segunda-feira, maio 28, 2007

O Estado não deve se obrigar a consertar templos religiosos

Recebi nesses dias várias cartas informando que está em tramitação no Senado Federal um projeto do bispo-legislador Crivella, sobrinho do fundador da IURD, e base de apoio do atual governo. Este é o seu trabalho. Julguei que pediam minha opinião sobre o projeto.

A questão é que o projeto se refere a conceder às igrejas o direito de utilizar a Lei Rounet para promover a recuperação de templos e mesmo a sua construção. Essa lei foi criada para incentivar as atividades de artistas, voltada para apoiar ações na produção de teatro, cinema, etc.

O interessante é que este projeto, de cunho religioso e de apoio às igrejas - apesar delas já estarem beneficiadas por um série de isenções fiscais que os contribuintes ligados a problemas terrenos não estão - foi apresentado à Comissão de Educação, presidida pelo Senador Paulo Paim, do PT.

O Senador apoiou e aprovou o projeto. Esqueceu que o Brasil, como ensinou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao papa Bento XVI, é um país laico, que não opta por religião, ou credo. Parece que o presidente andou ensinando a lição no lugar e à pessoas errada. Como presidente de honra do PT, Lula poderia realizar um seminário para atualziação dos seus companheiros. Esse projeto deveria ter sido rejeitado no seu nascedouro. Mas isso, a aceitação dessa maracutaia que pretende usar o dinheiro dos brasileiros para fins que não lhe são próprios, acontece porque não se estudou a história da educação desse país.

Esses que se candidatam apenas com o interesse de defender os interesses de quem lhe paga as campanhas, dão a impressão que não sabem a história do Brasil, não sabem o quanto tem custado a liberdade de religião nesse país; não sabem das lutas que os educadores travaram na construção das duas leis de Diretrizes da Educação, para impedir que as igrejas definam o que se deve estudar nas escolas públicas. Por não considerarem a história do Brasil, é que os constituintes de 1988 não teveram condições de fazer o básico: definir que escola pública não é lugar de catecismos: nem dos crentes nem dos ateus. Por conta disso é que o presidente da Comissão de Educação do Senado, que foi constituinte em 1988, julga que pode faovrecer as igrejas, notadamente aquelas que servem de base de apoio ao seu partido no governo.

Sobram-nos lobistas, falta-nos estadistas.

domingo, maio 27, 2007

Campanha de mercado

Em jornal do domingo passado -dia 20- apareceu um artigo solicitando que as pessoas acreditem que o parque que se chamará dona lindu é uma obra importante, necessária e todas as bondades possíveis. Hoje, dia 27, apareceram anúncios de meia página, pagos pela Prefeitura da Cidade do Recife, mostrando o parque dona lindu anunciando como será bom o Recife com esse parque da maneira que os moradores não desejam.

A propósito, o intelectual que escreveu, livremente, na semana passada, dá a impressão que fazia parte desse jogo marqueteiro da Prefeitura.

Como dizia Milton Fridman, não existe almoço de graça, a conta sempre chega.

DIALOGANDO A CULTURA em Ouro Preto, Olinda, PE

A cada dia parece ter sido oportuna a iniciativa do ministro Gilberto Gil em criar o programa Cultura Viva e, nele, os Pontos de Cultura. Um Ponto de Cultura é um local convergente de iniciativas, de manutenção, transformação e recriações culturais. Eles já existiam antes que o ministro os institusse. Na verdade o ministro o viu abandonados e pretendeu lhes dar um alento.

Em todo o Brasil as pessoas se encontram, conversam, ajem coletivamente e produzem as suas vidas, tanto física quanto espiritual. Esta última palavra vem sendo evitada por muitos. Onde as pessoas se encontram lá é um Ponto de Cultura.

E verdade que, logo no início, muitos de nós pensamos que cultura é apenas aquilo, aquelas coisas e manisfestações que os que vieram antes de nós criaram e, por isso, nós tínhamos a obrigação de preservar, ainda que na sua forma fóssil, em algum museu mal organizado. Aos poucos percebemos que Pontos de Cultura não existem apenas para salvar as reminiscências, mas para recriar, ou mesmo criar novas coisas e novas tradições. Tem sido difícil reconhecer que nós somos criadores de tradições, especialmente por vivermos em um mundo volátil, que se reorganiza a cada momento e, por não se entender como parte de uma longa seqüencia de povos e desejos, pensa que sua criação é a primeira. Mas aos poucos podemos entender que criamos o novo, sem negar o que foi-nos legado.

Foi o que vi, na noite do dia 26 de maio, no lugar conhecido como Ouro Preto, em Olinda. Em um espaço com o nome de CEJA - Centro de Educação de Jovens e Adultos, que presta homenagem ao professor Paulo Rosas. Ele foi um dos animadores do Movimento de Cultura Popular da cidade do Recife, no final dos cinqüenta e início dos sessenta do século passado. Naquele local, CEJA, e hora, ocorria a construção do Ponto de Cultura. Naquele momento tornou-se um local de encontro de quase duas centenas de jovens que celebravam, (alguns talvez nem soubessem o que ocorria. Isso é comum na história), o que aprenderam nas oficinas de Produção de Vídeo ( havia três vídeos construido por eles); nas oficinas de Programação de Rádio, voltada para as rádios comunitárias, e oficinas de produção de eventos. Entre as apresentações das bandas e de sorteios, os jovens receberam os seus certificados de conoclusão de curso.

E ocorreu, também, a apresentação de sons e canções produzidas por bandas, formadas por rapazes da comunidade de Ouro Preto. Foram as bandas TRIBUTUS, UMBANDO - MADE IN HC e CABELO DE SAPO. Rock pesado pensando a realidade vivda. Danças simulando violências, como a violência não dissimulada de suas vidas.

Foi um bom fim de noite, ver ese DIALOGANDO A CULTURA, promovido pelo PONTO DE CULTURA DIÁLOGOS.

Como um dos coordenadores do Ponto de Cultura Estrela de Ouro, localozado na cidade de Aliança, na Zona da Mata Norte, fiquei feliz em ver os jovens do meu bairro envolvido na criação e recriação de suas vidas. Quisera ter feito mais do que usufruir da alegria da criação.

sexta-feira, maio 25, 2007

um país de beleza diversa:38.5% de mestiços.

Nesta tarde o IBGE apresenta um retrato do Brasil a partir dos dados colhidos em 2000, e faz algumas comparações com dados de 1940. Evidentemente o Brasil mudou, se vê de maneira diferente, acredita de outros modos, mas pode parecer um pouco parado em certos aspectos. Wanderlei Guilherme dos Santos apontaria para uma certa "inércia social".
Mas é interessante verificar que os números mostram que a realidade social, a maneira de como o povo brasileiro se vêm especialmente - cada vez menos brancos, cada vez menos negro - diferente daquilo que desejam certos grupos sociais que, atormentado pelo jeito de transpor análises feitas no hemisfério norte, desejam que o Brasil estivesse na outra margem do Atlântico. Não, o brasileiro, de acordo com os números apresentados pelo IBGE, não é africano, nem é europeu, exceto por suas origens. 38.5% do Brasil define-se como pardo, mestiço, com bastante clareza e orgulho. Orgulho de ser mestiço, de quebrar com a monotonia dualista cromática ideológica e racista que tanto prejuízo tem trazido à humanidade.

Que bom que os números, mostram a tendência e o desejo dos brasileiros de serem o que são e não o que alguns grupos desejam. Pena que se mantém uma inércia social, pois a mobilidade ascendente é muito pouca, como demonstram os números absolutos e relativos de analfabetos. Precisamos continuar a ultrapassar essa dominação bicolor empobrecedora do mundo e, para isso é importante continuar com a luta para findar a inércia social.

Esfriando a notícia, pondo a currupção em banho maria

Este é um país incrível: nos enche de esperança e nos faz medo.

