terça-feira, maio 15, 2007

Meu pai e as mudanças

Amanhã completa 11 anos da morte de meu pai, João Vicente da Silva. Em outras oportunidades ja mencionei o quanto ele foi importante na formação de minha personalidade e o quanto o admiro por ter, nascido em 1913, passado o século XX administrando as mudanças culturais em sua vida, sendo capaz de compreender e conviver com atitudes com as quais não concordava, por conta de sua história pessoal.
Como muitos dos moradores das margens do rio Capibaribe, papai foi vítima da esquistossomose, que se tornou explícita após os setenta anos. Mas lembro meu pai na pujança dos seus quarenta anos, subindo e descendo de um caminhão, desde as três horas da madrugada, até as quinze horas. Era um tempo em que não havia as centrais de abastcimento, as Ceasa. Cada domingo, saíamos de Nova Descoberta, em um caminhão, passando por várias ruas de Casa Amarela, juntando outros comerciante e seguíamos para Carpina. Mas subiam pessoas em Camaragibe, São Lourenço da Mata e Paudalho. Na beira da PE 5, eram muitas as pessaos que pediam para ir à Carpina. Era importante tê-las indo, pois elas voltariam conosco, com as mercadorias que comprassem. O pagamento das passagens garantiam o alujguel do caminhão e algum lucro para papai.
A região da Mata Norte foi, durante muito tempo, fornecedora de frutas e verduras para o Recife. Na época, a feira de Carpína ocupava quase todo o centro da cidade, pois para lá convergiam pequenos produtores para vender seus produtos, os quais eram encaminhados para as cidades litorâneas.
No início dos anos sessenta, quando fiz muitas dessas viagens na carroceria dos caminhões, vi alguns resultados do Acordo da Cana, feito por Miguel Arraes com os produtores de cana, garantindo o salário mínimo as cortadores de cana. Em muitos domingos assisti a alegria com que muitos colocavam suas camas, mesas e cadeiras no caminhão, e desciam em Chã das Onças, na entrada de Chã de Alegria. Pela primeira vez eles iam dormir em camas e sentar-se em cadeiras. Parecia haver uma revolução em andamento. Por outro lado, também assisti muitas famílias vindo definitavamente para o Recife, uma vez que os proprietários vendiam suas terras e expulsavam os moradores. Era um outra face da revolução sem violência, como li depois no livro de Antonio Calado.
Viajando com meu pai, ajudando-o a arrumar a carga de caminhões - frutas, verduras e apetrechos domésticos, vi a história sendo vivida, vi a paisagem da Mata Norte mudar.

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