do bando. Mais uma vez, alí Babá nada disse às autoridades, pois ele agia como se não soubesse o que ocorria ao seu redor.

Ali Babá, que começou a história como um homem pobre e bom, terminou por matar os quarenta ladrões e o seu chefe, ficando com a riqueza que os criminosos roubaram. Essa história tem sido contada no nosso mundo político como se Alí Babá fosse o chefe dos criminosos, o chefe dos ladrões. Não Alí Babá não sabia como roubar, parecia ser ingênuo. É no decorrer da História que ele apresenta a sua face de aproveitador das oportunidades enquanto aparenta continuar ser o ohomem simples de sempre. Mas, se prestarmos bem atenção à história, veremos que Alí Babá se tornou o maior dos ladrões, o melhor deles, pois ficou com a riqueza, enquanto os tradicionais ladrões foram castigados.

Hoje, o Supremo Tribunal Federal decidiu que havia uma quadsrilha de Quarenta Ladrões próximos ao Palácio da Alvorada, inclusive nomeando o chefe. Na história que no vem das Arábias Alí Babá não é indiciado em nenhum crime, embora tenha sido o maior beneficiário dos atos dos criminosos.

domingo, agosto 26, 2007

Usina Cultural

Ontem dia 25 de agosto, ocorreu uma pequena festividade na Chã de Camará, com presença de representantes do Ministério da Cultura, da EMPETUR, do Prefeito da cidade, do Presidente da Câmara Municipal de Aliança, dos Griôs do Ponto de Cultura Coco de Umbigada de Olinda, e os cinco maracatús do município de Aliança, homenageados com plaquetas alusivas ao Dia do Maracatu, que em Aliança é comemorado no 1º de agosto. Na ocasião foi apresentado o projeto arquitetônico do futuro centro cultural do Ponto de Cultura Estrela de Ouro, um trabalho doado pela arquiteta e urbanista de Renato Vilanova.
O texto abaixo foi escrito e dito por mim, como assessor pedagógico do Ponto de Cultura.


USINA CULTURAL


Os anos recentes anos vividos em Chã de Camará tem nos mostrado que as mudanças ocorrem em nossas vidas e ao nosso redor. A vida na área rural é monótona, seguindo o caminho do sol e os anos se repetindo. Muitas gerações passam e os netos vivem como os pais, ou ao menos pensam como eles. Nada parece mudar e imaginamos que não adianta pensar em ser ou fazer diferente. Mas se olharmos ao nosso redor podemos verificar que esse pedaço de terra conhecido antigamente como Três Vendas, como a entrada para Upatininga, cada vez mais vai sendo conhecido como Chã de Camará, o sítio onde está o Ponto de Cultura Estrela de Ouro, do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança. Foi assim que a mudança começou a ocorrer. O Maracatu
Estrela de Ouro quis ser um Ponto de Cultura.

Um Ponto de Cultura é o lugar onde as pessoas se encontram para traçar experiências e fazer as artes que sabe, e transmitir as artes que sabem fazer.
Aqui as pessoas sempre fizeram cultura: agricultura, cultivo da terra para a produção de macaxeira, inhame, banana, batata, jerimum, além da atividade no plantio e corte da cana e na produção do açúcar nas usinas.

As usinas que dominam a vida de quase todos que aqui estão presentes, pois a maioria dos presentes têm gasto sua vida nos trabalhos desde a preparação da terra até a chegada da cana nas usinas, quase nunca se preocupam com os nossos espíritos. Nas usinas aprendemos que há mestres para muitas atividades e, fora delas muitos se tornaram mestres em atividades que não interessavam aos donos de engenhos e usinas produtoras de açúcar de cana. As usinas de açúcar ou álcool estão preocupadas na produção de uma riqueza material, necessária para a manutenção da vida.