Sabemos que as emissoras de televisão formam a mente, o pensamento e a opinião da maioria dos brasileiros. Sabemos, também, que elas são espaços concedidos pelo Estado, através daqueles que o gerenciam. Por isso é que se torna preocupante quando vemos desaparecer das manchetes da principal emissora de televisão, nos primeiros jornais do dia, informações sobre a opração "navalha". Ontem era notícia principal, hoje ela quase desaparece, ficando para aparcer na metade do noticiário, como algo secundário. Em menos de 18 horas deixou de ser notícia. Esfriaram a crise e a principal notícia foi o frio no sul/sudeste maravilhas.

No caso do noticiário que é orientado para os pernambucanos, dá para ficarmos atônitos. É incrível que, depois que um dos deputados do "leão do Norte", aos berros, ter demonstrado a sua bravura, retirando o sua assinatura no pedido de formação de uma comissãoparlamentar de inqüérito, não haja nenhuma repercursão entre os políticos locais. Nenhuma liderança partidária pernambucana se pronuncia sobre o que ocorre nos salaões e corredores do Parlamento. Bastou o presidente colocar sob suspeita a ação da polícia federal, bastou um juíz dizer-se ofendido, para que ninguém mais perceba que o ofendido é o povo brasileiro. É incrível o silêncio dos parlamentares, dos governantes, dos formadores de opinião em nosso Estado sobre os escândalos. Talvez seja porque, dois dias antes da publicação da ação da policia federal, um deputado pernambucano,´atualmente líder do governo na câmara dos deputados, tenha se regogizado pela liberação de verbas, a seu pedido, para obras a serem tocadas pela empresa Guatama. Esse deputado é o mesmo que, confrontou-se com Miguel Arraes para ser governador do Estado de Pernambuco, apresentando-se como o "novo". Por coincidência, o bravo deputado pernambucano que fez bate-boca no corredor para justificar a retirada de sua assinatura no pedido de formação da cpi, é o principal auxiliar do "novo" que se apresetou contra o Velho.

Ah! como precisamos estar sempre atentos para não cedermmos à raiva e à desesperança.

quinta-feira, maio 24, 2007

CRISTIANISMO REBELDE NA AMÉRICA LATINA - TRAJETÓRIA DA IGREJA: DE MEDELLÍN (1968) A APARECIDA (2007)

O texto que segue abaixo foi publicado na revista Eclesiática Brasileira -REB-, volume 266, de abril 2007. [451-450] Estou pondo no blog, para facilitar aos meus alunos a sua leitura, uma vez que essa revista não faz parte do acervo da UFPE.



CRISTIANISMO REBELDE NA AMÉRICA LATINA - TRAJETÓRIA DA IGREJA: DE MEDELLÍN (1968) A APARECIDA (2007)[1]
Prof. Dr. Severino Vicente da Silva[2]


Antes de mais nada queremos agradecer o convite que nos feito para proferir algumas palavras, que serão simples, especialmente para ouvidos sofisticados e mais habituados a análises mais profundas e teológicas. Embora tenha eu, durante algum tempo, a maior parte da minha vida, me dedicado como um missionário católico no meio onde vivi e em todos os meios, e os vivi enquanto leigo, portanto sem mandato institucional, embora à Igreja tenha servido, além de a Deus faze-lo, as reflexões tentarão fazer uma leitura possível do “catolicismo rebelde na América Latina”. Não falarei como católico, estarei querendo falar como historiador, se historiador eu fosse.

