quarta-feira, junho 06, 2007

A Guerra dos Seis Dias

Na vida de cada um, algumas experiências, alguns momentos ficam como marcas de degraus que foram utilizados na direção de uma consciência que construímos na vida.
Nesta semana todos ouvimos falar dos 40 anos da Guerra dos Seis Dias, um momento fulgoroso na vida do Estado de Israel em sua luta para manter-se vivo, segundo alguns, para evitar a existência de outros, segundo outros. Naquela guerra apareceu a figura de Moshe Dayan, um general que surprendeu o mundo ao destruir, ainda em solo, a aviação egípcia e que humilhou, com a rapidez de sua ação, todas as nações árabes. Dessa guerra, que pareceu consolidar a existência de Israel, fortaleceu-se a luta dos palestinos.
Mas tomei esse tema, não para discorrer sobre a guerra judia-árabe-palestina, mas porque a ocorrência dessa guerra me fez sentir a pequenez da existência, dos nossos lugares e, simultaneamente, me fez caminhar na direção de entender a grandeza do que somos.
Naquela semana de junho, um grupo de jovens de Nova Descoberta, um ponto na periferia do Recife, havíamos ido a um lugar em Alagoas, nós tínhamos ido a União dos Palmares. Fazíamos parte do grupo de jovens da Igreja Católica e, a convite dos padres canadenses que atuavam naquela região, fomos animar os jovens da cidade. Os padres eram canadenses, entre eles havia Donald e um que imitava, à perfeição John Wayne. Talvez o que ocorreu naquela semana, vivido por Samuel Freitas, Lia Vicente, Josenita Arcanjom, Nita e eu, venha a merecer uma pequena reflexão neste meu blog.
Mas o que me interessa hoje é lembrar a relação dessa nossa viagem 'pastoral' e a Guerra dos Seis Dias. Passamos toda a semana no interior de alagoas, conversamos sobre a experiência que tínhamos e ouvimos a experiência de nossos novos amigos e companheiros de jornada que viviam em União dos Palmares. No retorno, ainda no ônibus o rádio anunciou o que estava acontecendo no Oriente Médio e informava a destruição do pderio aéreo dos egípcios. Todos nós, que no momento estávamos refletindo sobre o que havíamos feito na cidade alagoana, silenciamos. Tivemos a impressão que, a qualquer momento, o que ocorria no Deserto do Sinai poderia ocorrer em qualquer lugar do mundo, e todos estávamos à mercê dos gênios da guerra e, talvez nosso trabalho, que julgávamos devia contribuir para melhorar o mundo, de nada valesse. O rádio que nos trouxe os sinais da guerra do Sinai, nos pôs, como diria um escritor português, "nos pôs no coração um grande medo". Naquele momento, saindo do interior das Alagoas, me senti tão só quanto se estivesse no Deserto do Sinai. E tanto fazia se como soldado ou como pastor. A guerra não fazia sentido para nenhum de nós, mas ela nos dominava, ela nos dizia que a guerra pode nos alcançar a qualquer momento. Vivíamos na ditadura militar, e ações dos militares em outros países repercutiam em nós. A Guerra dos Seis Dias, me pôs a entender que todos, desde União dos Palmares, Nova Descoberta ou qualquer lugar, éramos sempre o mesmo lugar. As angústias do mundo passaram a ser minhas companheiras desde aquele dia em que escutei, pela primeira vez as palavras Moshe Dayan.
O mundo globalizava-se naquelas duas palavras enquanto eu voltava para Nova Descoberta.

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