Mas nós somos mais que matéria, e produzimos idéias, produzimos sonhos e novos objetivos da vida. Por isso o Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança começa hoje fazer funcionar uma outra usina, uma usina que preservará e produzirá a cultura imaterial, essa riqueza que recebemos de nossos avós, e parece que ninguém nós ensinou; é como que saída do nosso sangue, pois aprendemos olhando os nossos pais, nossos tios, nossos amigos. Nossa escola, onde aprendemos as tradições, tem sido os terreiros de nossas casas, nossas conversas, quando sentados nas raízes das jaqueiras, ou enquanto trabalhamos nos espaços dos engenhos e usinas.

O Ponto de Cultura Estrela de Ouro, cujo nome diz o que somos, já tem provocado essas mudanças que nossos olhos percebem, como essas novas casas que reavivam a paisagem da Chã de Camará, ao mesmo tempo em que inaugura moradias cidadãs; essa Usina Cultural será o local de produção e de registro daquilo que é produzido nessa região. Após esmagar a cana os engenhos faziam pão de açúcar, após anos de trabalho, será o momento de registrar as toadas de Mestre Mariano, os versos de Mestre Zé Duda, os sons dos ternos, dos bancos dos Cavalo Marinho, mestrado por Mariano Teles, das caixas e bombos da Ciranda, dos atabaques e pandeiros do Coco, sob a orientação do mestre Biu do Coco;. Além do registro, a Usina Cultural é o lugar de formar novos mestres, lugar de oficinas, de trabalho, de estudo, a Usina Cultural será o lugar de transferência e criação de novos saberes. Aberta a todas as pessoas, a Usina Cultural produzirá muitos frutos – mestres, músicas, danças, poesias – e será mantida por essa produção.

[1] Escrito para ser lido no lançamento da Usina Cultural do Ponto de Cultura Estrela de Ouro, na sede do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, no Sítio Chã de Camará.
[2] Professor adjunto do Departamento de História da UFPE, Assessor do Ponto de Cultura Estrela de Ouro.

sábado, agosto 25, 2007

Pressão Moral Libertadora

Aproxima-se o mês de agosto e estamos assistindo o espetáculo de um julgamento no Surpremo Tribunal. Já vimos o não respeito às formalidades dos cagos ocupados, inclusive com os ministros, nas sesões, passando recados um para outro, como alunos popuco aplicados em sala de aula. Como a brincadeira infanto-juvenil foi documentada por um jornalista e posta em público, imediatamente a presidênciada República começou a falar em falta de respeito ao sigilo. Mais uma vez a falta estava sendo posta em quem documentou o fato e não em quem fez o fato. Os dois ministros foram indicados por Lula e diziam, entre outras coisas, que o voto do ministro Eros ia ser pela não aceitação da das denúincias, ou seja os realizadores do mensalão podiam contar com ele. Não ficava bonito saber que o ministro apontado por José Dirceu já estava dizendo que iria impedir que José Dirceu e caterva fossem à julgamento. As inconfidências dos ministros, escrevendo bilhetes eletrônicos durante a sessão custou caro aos que usam manipular. Além disso, os ministros ensinaram que não se deve prestar atenção a quem estva falando com e para eles. Um belo exemplo.

Mas o término do mês de agosto nos lembra a ressurerreição de dom Hélder Câmara. Lembro que no final dos anos sessenta, em plena ditadura militar, o então arcebispo de Olinda e Recife promoveu um movimento chamado Pressão Moral Libertadopra, que pretendia chamar atenção para o respeito à dignidade humana e promover mudanças na sociedade pela pressão moral. Era uma opção não violenta que ele oferecia, no momento em que muitos jovens, já cansados, escolhiam a luta armada para a derrubado do regime. Jenuíno entre eles,
Para dom Hélder cabia aos homens e mulheres pressionar moralmente os poderes públicos e as autoridades para que elas tivessem um comportamento adequado de promvoer os direitos de cada pessoa. Dom Hélder acreditava nas minorias abraamica, naqueles que continuam a esperar quando toda a esperança parece ter acabado, por isso ele entendia que a pressão não violenta, mas moral, poderia mudar a sociedade.
Precisamos pressionar os nossos senadores e nossos juízes para que eles integrem esse movimento de pressão mral e nos auxiliem a modificar esse quadro de declínio ético em que vivemos. É constrangedor ver o atual presidente do senado sendo investigado e, na presidência do Senado, ficar articulando para que sejam criadas condições para a sua absolvição. E isto hoje é considerado normal. Para alguns não é errado o réu influenciar os modos de fazer o seu julgamento, conversando a sós com os seus julgadores; mas esses mesmos acham que é imoral a imprensa dizer o que aconteceu na traquinagem dos ministros.