A perplexidade do papa – Onde Deus estava?
Os anos sessenta a noventa do século passado mostram uma tendência do cristianismo na América Latina que viveu em busca de uma compreender a missão cristã a partir da Sociedade, ou seja, dos problemas, dos limites, da história, dos sofrimentos dos homens da América Latina. Viviam, os homens e as mulheres latino - americanas, um grave período ditatorial, ditaduras militares proliferavam no continente, forjadas no bojo de uma cosmovisão de guerra fria, que se formara desde a clausura da dita Segunda Guerra Mundial.
O conflito que terminara em 1945 pôs graves questionamentos aos cristãos, afinal ele apresentou uma face de barbárie em uma Europa que havia civilizado o mundo. Recentemente o atual papa perguntou onde andava Deus enquanto alguns europeus massacravam uma parte da humanidade. Ao término da guerra havia uma perplexidade que o jovem José Ratzinger viveu e, anos depois, como o papa Bento XVI expressou no início do sexto ano do século XXI. Afinal, o massacre ocorrido no final da primeira metade do século XX foi perpetrado na Europa cristã. Como foi possível que tal fato ocorresse depois de quase dois mil anos de pregação e prática cristã na Europa, uma Europa que havia exportado o cristianismo para as Américas, para a Ásia e para a África?
Além da perplexidade diante a “ausência de Deus”, os europeus assistiram, durante e após o conflito, os seus impérios fragmentar-se, assim como ficaram fragmentados muitos dos prédios de suas cidades sob o peso das bombas que caíram sob a população. Era o preço cobrado pela ascensão e queda do nazi-fascismo. Após a guerra veio a reconstrução, dos prédios, dos homens, das nações. Com a reconstrução européia veio a Guerra Fria.
Naquele período alguns religiosos já se faziam a mesma pergunta que Bento XVI veio a fazer em 2006. Jovens padres tornaram-se operários[3], pois entendiam que havia um descompasso entre os sofrimentos dos homens comuns e os esforços realizados pelos que se apresentavam em nome de Deus para a re-arrumação dos espaços políticos, culturais, religiosos, etc.. Aqueles jovens sacerdotes procuravam entender os mecanismos produtores e reprodutores das injustiças. Por motivos políticos e doutrinários aqueles jovens foram obrigados a parar a sua vivência entre os operários por decisões de Pio XII e João XXIII, dois religiosos que ocuparam a cadeira hoje ocupada por Bento XVI. Desde a cátedra onde estavam sentados, eles entenderam que o modo de viver daqueles jovens, tão inserido no mundo dos homens comuns, tão inserido no mundo tão injusto, poderia contaminá-los com o veneno dos inimigos da fé.
Fora da Europa povos procuravam ser independentes[4], estavam rompendo as correias que os prendiam ao mundo que o europeu construiu com a expansão de suas técnicas e seu modo de viver. É certo que os europeus não inventaram a servidão, mas desde que a Europa principiou a expandir-se, desde o século XIII, foram muitos os povos que provaram o amargo gosto da escravidão e injustiça, postas por aqueles que falavam em uma nova vida, em fraternidade, em igualdade e liberdade. Como tem sido difícil, para aqueles que definiram o que liberdade, aceitar a idéia de liberdade quando é um outro que pretende ser livre! Ao ver que os povos da África e Ásia pretendiam a liberdade, os líderes europeus criaram mecanismos que davam a ilusão da não dependência. Era necessário evitar que as jovens nações usassem mal a liberdade. Afinal “eles ainda não estavam prontos para a liberdade”. Os poderosos sempre acham que os dominados jamais estarão prontos para a libertação. Os jovens países, como os jovens sacerdotes católicos, poderiam ser enganados por falsas idéias de libertação e salvação. Era necessário agir para que não perdesse seus corações e suas mentes.
Ao tempo em que os povos africanos e asiáticos lutavam para estabelecer a sua independência, os latino-americanos buscavam sair da dependência em que viviam desde o século XIX. A independência política não viera acompanhada da independência econômica, o que acarretava em dependência técnico-cultural. A não inclusão da maioria dos povos no processo e na vida das nações que se declararam independentes no século XIX tornava esses povos sem liberdade para a tomada de decisões autônomas sobre os seus futuros. As elites, os grupos oligárquicos, não conseguiam enxergar o povo como parte da nação. Os governantes estavam mais próximos dos centros nervosos do sistema mundial e, com ele, comprometidos[5]. O resultado era, e ainda o é, o desnível de apropriação das riquezas produzidas; o descompasso entre o abuso dos bens econômicos, culturais e sociais por parte de uma minoria e, para a imensa maioria dos habitantes da América Latina, o quase não acesso a esses bens. Alguns dos cristãos que viviam na América Latina fizeram o questionamento dito por Bento XVI no campo de Auschuitz: Onde estava Deus que não via o sofrimento do seu povo?
Onde estava Deus na AL?
Era necessário entender o que ocorria na América Latina, que desde 1500 vinha mantendo contato com povos cristãos e civilizados, mas não acompanhavam os caminhos do sucesso moderno que seus irmãos europeus trilhavam. Muitos cristãos latino-americanos aprofundaram a experiência que aqueles jovens sacerdotes europeus realizaram após o Grande Conflito que marcara a Europa e a sua consciência. Mas os latino-americanos fizeram novas leituras teológicas, não mais utilizando os instrumentos intelectuais criados a partir das experiências dos cristãos europeus, ou seja, apenas a filosofia tomista, serva da teologia. Se os problemas eram diversos, as respostas deviam ser diversas e os instrumentos para a solução dos problemas não poderiam ser os mesmos. Os cristãos latino-americanos buscavam por si mesmos, a solução para seus problemas e suas angústias. Assim, além da filosofia perene, passaram a utilizar o instrumental trazido pelas ciências sociais.
Entrento o comportamento dos cristãos da América não ocorre desassociado dos movimentos mundiais. Ao longo do século XX a Igreja Católica desenvolveu uma política de concentração de poder na cátedra romana[6], diminuindo a ação dos episcopados, tornando os bispos quase que transmissores das disposições vaticanas e subtraindo o múnus dos leigos. O papel do leigo na Igreja era, basicamente, assistir aos atos litúrgicos e, na sociedade, chegar aos locais em que não eram aconselháveis a presença do clero.
Após o vendaval da ação dos governos liberais latino-americanos no último quartel do século XIX, a Igreja se refez ao conciliar com esses mesmos liberais no início do século XX; depois, quando já começava o esgotamento da aliança com a oligarquia liberal, nos anos quarenta, a hierarquia promoveu alianças com os governos populistas de vários os países latino-americanos. Em algumas regiões da América havia uma tendência mais radical, a que buscava fazer uma revolução de maneira mais impaciente. Os anos cinqüenta novas adequações deviam ser feitas. Em todas as partes do continente explodiam os limites de tolerância das camadas sociais “menos favorecidas”, como se dizia. O modelo populista foi sendo exaurido pelas modificações e crises do capitalismo.
Alguns casos
No caso da Argentina, A maioria dos bispos viu no peronismo a possibilidade de uma restauração da cristandade. [7] Mas essa aliança rompe-se em meados da década de cinqüenta e, nessa ruptura com o populismo peronista a Igreja argentina ficou mais próxima dos grupos de tendência mais à direita. Ao retorno de Perón, após o exílio, a Argentina foi-se levando ao regime de exceção, a uma ditadura preocupada com a conservação do Estado Nacional, com a proteção e a segurança desse Estado. A hierarquia católica seguiu os novos donos do poder, calando-se sobre o sofrimento dos homens e mulheres argentinas, que possivelmente podiam perguntar: onde Deus estava? Será que as Loucas da Praça de Maio não faziam essa pergunta?
No Brasil, outro grande país da América Latina, desde 1930 a hierarquia vinha desenvolvendo uma política de aliança com Vargas e as oligarquias regionais, os anos cinqüenta ainda foram de colaboração, agora já dentro do espírito nacional-desenvolvimentista. Quem não se lembra da participação dos bispos nos debates em torno da criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazonas – SUDAN, e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE?
A segunda metade do século passado foi também o período em que a sociedade, a Igreja brasileira, bem como toda a América Latina, terão que confrontar-se com o problema agrário. A modernização, ou a atualização das relações da região com as novas tendências do capitalismo, geraram conflitos que tornaram explícita a existência de nascimento de novos atores sociais, e também de uma igreja popular. Uma parte significativa da hierarquia pôs-se ao lado da tradição, enquanto outra parte buscava estar presente no local da desolação e da esperança. E eram muitos os grupos sociais e partidos políticos que se aproximaram desses novos atores sociais. A Igreja foi um deles.
Uma fresta para o mundo
O final dos anos cinqüenta foi interessante para os cristãos de maneira geral, porém mais interessante para os da América Latina. A guerra fria entre as duas grandes potências chegava ao espaço sideral com a viagem de Yuri Gagarin; as esquerdas estavam perplexas com o relatório de kruchev; a Revolução chegava ao Mar do Caribe – Cuba; os Estados Unidos da América do Norte deram início à corrida espacial, e o novo papa, João XXIII, começava a falar da realização de um concílio ecumênico.
O Concílio Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII, foi chamado para discutir os problemas que os cristãos enfrentavam no mundo moderno, mas eram especialmente os problemas dos católicos europeus ou do que se convencionou chamar de Primeiro Mundo. Os pobres da América latina, da Ásia e da África não haviam sido chamados – sejamos claros – como convidados de primeira hora, nem mesmo como protagonistas, eram parte da cena – deveriam ser. Chegaram aos poucos, contando com poucos aliados na Cúria Romana. Durante o Concílio parte da Igreja descobrirá que existe um mundo além da Europa. Que existem outros problemas além dos problemas europeus. O Concílio Vaticano II pouco disse para os católicos não europeus, sobre os problemas dos católicos não europeus e a partir da realidade dos católicos não europeus. Por isso os bispos da América Latina perceberam que era necessário discutir os problemas dos cristãos latino-americanos, a partir da realidade vivida por esses cristãos.
A Conferência Episcopal da Latino América – CELAM, havia sido criada em medos dos anos cinqüenta, uma tentativa de possibilitar uma visão “holística”, capaz de superar as visões localizadas dos bispos em um que se globalizava. À medida que pessoas de diversos lugares se encontram, elas criam a possibilidade de entender que os seus problemas locais estão ligados com os problemas de outros lugares: o mundo não formado por mundos isolados, e é católico em seus problemas, ou melhor os seus problemas são universais, globais. Ainda durante o Concílio pensou-se em uma assembléia dos bispos para estudar, verificar o que eles poderiam fazer diante de uma situação que fazia com os que alguns que viviam na América latina e dela, perguntassem: onde está Deus?
