quinta-feira, junho 14, 2007

Em torno das festas passadas e presentes

Ontem foi dia de Santo Antonio, na véspera costuma-se celebrar o dia dos namorados. Interessante que nos caminhos por onde passei não vi as fogueiras em homenagem ao santo.
Por conta de meus afazeres profissionais, minhas preocupações cotidianas, nem mesmo percebi que já é tempo de preparar canjica, comer pamonha e essas coisas que costumávamos fazer em casa, toda a família em torno de duas ou três mãos de milho, tirando as palhas, limpando as espigas, lixando-as no ralador enquanto outros cuidavam do coco e preparavam o fogo. Esse trabalho que era feito comunitariamente nos unia, mantinha-nos mais juntos. O mês de junho ficava mais alegre e nós com eles.
Os tempos mudaram e nós mudamos com ele.
Agora não há mais uma só família. Os irmãos, cada um tem a sua família, e os filhos já possuem os seus próprios filhos. Ademais, onde construir uma fogueira se todos os espaços estão tomados pelo asfalto e sobre eles os fios elétricos? E tem o crescente cuidado para proteger a natureza: não se pode mais queimar pedaços de paus na frente das casas, pois o aquecimento global nos fará culpados. Afinal, uma fogueira na frente de minha casa é um perigo e afetará a calota glacial e, em um futuiro não muito distante a minha cidade estará debaixo da água. Não se pode mais ficar em torno da fogueira, nem mesmo soltar fogos para acordar São João.
Não é politicamente correto, nem mesmo dançar quadrilha matuta nas ruas, afinal elas podem ser confundidas com outras quadrilhas. A quadrilha que pode ser brincada tem que ser dentro de um grande concurso, com os passos cada vez mais parecidos com os movimentos da Marquês do Sapucaí.
Além disso é perigoso ficar na rua até mais tarde, como sabem os comandantes da polícia que não deixam os soldados até muito tarde na rua. Eles podem ser feridos e atingidos pelos bandidos. É mais seguro brincar nos quintais organizados por estranhos. Afinal a nossa rua é perigosa. As ruas são perigosas.
Mesmo assim, as festas juninas estão permanecendo, com novas roupagens, crescendo como opção mercadológica, período de compras, com "arraiás" organizados e esperando pelos que viajam para encontrar o encantamento, dançando, pensa-se, como antigamente. Tudo é gigantesco, como o maior cuscuz, a maior fogueira - essa pode e parece que não polui tanto quanto os gravetos que algum esavisado que queira homenagear o seu santo, seja ele Antonio, João ou Pedro.
Mas as festas continuam, apesar dos delegados estarem predendo muitas quadrilhas ultimamente. Também não se deve manter esse hábito de fazer compadre de fogueira. Sim havia compadres de fogueira. Mas, como nós sabemos, tem compadre que é fogo. É coisa de jogo de sorte ou azar.

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