É necessário fazer muita pressão e continuar esperando para além da esperança.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Entre a moral e a carne de frango

O mês de agosto aproxima-se do fim e então assistimos apossibilidade de o Supremo Tribunal decidir abri processo contra os artífices do que ficou conhecido como "mensalão".
Resumo apressado pode dizer que este "mensalão" foi uma ação perpetrada por um grupo de pessoas, algumas que haviam ganho a confiança dos brasileiros durante a luta contra a ditadura e a construção do Partido dos Trabalhadores, sobre os cofres públicos e a consciência política nacional. Assistimos a revelação de uma série de condutas imorais, ilegais, objetivando, mais a mantenção do poder que benefícios ao povo que havia confiado neles. O Brasil viu que os defensores da moralidade eram, eles mesmos, useiros das práticas que condenavam. Vimos o presidente da república apequenar-se e dizer que "caixa dois" é normal. O presidente, em conseqüência, dizia que roubar e mentir é normal.
Vimos diretores de empresas estatais receberem propinas para favorecer interesses de seus correlegionários; ficamos sabendo de tantas práticas ilegais sendo justificadas em nome de permanecer n poder, que hoje tem gente achando que quem é honesto e não tira vantagens nos cargos que ocupa é besta.
Esse julgamento não condenará ninguém. Apenas pode dar permissão para que os envolvidos no "mensalão" sejam julgados. Caso a o Supremo, atendendo as argumentações dos advogados de defesa, decida que não há indícios que permitam levar esses aloprados ao banco de réus, então haverá um condenado: o Brasil estará condenado a ser o que sempre disse que não é: uma fazenda onde medra a malícia, a desonestidade, a impunidade, tudo que permite que 70% de sua população fique feliz por estar ficando bêbada e comendo frango.

domingo, agosto 19, 2007

O Encanto da Alegria

Log após o meio dia de hoje recebi a notícia do falecimento de Mãe Ivanize, grande senhora que alimentava e alimentava-se do Maracatu Encanto da Alegria e Griô do Ponto de Cultura Coco de Umbigada. Pensei em escrever sobre ela, mas o amigo Afonso Oliveira já havia escrito e, como os sentimento são comuns,vamos ficar com as suas palavras.


A rainha que encantou Pernambuco com sua alegria

Mãe Ivanize, rainha do Maracatu Encanto da Alegria, nos deixou órfão e sem avisar partiu para alegrar outros lugares, com seu sorriso inesquecível e seu otimismo sagrado. Mãe sagrada teve o cuidado de nos deixar no dia da Cultura Pernambucana. Dia de Joaquim Nabuco.
Antes da despedida colocou seu nome na história da cultura pernambucana, ao levantar junto com a comunidade da Bomba do Hemetério, o estandarte do seu Maracatu e ganhar o mundo com ele.
Ivanize, que veio do Leão de Judá soube como uma mulher de fibra brigar pelo que sabia em prol do seu Maracatu e do seu povo. Uma rainha que em nenhum momento deixou sua coroa ao léo e conseguiu resistir na soberania da dor a tudo e todos que não queria seu encanto e sua alegria.
Dona Ivanize vai deixar saudades a todos que ela ensinou, a encantar e a alegrar. Mas seu exemplo maior é sua liderança, sua força, sua determinação de colocar o Maracatu na rua, de faze-lo notícia, de ir para avenida e saudar os orixás como quem vai ao paraíso de alma nua e de corpo leve.
Nesses últimos anos ela lutou para implantação do Ponto de Cultura e sábia deixou uma herança maior que qualquer fortuna. Pois o Ponto de Cultura do Maracatu Encanto da Alegria, agora é o Ponto de partida para todos nós. Órfãos tristes e com saudade, poder em sua homenagem não deixar o encanto e a alegria deixar o mundo, deixar a vida, deixar Água Fria, deixar o Recife, deixar a avenida, o morro e a moradia dos Orixás. Viva Ivanize. Viva seu Encanto. Viva a sua alegria.