Depois do Vaticano II foi necessário um outro concílio na América e este foi realizado na Colômbia. Naquele país havia uma Igreja que quase não havia notado a existência do Concílio Vaticano II, exceto nas questões litúrgicas. A hierarquia e o clero colombiano não estavam preparados para a II Conferência Episcopal da América latina, ocorrida em Medellín, em 1968. Mas a maior parte dos bispos e suas igrejas também não estavam preparados.
O Vaticano não é o início
É necessário, contudo, entender que mudanças estavam ocorrendo nas igrejas do continente bem antes do Concílio, embora não em todas. Não devemos, não podemos responsabilizar o Vaticano II por tudo que ocorreu em nosso continente. Embora não possamos dizer ter sido ele o iniciador das ações que geraram uma prática cristã católica mais rebelde, quase revolucionária, também não há como negar o seu papel catalisador. Bem antes do Concílio, jovens, de diversos países, estavam indo à Europa com o objetivo de completar seus estudos teológico, como vinha ocorrendo desde o final do século XIX, com a criação do Colégio Pio Latino-americano e do Colégio Pio Brasileiro. Também era grande o número de jovens seminaristas que foram completar seus estudos em Louvain, o que significa que alguns tiveram uma formação diversa daquela que era ofertada pelos institutos romanos de formação teológica. Esses jovens entraram em contato com as questões que angustiavam os europeus, era uma angústia provocada pela descolonização, pela perda dos impérios, pela necessidade de entender as novas liberdades que lhe eram dadas.
Um Terceiro Mundo surgia e obrigava à novos diálogos. Um desses diálogos era com os diversos humanismos, fazia-se o diálogo com aqueles que sempre haviam sido anatemizados, como os marxistas, [8] além do necessário diálogo com as outras religiões. A consciência dos cristãos começava a ser afetadas pela realidade social e, jovens teólogos começavam a utilizar os instrumentos oferecidos pelas ciências sociais com o objetivo de compreender os caminhos que levaram à construção das desigualdades e das injustiças. Mas também procuravam entender quais os caminhos que deveriam ser trilhados para a superação das injustiças. Por terem sido, os anos setenta e oitenta, os anos de maior proliferação das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs – ao longo de todo o continente, somos tentados a esquecer que já no início dos sessenta, muitos jovens católicos desenvolviam esforços para conciliar o cristianismo com os parâmetros do mundo moderno, como por exemplo o marxismo, na busca de uma sociedade de caráter socialista e cristão baseado na justa distribuição das riquezas.[9] Los marxistas luchan por la nueva sociedad, nosotros, los cristianos, deberíamos estar luchando a su lado.[10]
Rebeldes e controle
No Brasil, ocorria o choque entre os avanços dos pensamentos e das práticas da Ação Católica em seus diversos segmentos, mas especialmente a Juventude Universitária Católica – JUC. A JUC era um grupo de proeminência e de vanguarda, braço da hierarquia nas universidades, como desejava o episcopado, mas que, nas escaramuças para a conquista dos espaços políticos no meio estudantil, viu-se forçado a assumir posições que escapavam do controle dos bispos. Isso, a perda de controle por parte dos bispos, ocorria até entre os religiosos, como se sabe dos fatos entre os dominicanos que animaram a publicação do BRASIL URGENTE[11] , que veio a ser fechado após o golpe militar ocorrido em abril de 1964, após o padre responsável (frei Josaphat) pelo acompanhamento dos jovens que faziam o jornal ter sido afastado da função. A própria JUC veio a ser definida como entidade não católica, provocando a perda de jovens, para a Igreja. [12] Mais tarde eles formaram a Ação Popular, entraram em movimentos guerrilheiros, sofreram o exílio e finalmente retornaram após o movimento que levou à anistia e nova redemocratização do país, alguns se tornando dirigentes políticos e de partidos, alguns até na direção do executivo federal, no início do século XXI.
Enrique Dussel diz ao se contar a história da Igreja na América Latina, a Revolução Cubana, dirigida por Fidel Castro e Che Guevara, deve ser tomada como marco limite. 1959 é também o ano em que o padre e sociólogo Camilo Torres retornou para a Colômbia, após estudar cinco anos em Louvain, Bélgica. Ao chegar a seu país fundou a Faculdade de Sociologia na Universidade Nacional e, em seus cursos e no contato com os estudantes, aprofundou suas as análises sobre os problemas que impedem o desenvolvimento da Colômbia. Em pouco tempo passou a ter problemas com as autoridades eclesiásticas do seu país. No ano de 1961, um grupo padres que organizou debates teológicos em comunidade dominicana na Colômbia foi afastado. A Igreja estava muito comprometida com os setores dominantes para permitir que alguns jovens de idéias mais livres, mais adequadas aos novos tempos e necessidades, quase chegando ao marxismo, viessem a criar problemas para a tranqüila Colômbia. Em 1962 Camilo foi destituído da cátedra pelo cardeal Luis Concha Córdoba. Camilo então começou a lecionar em faculdades laicas, viajou a outros países fazendo palestras, ao tempo em que cresceu a sua preocupação com os pobres e oprimidos e entendeu que o seu amor de cristão o leva, obrigatoriamente, a uma revolução social. Em 1965 fez publicar a Plataforma de Frente Unida, nela procurou promover a união de trabalhadores, estudantes, intelectuais cristãos. Em julho daquele ano solicitou a sua laicização. O seu pensamento, a sua maneira de entender o viver o cristianismo não se adequava às exigências dos acordos de cooperação que a hierarquia vinha mantendo com os liberais, seus antigos inimigos. No mês de janeiro de 1966 Camilo passa a integrar o Exército de Libertação Nacional. No mês seguinte, a 15 de fevereiro, Camilo Torres morre em seu primeiro enfrentamento militar. A insensibilidade da Igreja Colombiana em verificar a situação de seu povo no início dos anos sessenta talvez seja uma das origens da situação caótica que vive ainda hoje aquele país.
Durante as décadas de sessenta e setenta foram muitos os cristãos católicos que derramaram o sangue em toda a América, entendendo que a opção pelos pobres, - sem adjetivo explícito nos Documentos da Conferência de Medellín (1968), silenciada na Conferência de Sucre (1972), adjetivada simplesmente na Conferência de Puebla (1979) e com muitos adjetivos em Santo Domingo (1992) – era uma opção que passaria por uma revolução. As adjetivações diminuem o caráter rebelde e revolucionário dessa opção. Mas os rebeldes não esqueciam as orientações do “conservador” Paulo VI que parecia entender certos arroubos juvenis diante da “injustiça institucionalizada” que se via na América Latina. [13]
O abrandamento da opção pelos pobres, não diminuía os anseios de libertação das camadas que estavam no sofrimento, quase esquecido de Deus. Aqui e acolá vieram alguns documentos eclesiais lembrar com frases bíblicas que deus ouvia os clamares do seu povo. [14] Mas nem sempre os que definiam o que Deus devia ouvir concordavam com o que diziam os “rebeldes” da América Latina. A teologia da libertação, reflexão que vinha desse encontro com os pobres é questionada e posta sob suspeição pelo presidente da Congregação de Defesa da Doutrina e da Fé. Colocada sob suspeição, a Teologia da Libertação nunca foi formalmente condenada, embora jamais tenha deixado de estar sob fogo cerrado dos grupos conservadores e temerosos das mudanças.
No mesmo ano em que se reuniam os bispos da América Latina, em Santo Domingo, ocorria, na Nicarágua um processo revolucionário que pôs, lado a lado cristãos e não cristãos, católicos e marxistas, nos campos de batalhas. Os cristãos justificavam a sua presença na luta revolucionária, não por ideologias, mas pela sua própria fé. Assim ocorreu a Ernesto Cardenal, que lutava contra a ditadura que afligia a Nicarágua mais de meio século, e muitos outros que foram publicamente repreendidos pelo papa João Paulo II, no ano de 1983. Três anos antes havia sido assassinado, em plena ação litúrgica o arcebispo de El Salvador, Dom Oscar Romero, e este martírio foi solenemente ignorado pelos líderes maiores do catolicismo. Em um dos seus últimos sermõe disse: "Aquilo que faço é um esforço para que tudo aquilo que nos propôs o Concílio Vaticano II e as reuniões de Medellín e Puebla não fiquem no papel e não nos limitemos a estudá-los teoricamente". [15] Parecia também que Deus não estava vendo o que ocorria na Guatemala, uma vez que os camponeses não possuíam terras, e o massacre que ocorreu no país pouco interessava ao defensor da Doutrina. A rebeldia contra as injustiças era entendida, pelos controladores da ortodoxia, como uma rebeldia à doutrina. E muito interessante, não podemos deixar de lembrar, que um dos que mais criticava aqueles que entendiam como injusta um situação de miséria, que se rebelaram contra a injustiça na América Latina, venha hoje, quase se rebelando contra Deus, e perguntar onde Deus estava quando os homens – não todos, não se rebelaram contra o nazismo.
Conclusão
O Catolicismo Rebelde teria ocorrido nos anos sessenta e setenta do século passado. Mas, se observamos bem, foi um tempo de rebeldia de uma juventude que se cansara da acomodação que viera do sucesso da luta contra o nazi-fascismo e do sucesso da reconstrução européia; foi uma rebeldia nascida do tempo e no tempo em que certos modelos sofriam desgaste tal que, nem mesmo Deus suportava a inanição diante do sofrimento. Apenas os responsáveis pela ordem, seja na Igreja, seja nos Estados não compreendiam que havia que se realizar mudanças. Lembremos da revolta dos jovens americanos que seguiam os protestos de James Dean, Elvis Presley – o Rock on rool; dos jovens franceses no maio de 68, contra o marasmo nas universidades e na sociedade; os jovens da Primavera de Praga;os jovens mexicanos que foram metralhados no espaço de sua universidade; os jovens brasileiros inconformados com os limites impostos pela ditadura militar; os jovens americanos que se recusavam a acatar o chamamento do exército para morrer na Guerra de Independência do Vietnan; o movimento hippie e muitos outros. A rebeldia católica não ocorreu por causa do catolicismo ou do concílio Vaticano II, essa ocorreu porque os católicos estavam vivendo em um mundo que se rebelara e estavam atentos aos sinais dos tempos.
Depois os católicos continuaram católicos, a sua rebeldia tinha o limite da sua pertença a instituição e do seu tempo. Como todos eles tinham uma causa pela qual poderiam se rebelar e rebelaram-se, enquanto católicos durante algum tempo, depois .... Depois, muitos sucumbiram ao tempo, talvez alguns perderam a sua identidade como católicos; talvez se cansaram de lutar em duas frentes: a interna, o enfrentamento dos líderes da Igreja que mais um vez estavam atualizando as alianças com a nova situação mundial; e a frente externa, pois o mundo pareceu ter cansado de tentar mudanças estruturais e estava optando por mudanças conjunturais. Entretanto, o fermento da esperança parece que continua, pois a história ainda não acabou.