Afonso Oliveira
Olinda, 19 de agosto de 2007

sexta-feira, agosto 17, 2007

Questões no Museu do Mamulengo

Estive ontem à tarde no Museu do Mamulengo, agora sediado na Rua São Bento, alí na Ribeira. Encontrei um grupo de pessoas que está se propondo, a cada quinta feira, debater sobre Patrimônio Imaterial. Esses debates buscam aprofundar, esclarecer melhor o que se entende por patrimônio Imaterial de uma sociedade, a nossa especificamente. Um grupo preocupado com a cultura, a sua manutenção, a sua reprodução e continuação em uma cidade já considerada como capital cultural. Parece que a iniciativa foi do grupo que alenta o Arquivo Histórico de Olinda.
Não parece ser muito difícil definir o que é patrimônio, quando ele se apresenta fisicamente, como um edifício, uma estátua, um pintura, ou seja, um objeto. A questão fica mais difícil quando entramos nesse mundo da imaterialidade - espiritualidade, cultura espiritual, sei lá - porque entramos no mundo do sensível ainda não materialziado. É certo que uma construção é a metrialização de uma Idéia, que uma cidade é a construção material dos desejos e das vidas de muitas pessoas em épocas dstintas. Mas como considerar patrimônio o jeito de fazer tapíoca, se há muitas maneiras de se fazer tapiocas? Todos sabemos que um livro vale pelas idéias e valores que nele estão contidos, mas porque somos tentados a dar importância maior à forma do livro que ao seu conteúdo?
Considerei aspectos como esse para discutir que a idéia de patrimônio está relacionado com propriedade, e a propriedade é algo tangível; discuti que nossa sociedade tem como idéia fundadadora a propriedade, aquilo que não posso ter como propriedade é difícil definir como patriomônio. Os donos de cartórios quando dividem o patrimônio que alguém deixou, fazem-no apenas das herdades materiais, eles não podem dividir os afetos. Entretanto o nosso patrimônio, inclusive os afetos, vem dos nossos pais.
Como defender o patrimônio imaterial? As leis manterão vivos esse patrimônio, ou serão os afetos que guardaram esse patrimônio imatrerial?