BIBLIOGRAFIA


AZZI, Riolando. O concílio Vaticano II no contexto da Igreja e do mundo: uma perspectiva histórica. In REB. Fasc. 262. abril/2006.
BOFF. Leonardo. O caminhar da Igreja com os oprimidos, do Vale de Lágrimas à Terra prometida. Rio de Janeiro: Codecri, 1980
BOTAS, Paulo Cezar L. A bênção de abril, “Brasil Urgente”. Memória e engajamento católico no Brasil 1963-1964. Petrópolis: Vozes, 1983.
GAROUDY, Roger. Do Anátema ao diálogo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
Martina, g. Matina, Giacomo. História da Igreja, volume IV. São Paulo: Edições Loyola, 1997.
NAVARRO, Edgar Camilo Rueda. Biografia política de Camilo Torres .http//www.marxists.org/espanol/camilo/biografia.htm - no dia 9/6/2006
Boletim Semanal da Rádio do Vaticano, 23/03/2005. Visto na internet no dia 6/7/2006.
RICHARD, Pablo, Mortes das cristandades e nascimento da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1982.
SILVA, Severino Vicente da. Entre o Tibre e o Capibaribe: Os Limites do progressismo católico na Arquidiocese de Olinda e Recife. Tese de Doutorado. Recife: Prorama de pós-graduação de História – UFPE. 2003. (mimeo)
DOCUMENTOS:
OUVI OS CLAMORES DO MEU POVO. Documento do Regional Nordeste II, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 1973.
Paulo VI. Populorum Progressio
[1] Quinta-feira, 6 de julho às 19h00min: Local: Livraria Cultura Paço Alfândega - R. Madre de Deus, s/n - loja 135 - Recife/PE
[2] Professor do Departamento de História da UFPE
[3] Referimo-nos a uma experiência francesa, de padres operários. Ele foi proibida após a prisão de alguns padres em uma manifestação anti-americana durante a visita de um general estadunidense. Suspensa durante o pontificado de Pio XII, a experiência dos padres operários veio a ser definitivamente proibida por João XXIII.
[4] Este é um momento na história universal que se diz Descolonização, a desestruturação dos impérios império coloniais europeus na Ásia e África, criados pela expansão da Revolução Industrial.
[5] Pablo Richard, em Morte das Cristandades, nascimento da Igreja.publicado pela Editora Paulinas, , aponta que ocorreu nesse momento uma adequação da Igreja aos governos populistas que então se organizavam na América Latina.
[6] AZZI, Riolando. O concílio Vaticano II no contexto da Igreja e do mundo: uma perspectiva histórica. In REB. Fasc. 262. abril/2006. [337-369]
[7] RICHARD, Pablo, Mortes das cristandades e nascimento da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1982. p 121.
[8] Um dos grandes momentos desse diálogo foi organizado por Roger Garoudy, posteriormente publicado sob o título, no Brasil, – Do Anátema ao diálogo, pela Civilização Brasileira.
[9] NAVARRO, Edgar Camilo Rueda. Biografia política de Camilo Torres .http//www.marxists.org/espanol/camilo/biografia.htm - no dia 9/6/2006
[10] Camilo Torres apud Edgar Navarro.
[11] BOTAS, Paulo Cezar L. A bênção de abril, “Brasil Urgente”. Memória e engajamento católico no Brasil 1963-1964. Petrópolis: Vozes, 1983
[12] Difícil esquecer o comportamento do Arcebispo Scherer, de Porto Alegre.
[13] Paulo VI. Populorum Progressio.
[14] Documento do Regional Nordeste II, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 1973.
[15] Boletim Semanal da Rádio do Vaticano, 23/03/2005. Visto na internet no dia 6/7/2006

domingo, maio 20, 2007

De Afonso Celso a Chalaça

Continuam a aparecer notícias sobre as melhoras que o Brasil vem vivendo nos últimos anos. A riqueza tem aumentado, as divisas têm crescido, vive-se mais tempo, "nunca antes na história do Brasil este país cresceu tanto", e a bolsa de valores deve um pedido de desculpas ou um ato de agredecimento ao atual presidente do Brasil, pois ela, a bolsa, nunca esteve tão bem. Comer frango tem se tornado algo comum desde o tempo de FHC e agora, os fundos de pensão estão investindo da Bolsa e o Brasil está cada dia mais aceito no mercado internacional. A coisa está tão boa que, além da Bolívia e Argentina, o Brasil já é considerado capitalista e explorador no vizinho Paraguai. É preciso cuidado para não ficar tomado por um acesso súbito de complexo de Afonso Celso.

Embora não queira parecer pessimista nem ati-patriótico, preocupo-me com índices educacionais e culturais. Os vejo como melhores indicadores do presente/futuro do Brasil. Poucos museus, poucas bibliotecas e poucas livrarias. Talvez uma por centro de compras - shoping center -.

Estive em Santo Antonio de Jesus, BA, cidade de mais de cem mil habitantes e não encontrei livraria; moro em Olinda, primeira capítal cultural do Brasil - lugar onde papelaria é sinônimo de livraria. O mesmo se diga para as demais cidades da Região Metropolitana do Recife. Cidades como Carpina, Nazaré da Mata, Goiana, Pesqueira, Belo Jardim, Arcoverde, Vitória de Santo Antão, Palmares, Belém do São Francisco, Serra Talhada, Salgueiro - cada uma dessas cidades tem ao menos uma faculdade, um estabelecimento de ensino superior, mas nenhuma tem livraria. O que isso significa?

No Recife, as bibliotecas públicas são as mesmas de minha infância - Casa Amarela, Afogados, Estadual no Treze de Maio. Escuto que a zanga que os brasileiros têm dos argentinos é decorrente - ainda que não saibam, de que há mais livrarias em Buenos Aires que em todo o Brasil.

Leio, no Jornal do Commericio deste domingo, um artigo do escritor Raimundo Carrero dizendo que as pessoas que se opõem ao projeto do prefeito da cidade para um parque no Bairro de Boa Viagem são intransigentes. Para mostrar a intransigência dessas pessoas, ele lembra que já está ficando velho, mas ainda se lembra de como foi intransigente na juventude quando: foi contra o porto de Suape, foi contra o Centro de Convenções, e lembra que alguns foram contra a ~modificação do Marco Zero. Lembra também que o Porto de Suape e o Centro de Convenções e o Marco Zero, apesar das oposições, estão hoje funcionando e vem trazendo benefícios para Pernambuco. Como atual prefeito já disse que o futoro mostrará que ele, o prefeito, tem razão, o nosso escritor e homem de cultura, utilizou o passado para acusar os que discordam da atual administração de "intransigência".

Chamar o passado, advogar a presença do futuro e não viver o diálogo presente. O presente é meio ficção. O escritor é ficcionista.

As três grandes obras citadas pelo escritor foram feitas sem a consulta à população. Elas trazem benefícios hoje, mas o porto de Suape afetou o equilíbrio ecológico, fazendo crescer o número de tubarões frenquentadores das águas em Boa Viagem; o Centro de Convenções tem trazido riquezas para o turismo no Estado, mas até agora não está integrado à vida da cidade. Essas duas obras foram pensadas e paridas durante a Ditadura Militar, que a todos achava "intransigentes" por não compreenderem os benefícios que elas viriam trazer. Ouvi de um progressista, a respeito da cosntrução da avinida Agamenon Magalhães: Não se pode ir contra o progresso.
Todas as obras trazem benefícios. A questão é saber quem são os beneficiários. Quanto a mudança no Marco Zero da cidade do Recife, o que se discutiu foi o método, a pressa e a falta de respeito à história do Recife, especialmente aquela que está - no caso estava - guardada no subsolo da cidade atual. (À época escrevi um artigo publicado no Jornal do Commercio, demonstrando a minha intransigência. Ainda não estou velho o bastante.) Não foram feitas as averiguações arqueológicas necessárias. o Fato de agora todos estarem felizes dançando naquele espaço, não me impede de dizer que o prefeito da época não considerou com respeito a opinião dos cidadãos da cidade, não pode, também, ser motivo para dizer que os que não concordam do caminho que as coisas tomaram são intrasigentes. Mas o que dizer dos intransigentes que foram contra a destruição d Igreja dos Martítrios para a construção da Avenida Dantas Barreto?

A população, nesse país que só considera a opinião de alguns, especialmente os vacacionados para Chalaça, terminará por ter mais um espaço para eventos "culturais" (isso é sinônimo de show, tanto faz se brega ou cult). Ela terminará por "com Oscar Niemeyer e João Paulo, assinar esta obra", como diz o escritor. Mas teremos menos verde do que temos, e não haverá muito espaço para a leitura de livros. Haverá alguma livraria, é caro escritor?

sexta-feira, maio 18, 2007

Pedregulhos a vencer - picos a conquistar

Li nojornal de hoje que um parlamentar federal, diante das prisões ocorridas por conta de descoberta de fraudes em licitações públicas, envolvendo ex-governadores, prefeitos, deputados, assessores de ministérios, disse que não via motivos para comemoração com essas prisões, uma vez que ninguém sabe onde isso pode parar. Esse comentário, que segundo o Diário de Pernambuco, teria sido feito ao presidente do Senado, mostra claramente o nível de relaxamento moral em que se encontra o país, ao menos um certo setor que é tomado por elite.

Ao longo dessa semana a Polícia Federal vem realizando prisões, de alguns peixes mais graúdos no sitema do crime. Estarrecedor como as instituições estão minadas, com agentes que deveriam primar pela defesa da sociedade, mas preferem ser complascentes e, em busca de vantagens e ganhos fáceis - um carro, pagamento de férias, etc - passam a viver à margem da lei, pois se entendem acima da lei. Esse é um aprendizado longo, um treinamento extensivo, que é realziado com a supervisão de muitos professores e outros agentes educadores. Temerosos de serem mal vistos pelos superiores e pelos alunos, muitos preferem não perceber o desleixo cultivado pelos seus pupilos.

Talvez Nietzsche tenha razão quando diz que professores podem ser dispensáveis - como os comerciantes - por serem causadores dos problemas, por preferirem estabelecer-se na média e não tentar superar as dificuldades. Poucos dias são passados quando solicitei a um aluno que lesse, em voz alto um parágrafo. Ele disse que não o faria pois era um desastre em leitura. Então eu disse: uma vez que você sabe o problema que tem, é o momento de superar. Ele riu. Esse fato ocorreu em uma sala do oiavo período de um curso universitário. Seja dizer: ao longo de 15 anos de escola, não ocorreu a nenhum professor que aquele estudante deveria saber ler um texto em voz alta, pois a vida social exige isso. Considerando que, na maioria dos casos os professore são provenientes das camadas "menos favorecidas" econômicamente, e os estudantes tem origem no setor "mais favorecido", e como poucos servos ousam confrontar-se com os senhores, bem que os professores podem ser dispensáveis: eles não exercem o seu papel e, muitos o fazem mais por interesses imediatos que por uma opção de projeto de vida. Ecce Hommo.

Contudo é necessário continuar a perseguir o objetivo e, na subida da montanha, quando as pedras e os obstáculos teimam em fazer desistir aquele que pretende chegar ao pico, é necessário, vez por outra olhar para cima e verificar como é magnifíca a beleza e a grandeza de vencer, usufruir talvez o isolamento de se tornar o que se deseja.

quarta-feira, maio 16, 2007

Professores: somos necessários?

No programa QUE HISTÓRIA É ESSA, que mantenho com uma equipe na Rádio Universitária AM 820, neste dia 16 de maio, entrevistei o prof. antonio Montenegro. Este é um programa que pretende apresentar os produtores da historiografia realizada em Pernambuco, ao mesmo tempo que apresenta esses profissionais para um público maior do que aquele que os encotra em salas de aula, em congressos específicos da disciplina e nos artigos de revistas periódicas. O programa surgiu da necessidade em dizer à sociedade que a produção de um saber histórico é importante para sociedade.

Entre os temas que foram levantados, pareceu-me relevante a preocupação do professor Montenegro com a possibilidade, em um futuro não muito remoto da falta de professores de história, mas não apenas de nossa disciplina. A má - péssima - remuneração que a sociedade decidiu impor aos que se dedicam a guardar e transmitir os conhecimentos e valores da própria sociedade, tem provocado a perda de interesse para o estudo e para o magistério. Em uma turma de cerca de 50 alunos, disse o professor, apenas três, afirmaram querer ser professores, e isso em um curso de Licenciatura.

Atualmente vemos o ministério da educação com um projeto de um salário mínimo para professores de R$850.00, esperando que com isso venha a crescer a procura pela profissão. Essa proposta ocorre no mesmo período em que se define que certas atividades do governo não podem viver commenos de R$10.000.00 e que com algo inferior a R$22.000.00, os deputados irão morrer de fome. Mas não é apenas uma questão econômico financeira, embora seja certo que com esses salário pensado pelo ministro não seja possível o professor pensar em ter assinaturas de revistas ou jornais para a sua atualização.

Nos últimos anos temos observado como ocorreu, talvez inconsciente, uma campanha para desprestigiar o magistério. Não são inocentes certos programas humorísticos que apresentam professores como sinônimos de idiotas ou tarados. Interessante que ho9je mesmo, o Supremo Tribunal definiu que um sequestrador, que manteve uma criança presa por mais de ois meses, venhas a aguardar o julgamento em liberdade pelo fato de ser Advogado. Isso significa que o prestígio que os advogados recebem da sociedade é tal que lhes permitem cometer crimes e ainda manter privilégios. Isso é mais próprio de regimes aristocráticos ou oluigarquicos que de democracias. Mas para entender essas nuances é necessário a presença de professores. Mas, em uma época em que não ter clareza de valores é considerado virtude, as pessoas preferem dizer com Nietzsche: "Deve, pois, considerar-se o professor como um mal necessário..."