terça-feira, agosto 14, 2007

um pouco sobre Orlando

Recebi carta de Rosa reclamando que não discuti, não mencionei aqui a festa de aniversário de Orlando, nosso amigo comum lá de Nova Descoberta, onde ainda hoje ela, Rosa, mora com Alves. Eu deveria, segundo ela dizer que gostei e que foi muito bom estar mais uma vez cantando quase as mesmas músicas.
Orlando é um velho amante do violão. Sempre cuidou do instrumento e teve o cuidado de aprender com as maneiras de Paulinho da Viola. Tem um belo repertório, muito ligado a certa fase da MPB, desde o tempo em que se ouvia falar e se ouvir o cantar de Elizeth Cardoso. Não que Orlando tenha a idade de Elizeth, mas fomos de um tempo em que o Santa Isabel lotava para ouví-la, silenciosamente, repeitosamente.
Uma vez, animados por Bezerra, construímos um conjunto de iêÍê-iê, e Orlando cuidou a rpender todas as músicas que estavam em sucesso, desde as locais até às internacionais. Aquele conjunto, Os Tuaregs, animou muitas festas no Conselho de Moradores de Nova Descoberta e de outros conselhos ligados à Operação Esperança. Mas fizemos e gastamos alguns trocados por amor á guitarrras, baterias, baixos e bebidas e... em tudo o sorriso e a alegria de Orlando pairando acima do que se imaginava dele e do conjunto. Meu pobre pai sofreu com os ensaios parede de meia com a sua mercearia.
Foi bom beber na companhia e ma música de Orlando, agora pai, na companhia de Rilda, a mãe dos belos e inteligentes filhos; além disso é diretor de escola pública.
Parabéns.

domingo, agosto 12, 2007

Reginaldo Veloso: uma vida do Vaticano II

Em conversa com Rosa Vasconcelos, pessoa de minha amizade desde nossa juventude em Nova Deswcoberta, soube que no dia 3 de agosto ocorreu uma alegre reunião dos amigos de Reginaldo Veloso para festejar os setenta anos de sua existência. Todos nós sabemos que a vida de Reginaldo, ou padre Reginaldo, como ainda é chamado por muitos, tem sido de muito movimentada, criativa e de entrega ao ideal que ele se pôs ainda jovem. Interessante, Rosa disse que Reginaldo está cada vez mais padre, ainda que comemore 70 anos ao lado de esposa e filho.

Conheci Reginaldo quando ele auxiliava padre Adriano (preciso escrever sobre esse grande padre e grande homem) na Paróquia da Macaxeira. Ali no pátio ocorria, na minha infância, frequentei festas no final do ano, ali eu vi os pastoris e tive as primeiras experiências de festas profanas ao lado das festas religiosas. Mas esses eram tempos mais recuados.

O tempo de Reginaldo na Igreja do Buriti, como todos diziam, foi no inicio da vivência do Concílio Vaticano II e também o início de sua vida presbiteral. Tendo sido criado para ser uma vila operária, o Buriti era habitado por operários da fábrica da Macaxeira, de propriedade de Othon Bezerra de Mello. A fábrica de tecidos da Macaxeira, como várias outras em Pernambuco, pretendia ser uma aplicação dos ensinamentos da Rerum Novarum, por isso os proprietários sempre cuidaram da vida religiosa de seus operários, desde o princípio.

É nessa paróquia, penso, que Reginaldo teve contatos mais diretos com o mundo operário, em uma fase imediatamente posterior ao golpe militar de 1964 e ao expurgo de lideranças operárias. Cedo, Reginaldo uniu o seu dom de poesia e musicalidade a essa tarefa pastora com a classe operária que vem até os dias de hoje no Movimento de Trabalhadores Cristãos - CTC. – continuador da Ação Operária Católica. Na época, apesar de jamais ter expressado, creio eue ele começou a perceber os limites da doutrina católica para odificar a realidade do mundo atual.

Mas essa ligação com a classe operária o fez entender que havia o mundo infantil e o da juventude. Uma infância e uma juventude que deveria ser envolvida pelo mundo do trabalho, mas que, devido à vocação excludente da sociedade que se formava no país, poderia estar condenada ao desemprego e às suas terríveis conseqüências. Reginaldo se envolveu com o movimento internacional das crianças.

Incansável, com a sua “cara de Cristo de Ximenes” Reginaldo continuava a sua vocação de liturgo e organizador da comunidade. ( algum dia farei umcomentário sobre Ximewnes) Assumiu várias vezes a Coordenação do Setor de Casa amarela. Em um dessas vezes me pediu uma reflexão sobre a crise da sociedade brasileira, que serviria de subsídios para a reflexão dos animadores das paróquias. Recordo que o texto tratava de uma crise moral que estávamos herdando do regime militar nos estava dando. Estamos sofrendo isso ainda nos dias de hoje. (Às vezes lamento ter a intuição correta).