Creio que o tema abordado em nosso programa de hoje deve ser debatido por todos quantos tenham uma tribuna, um espaço. Professores, todos nós somos sérios e queremos construir uma sociedade séria, uma sociedade que não menospreze aquele que estuda e valorize aqueles que vivem "se dando bem na vida" porque já deram os seus sonhos e projetos para Baal.

terça-feira, maio 15, 2007

Meu pai e as mudanças

Amanhã completa 11 anos da morte de meu pai, João Vicente da Silva. Em outras oportunidades ja mencionei o quanto ele foi importante na formação de minha personalidade e o quanto o admiro por ter, nascido em 1913, passado o século XX administrando as mudanças culturais em sua vida, sendo capaz de compreender e conviver com atitudes com as quais não concordava, por conta de sua história pessoal.
Como muitos dos moradores das margens do rio Capibaribe, papai foi vítima da esquistossomose, que se tornou explícita após os setenta anos. Mas lembro meu pai na pujança dos seus quarenta anos, subindo e descendo de um caminhão, desde as três horas da madrugada, até as quinze horas. Era um tempo em que não havia as centrais de abastcimento, as Ceasa. Cada domingo, saíamos de Nova Descoberta, em um caminhão, passando por várias ruas de Casa Amarela, juntando outros comerciante e seguíamos para Carpina. Mas subiam pessoas em Camaragibe, São Lourenço da Mata e Paudalho. Na beira da PE 5, eram muitas as pessaos que pediam para ir à Carpina. Era importante tê-las indo, pois elas voltariam conosco, com as mercadorias que comprassem. O pagamento das passagens garantiam o alujguel do caminhão e algum lucro para papai.
A região da Mata Norte foi, durante muito tempo, fornecedora de frutas e verduras para o Recife. Na época, a feira de Carpína ocupava quase todo o centro da cidade, pois para lá convergiam pequenos produtores para vender seus produtos, os quais eram encaminhados para as cidades litorâneas.
No início dos anos sessenta, quando fiz muitas dessas viagens na carroceria dos caminhões, vi alguns resultados do Acordo da Cana, feito por Miguel Arraes com os produtores de cana, garantindo o salário mínimo as cortadores de cana. Em muitos domingos assisti a alegria com que muitos colocavam suas camas, mesas e cadeiras no caminhão, e desciam em Chã das Onças, na entrada de Chã de Alegria. Pela primeira vez eles iam dormir em camas e sentar-se em cadeiras. Parecia haver uma revolução em andamento. Por outro lado, também assisti muitas famílias vindo definitavamente para o Recife, uma vez que os proprietários vendiam suas terras e expulsavam os moradores. Era um outra face da revolução sem violência, como li depois no livro de Antonio Calado.
Viajando com meu pai, ajudando-o a arrumar a carga de caminhões - frutas, verduras e apetrechos domésticos, vi a história sendo vivida, vi a paisagem da Mata Norte mudar.

domingo, maio 13, 2007

Avaliações primeiras da visita de Bento XVI

Aproximando-se o término da visita de Bento XVI ao Brasil, já se pode iniciar a avaliação dessa maratona de horas emotivas.

Sem dúvida os católicos brasileiros estão felizes por ter o papa escolhido o Brasil para ser o púlpito a partir do qual fala para aAmérica Latina. Mas os católicos possuem maneiras diferentes de compreender e aceitar as orientações do Pontífice romano. Ao mesmo tempo em que fortaleceu o caráter mais tradicional de ação religiosa, indicando uma evangelização mais devocional que social, com isso enfraquecendo ainda mais as tendências e práticas mais politizantes e sociais, verificou-se a ausência, ao menos nos grandes momentos, dos padres midiáticos, como o padre Marcelo. Citações diversas para os folcolarinos e quase silêncio para os carismáticos. Se não quer uma religiosidade racionalista, como a praticada pelos adeptos da Teologiada Libertação, essa visita está indicando que os carismáticos católicos não devem ser apenas envolvidos pela emoção. Razão e Emoção devem estar sob a jurisdição paterna/materna da Igreja.

A defesa intransigente da vida, um eufemismo histórico para a defesa da vida no início - condenação à prática do aborto -, uma longa tradição que vem desde as primeiras comunidades cristãs em Roma, parece ter-se alargado na defesa da vida dos jovens diante das drogas. O papa que ensina a existência do inferno, lembrou que os produtores , traficantes e vendedores de drogas têm uma reunião de acertos de conta com Deus. Se em sua viagem de chegada concordou com a postura dos bispos mexicanos que indicam a exclusão da mesa da comunhão dos deputados que votaram a valor do aborto naquele país, fato muito lembrado pela mídia, a lembrança da existência do inferno para os traficantes de drogas pareceu menos preocupantes para os meios de comunicação, que pouca atenção deram a esse tema. Aliás, Bento XVI fez afagos e admoestações aos meios de comunicação de massa. Os bendisse enquanto facilitadores de comunicação entre os homens e os repreendeu quando usuam esses meios para desacreditar os valores tradicionais e apostam no desmoronar das famílias.

Mas ao discutir a questão do aborto, o líder religioso, que também é chefe de Estado, pois é o monarca do Vaticano, colocou em questão a soberania do Estado brasileiro de legislar sem os entraves da fé religiosa. Esse debate, além de auxiliar a sociedade compreender o que significa a expressão "Estado Laico" utilizada pelo president do Brasil em sua conversa com o monarca do Vaticano, com certeza deverá fazer surgir debates como: será que um estado laico deve financiar o ensino religioso nas escolas públicas? será que um estado laico deve conceder emissoras de rádio e televisão para igrejas, para que elas, utilizando o espaço público, imponham as suas idéias aos demais cidadãos? Até que ponto o estado laico pode comviver com "bancadas evangélicas" para além dos partidos políticos?

Coo se vê serão muitos e diversos os benefícios da visita de Bento XVI ao Brasil.

sexta-feira, maio 11, 2007

Um dos objetivos de Bento XVI na América Latina

Visitas de líderes religiosos quase sempre são de importância para o gupo intrno, para a igrejas que é visitada. Algo muda quando ocorre a visita do líder de uma religião que, durante muito tempo, confundiu-se com a sociedade.

Bento XVI, em um dos seus discursos disse que o Brasil nasceu católico, numa referência à processo de sua formação, com a orientação política e religiosa dada por Portugal, um dos signatários das atas do Concílio de Trento, embora tenha feito pouco para implementá-lo no Brasil. Assim, o Brasil nasceu católico, mas de uma catolicidade pouco doutrinal, mais caseira, informal, com grande intimidade dos fiéis com a divindade e os santos. No Brasil todos sempre foram católicos, especialmente nos aspectos formais e externos. contudo, os valores da sociedade se confundiam, ou pareciam se confundir, com os valores religiosos.

As coisas mudaram no Brasil, como mudaram nas demais partes do mundo criado pelos europeus. O processo de secularização promoveu descompasso entre os valores religiosos e os valores práticos vividos pela sociedade. Necessário se fez separar, distinguir as esferas: o religioso e o profano. A César o que é de César, a Deus o que é de Deus. Mas para o catolicismo, embora se reconheça que a certas esferas sociais que prescindam das palavras do religioso, uma das razões de sua existência é a possibilidade de influenciar o mundo secular, o mundo de césar. Essa uma das razões da discussão sobre a defesa intransigente da vida, uma maneira que os religiosos encontraram para combater o aborto sem mencioná-lo.

É evidente que o catolicismo, a Sé Romana, entende que os Estados têm o direito de legislar para os seus cidadãos, independente da religião que eles celebram, pois o Estado definiu-se como leigo, e compromete-se em não intrometer-se nos programas de qualquer religião. Por outro lado, a Sé Romana lembra que aos católicos a primeira obediência é aos princípios religiosos, por isso ela insiste que os católicos devem assumir a defesa aintransigente da vida. No México, os bispos disseram que os deputados católicos que votaram a favor da liberação do aborto não poderiam mais comungar. Não podem comungar, dizem os bispos, não por serem deputados, mas por não terem agido como católicos. Esse é o drama que muitos católicos irão viver e terão de conviver. É um maneira da Igreja´Católica dizer: ser católico tem um preço, pois é um compromisso. O que surpreende a muitos é que antes a Igreja nunca havia sido tão explícita quanto a isso no Brasil. Isso surpreende a muitos, inclusive aos católicos, que jamais haviam atentado a esse ponto.

A visita do Papa Bento XVI, mais do que preocupar-se com o cresciomento das outras denominações cristãs, parece indicar que a Igreja está interessada na formação de católicos mais comprometidos com a sua doutrina e os comportamentos decorrentes.

quarta-feira, maio 09, 2007

os 13 de maio

Frei Antonio de Santana Galvão será declarado santo com o seu nome de batismo neste dia 13 de maio, um dia bastante interesante na história do catolicismo e na história do Brasil.