Reginaldo ligou a sua vida,definitivamente à Paróquia do Morro da Conceição. Ele substituía um grande amigo, o padre Geraldo Leite, músico e liturgo como Reginaldo. Administrando a paróquia, Reginaldo promoveu um novo modo, ou mais profundo modo, de se viver as festividades em torno de Nossa Senhora da Conceição, Aqui há muito a se dizer. Fica para outro dia.

Talvez o Morro da Conceição possa vir servir de referência para os católicos e para o próprio Reginaldo no sentido de que, no Buriti ele foi convidado a recriar o sentimento de Igreja nos caminhos apontados pelo Concílio Vaticano II, no Morro da Conceição, uma nova conjuntura eclesial pedia que ele afogasse o Concílio Vaticano II. Reginaldo é um padre do Vaticano II e um homem de esperança., por isso as comunidades e pessoas que dividiram com ele o aprendizado conciliar celebram sua vida.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Agosto de Dom Hélder

O mês de agosto apresenta algumas efemérides de ordem pessoal, como aniversários de amigos, casamento civil, etc. Há efemérides que dizem lembranças ou esquecimento a um número maior, como a morte de Agamenon Magalhães ou o suicídio de Getúlio Vargas. Também nos alcança a memória a explosão das bombas sobre Hirochima e Nagasaki, o fim da Guerra Mundial iniciada em 1914.

Efeméride para um grupo que se esforça no sentido de evitar o seu esquecimento, como as que lembram a vida de Dom Hélder Câmara. Nesse mundo sócio-cultural que parece girar mais rápido que o mundo geo-físico, rapidamenente as novas gerações não conseguem lembrar o que parecia importante para seus pais. Um professor da UFPE, dois anos passados, surpreendeu-se que seus 40 alunos de iniciação à filosofia não tinham conhecimento de Dom Hélder. Todos são moradores do Recife, mas não tinham lembrança de quem era Dom Hélder. Foi motivo para que o professor-filósofo pusesse seus alunos a pesquisar sobre essa figura humana singular e que exerceu bastante influência na história da Igreja local, na Igreja universal, na história do Brasil. Disse-me ele, depois, de como os estudantes ficaram maravilhados por terem sido contemporãneos - embora não coetâneos - de tão expressiva figura.

Soube que está vindo, desde o Ceará, um grupo de admiradores de Dom Hélder para visitar o seu túmulo na Catedral Salvador do Mundo, no Alto da Sé, em Olinda. Nesta semana, estará sendo posto à venda o segundo volume das cartas que Dom Hélder escreveu durante o Concílio Vaticano II.

Parece-me que Agosto é um mês das efemérides helderianas, Nesse mês ele foi feito padre, no dia de Maria subindo ao céu e, também, o mês de sua caminhada para seu encontro com o Pai.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Efemérides

As efemérides mudam com o tempo. Dizer uma efeméride é afirmar um modo de ver o mundo, uma maneira de afirmar um modo de viver, é confirmar projeto de vida e de sociedade. Como cada grupo social procura afirmar o seu jeito de agarrar-se à vida e modificá-la, a cada espaço de tempo as efemérides são cambiadas. É por isso que as datas mudan de importância ao longo de nossas vidas. Os câmbios indicam, ao lembrar ou esquecer o passado, o caminho que se está tomando para o futuro. As efemérides, podemos quase dizer, como Gilberto Freyre, são o encontro dos tempos.