Para o catolicismo, a data lembra a aparição ocorrida em Fátima, Portugal, no início do século XX, avivando a fé católica, em um período de grave tensão para esse ramo do cristianismo na Europa. As idéias liberais pareciam apontar para o fim das religiões, espcialmente a Católcia. A Igreja havia perdido os territórios pontifícios e, o avanço da ciência e da razão parecia tornar competamente obsoleto o sentimento religioso. O avanço das idéias socialistas e comunista davam conta de um mundo que se tornaria ateu e autônomo em relação às religiões, especialmente do catolicismo que vinha soberano na Europa desde o século IV.

O aparecimento da mãe de Jesus a três crianças serviu de motivação a muitos para enfrentar o que se prenunciava. Essa devoção a Maria é que fez surgir no Recife o Parque 13 de Maio, organizada para as festividades do Congresso Eucarístico que aqui se realizou na década de 30.
Como 13 de maio é também data que marcou a assinatura da Lei João Alfredo, mais conhecida como Lei Áurea, muitos julgam que o parque é uma homenagem à princesa Isabel, conhecida como a Redentora. Houve até uma liderança do movimento negro que pretendia mudar o nome do parque para 20 de novembro. Essas coisas que acontecem por conta desse hábito de estudar e pesquisar pouco.

Entendo que seria bem interessante para as camadas mais pobres, morenas, mestiças e negras, estudarem, com maior interesse e simpatia, qual foi a participação de negros e mestiços - analfabetos, jornalistas, engenheiros, trabalhadores comuns - que se envolveram no processo que levou um Estado, dominado por senhores de engenho e terras, a fazer o que não desejavam: por termo à escravidão como base da produção no Brasil. Afinal, pode ser que a ação desses que assumiram a luta nas praças públicas, nos jornais e nos espaços urbanos em direção da libertação de uma parte da população que formava o Brasil, tenha alguma significância e importância para a construção do Brasil. Negar o 13 de maio da Abolição, pode ser negar uma importante etapa de nossa formação como povo, e povo brasileiro.

domingo, maio 06, 2007

Paradoxos em torno da visita de Bento XVI

Esta semana que passou foi um longo preparatório para a recepção do papa Bento XVI, líder dos católicos, que vem passar três dias no Brasil. Jornais e emissoras de televisão deram-se a pesquisar, buscar temas capazes de atrair leitores, ouvintes e telespectadores. Na verdade é um acontecimento digno de chamar a atenção dos meios de comunicação, em qualquer país, a visita de um lícer religioso. Poucos se lembram, mas o Dalai Lama recebeu´capas de revistas duas semanas antes de sua visita ao Brasil.

As religiões atraem leitores, oui talvez possamos dizer, que as religiões atraem os editores. Em nosso mundo secularizado, boa parte das notícias sobre assuntos religiosos são de crítica, às vezes um pouco de ironia e condescendência com aqueles que "ainda" crêem". Os tons cambiam um pouco quando dessas visitas e exigem cadernos especiais. então se verifica que há muita gente religiosa. e elas parecem dizer mensagens diferentes.

Nesta semana o IBGE apresentou números que mostram o estancamento de defecção dos católicos, inclusive fazendo relações com a estabilidade econômica. Neste domingio, a Folha de São Paulo anuncia que continua o vazamento de fiéis católicos. No mesmo jornal, um publicitário se afirma católico e praticante do Candomblé, não vendo qualquer problema nessa situação. Também o o Diário de Pernambuco mostra que jovens católicos não têm pejo em participar de cultos evangélicos. (Seria interessante uma pesquisa inversa) , talvez demonstrando que o termo católico - aberto para para o universo - esteja sendo entendido de maneira diversa entre os crentes católicos e os pastores católicos.

Porém, cabe ainda perguntar qual, a razão de tão grande azáfama, tão grande cuidado para com a visita do papa aos seus liderados? Muitas das pessoas que criticavam os padres "progressistas" por se imiscuirem nas questões políticas, agora lembram que o atual papa foi um dos algozes da Teologia da Libertação, (talvez a pedido dos líderes políticos de então?). Ficam sem entender como é que este homem, quando Prefeito da Congregação de Defesa da Fé defendeu a sua Igreja contra o secularismo que podia tornar os padres mais políticos que sacerdotes, agora defende a sua Igreja contra o secularismo em relações a outras instências da vivcência da fé, como a disciplina dos padres, a defesa do matrimônio, etc.

Para muitos foi interessante que o Cardeal Ratzinger diminuisse a autoridade de teólogos e padres que lutavam contra as injustças sociais inerentes ao sistema capitalista; mas para esses mesmos não interessa que o o cardeal, agora papa, venha a defender valores que põem em dúvida as duvidosas certezas de costumes permissivos da sociedade liberal individualista.

Parece que Bento XVI é um homem coerente com a sua fé. E isso pode ser problemático - um homem com certezas claras e permanentes, em um mundo que escolhe, a cada semana a sua certeza.

terça-feira, maio 01, 2007

Conceição Marista

Recentemente tenho recebido na página do Orkut a visita de rapazes e moças que foram meus alunos no Colégio Conceição Marista. Vou tentar lembrar de algumas coisas.

O Conceição Marista faz parte do complexo educacional criado pelos Irmãos Maristas que chegaram em Pernambuco no início do século XX, ainda no começo da segunda década. Os Irmãos Maristas nasceram durante o vendaval gerado pela onda de secularização gerada na Revolução Francesa. Voltados desde o início para a educação, ao aportarem no Recife estabeleceram-se basicamente em uma área "nobre" entre a Graças e Ponte de Uchoa; no Caminho Novo, depois Avenida Conde da Boa Vista e em Apipucos. O Conceição Marista fica no espaço de Apipucos, um pouco abaixo da casa Provincial, bem pertinho do Sobrado de Santo Antonio, a casa de Gilberto Freyre.

A primeira vez que entrei no espaço marista de Apipucos, ainda era meninote de oito anos, e participava de um grupo de escoteiros que havia se formado em Nova Descoberta. Ainda era Lobinho, e a usava roupa azul. Fomos àquela proriedade para simular um acampamento. Ainda hoje é uma grande propriedade. Outros contatos mantidos com os maristas ocorreram quando estudava no Instituto de Teologia do Recife, e conheci os estudantes maristas. Fiz amizade próxima com César Giusti, hoje professor do Departamento de Letras da UFPE; com Walter, e o gaúcho Nornando. Havia outros. Alguns se mantiveram na ordem, outros secularizaram-se.

Antes de ser professor no Conceição, ensinei no Colégio São Luiz, exatsmente quando havia a
introdução da disciplina Educação Artística e fiz um trabalçho experimental com a terceira série do segundo grau. Também lecionei Geografia Humana na sétima série.

Meu período no Conceição Marista, colégio que atendia, ainda atende, alunos de camadas "menos favorecidas" e, lá eu trabalhei como resultado de um convênio havido entre a Prefeitura do Recife e os Maristas. Na época eu era professor da Rede Municipal de Ensino, e fui cedido para atender o convênio. Foram dois anos e meio de aulas, cheio de amizades e belas discussões com alunos e colegas professores. Havia uma resolução que definia os melhores alunos do Conceição ganhariam bolsas para estudar o Segundo Grau no Marista da Conde da Boa Vista. Os que para lá foram eram apreciados pelos professores das ciências Humanas que se orgulhavam daqueles adolescentes que podiam debater os temas das aulas e não apenas decorar. Vez por outra os encontro: alguns em seus ambientes de trabalho, outros estão cursando pós-graduação (História, Filosofia) e sempre com belas lembranças daquele período em que eles começavam a descobrir as maravilhas do mundo. No conceição Marista ensinei as turmas da 5a. à 8a. séries.

Em uma grave crise pessoal e profissional que me fez sair do Recife durante algum tempo, os meus alunos do Conceição Marista deram-me alento com suas cartas no período em que vivi no Rio de Janeiro. Devo muito a todos e deles tenho orgulho.