Há efemérides que cultivam o tempo nacional, ou que querem afirmar um sentido de nacionalidade, como o que se estabeleceu, desde o século XIX, no processo de a formação desse modelo de nação celebrado pelos europeus, e que nós herdamos. O Sete de Setembro, para o caso brasileiro, foi sendo construído, e sua aceitação não ocorreu de maneira simples. Aqui em Pernambuco, parece que de começo havia grupos que preferiam o Sete de Abril. A escolha de um dos setes, foi a escolha de um projeto de sociedade que está sendo vivido até os dias de hoje. O crescente esquecimento do Seis de Agosto, o da bomba de Hiroshima, talvez seja a comprovação de que da cultura da morte tem crescido à medida que são feitos ocos discursos sobre o valor da vida.

Nossas vidas pessoais são carregadas de efemérides, de lembranças que nos afirmam e, portanto, se dispõem a negar uma porção de coisa e valores que nos incomodam. Lembramos o que nos satisfaz, o que nos mostra o quanto somos bons. Tereza, ecoava o que aprendera de um dos seus professores e, desse ecoar, me ensinou: a memória é alcoviteira dos desejos. Lembramos o que desejamos, construímos o passado que nos justifica, nos absolve, ainda que à custa da condenação de outros. Em cada pedaço de memória, está a construção de nossa bondade e, quem sabe, a maldade do outro. Sempre nos socorremos de nossas memórias para salvar nosso presente. Assim fazem as pessoas e os grupos.

Mas além da memória há a explicação que ela carrega. Quase sempre lembramos da maldade dos professores em nos colocar uma nota inferior àquela que nos daríamos; muito dificilmente nos lembramos da ação do professor em exercer a sua função de orientador sério, agindo para extender os nossos limites, esses limites que nossa preguiça os quer sempre pequenos. A escolha da efemérides dizem também o que nos recusamos de ser.

terça-feira, agosto 07, 2007

Os Caboclos de Lança cada vez mais vistos

O texto que segue abaixo encontra-se em
http://www.estreladeouro.org/
Segue com ele uma carta que completa a informação que nos diz da importância de nossa cultura e da urgência de nos dewdicarmos, cada vez mais a nos ver e nos compreender.

01/08/2007
Maracatu Grava para a próxima novela das oito da Rede Globo
Ainda vai demorar um pouco para a televisão brasileira ser coerente quando realiza projetos com as manifestações da cultura popular, mas é fato que essa convivência têm se acentuado nos últimos anos. Recentemente a Rede Globo levou para as telas no modelo mini-série uma das obras de Ariano Suassuna, A Pedra do Reino, pegando um atalho na literatura Armorial para chegar até as tradições da música e do teatro popular nordestino.

Agora a visibilidade vem com maior poder e os atores dessa “descoberta” Global são os Maracatus Estrela de Ouro de Aliança e o Maracatu Estrela de Tracunhaém, que farão parte da abertura da próxima novela das oito “Duas Caras”, escrita pelo pernambucano Aguinaldo Silva e dirigida por Wolf Maia. A gravação aconteceu no belo cenário da cidade de Igarassú em frente ao conjunto arquitetônico, que está entre os mais importantes do Brasil, onde se encontra a mais antiga Igreja Católica. Com Tarcisio Meira no elenco uma equipe de cerca de 60 profissionais comandaram as gravações em Igarassú.

A música utilizada nas gravações é de autoria do Mestre Zé Duda, 68 anos, do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, que é considerado um dos mais importantes Mestres da Cultura Popular brasileira em atividade.

O Maracatu Estrela de Ouro de Aliança têm um Ponto de Cultura em sua cidade, presidido por José Lourenço da Silva, coordenado pelo Prof. Severino Vicente e com Produção de Afonso Oliveira.

Fundado em 1966 têm uma trajetória de grande importância para o estado e como hoje, em Pernambuco, é dia do Maracatu, as imagens do Estrela de Ouro foram utilizadas no telejornal local da Rede Globo para lembrar a data.

Dessa forma as Culturas Populares vão abrindo caminhos e encarando o desafio de um diálogo difícil, complexo e com futuros imprevisíveis. Vamos, então, aguardar as cenas dos próximos capítulos.


Caro Amigo Afonso,
A gratidão que lhe tenho será eterna, abrindo meu coração à Cultura Popular Brasileira. Peço espaço para registrar minha satisfação de ter Nossa Manifestação Popular com visibilidade nas "telas globais", resultado do suor de pessoas guerreiras como Você.

Acredito que a grande contra-partida de participações "globais" é o registro na mesma emissora de documentários sobre essas manifestações que abrilhantam cenários de estórias de novela. Sim, essa emissora, com poder de mega-produções, tem o dever público e social de mostrar a verdade, em primeiro plano, da Cultura do Nosso Brasil. Maracatus é Cultura do Brasil. Sem bairrismos, desejo que as manifestações populares sejam Brasileiras.

Estou realmente feliz por mais uma vitória da Cultura Popular. Parabéns Lourenço, parabéns Mestre Zé Duda, parabéns Prof. Severino Vicente, parabéns Afonso, parabéns tantos desconhecidos guerreiros.
Fernando de Alcantara


sexta-feira, agosto 03, 2007

Saci Pererê ou Pinóquio

Dizem que o mês de agosto é um período de fragilidade política no Brasil, pois nele ocorreram fatos que, parece, modificaram o curso da história. Pode ser as bruxas existam, mas pela ocorrências de situações problemáticas ao longo do ano, elas não cultivam predileções. é verdade que o Sai Pererê gosta de brincar no mês de agosto, nos ventos de agosto.

Desgraças, sofrimentos, alegrias e vitórias ocorrem quase todos os dias de todos os meses e o calendário das nações disso dão exemplo. Mas o mês de agosto parece ter uma bomba atômica sempre à procura de uma Hiroxima ou de uma Nagasaki. O Enola Gay, podemos supor, prefere agosto.

Este começo de mês nos trouxe mais uma bomba, apesar de ela não ser exatamente uma novidade, além de não ter grande repercursão. Este mês de agosto deverá ser o mês sem surpresas, sem bombas, se a bomba que já foi lançada é igual a outra de outros tempos.
Neste mês de agosto, o nosso presidente disse, mais uma vez, que não sabia. Ele não sabia dos problemas da aviação civil. Niguém avisara a ele, nem ele cultiva a curiosidade para saber o que está acontecendo fora do Palácio da alvorada.

Uma vez ele disse que não sabia do mensalão - o que é bom, pois indicaria que ele não está envolvido naquela coisa mal cheirosa; agora ele disse que não sabia dos problemas da aviação civil brasileira. Nosso presidente é um inocente, uma alma que não duvida dos que lhe rodeiam, que não questiona os resumos das notícias de jornais que lhe colocam diante dos olhos a cada manhã. Ou é um desavisado.

A grande desgraça deste mês de agosto é nós termos de assumir que temos um presidente que não sabe do que acontece no país que ele governa.

Se ele não sabe, a gente pode perguntar: como ele toma as decisões que diz que toma no governo do país? Se ele não sabia do caos da aviação civil, porque o ministro da defesa foi demitido? Essa é a bomba deste agosto: agora nós sabemos que ele não sabe, ou não sabia. e, então, se não ele, quem sabia?

Nosso presidente definiu o setor aéreo brasileiro como um "cão sem dono ou que tem muitos donos". Quem tem muitos donos pode morrer de fome porque cada dono pensa que o outro está cuidando do cão.

Mas esse setor, como o resto do país, tem um dono: o povo brasileiro, e o povo brasileiro contratou um administrador para cuidar desse e dos demais cães, e ainda renovou o seu contrato. O administrador não pode dizer que não sabia de como estava o cão; se ele admitir isso, então o dono cão pode não gostar da administração e reclamar.

O dono do cão está se perguntando: Mas será que ele - o administrador - não sabia mesmo ou está brincando? e se não está brincando está mentindo.

Essa é outra bomba: nosso presidente é um brincalhão ou um mentiroso?