quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Vozes da Democracia

Recebi, da professora Socorro Abreu e Lima, o belo livro com o título Vozes da Democracia, História da comunicação na redemocratização do Brasil, publicado pela Imprensa Oficial do Esstado de São Paulo , Intervozes, e Coletivo Brasil de Comunicação Social, no ano de 2001. O livro analisa a participação e contribuição do setor de comunicação, especialmente revistas e jornais, ao longo da Ditadura Militar, para o processo de redemocratização do Brasil. A análise é feita considerando a geografia físico-política, o que nos mostra a geografia da resistência democrática. São os contextos do Sul, Sudeste, Centre Oeste, Nordeste e Norte.
Embora o livro comece pelo Sul, iniciei a leitura pelo Nordeste. No depoimento do professor Denis Bernardes, já aparece o cuidado de não confundir Pernambuco com toda a região, o que os editores não o fazem, pois encontramos descrições de experiências ocorridas na Bahia, Ceará, com menores menções aos demais Estados. Bom indicativo para os que desejem aprofundar pesquisas sobre esse período "esquecido na memória das jovens gerações".
Às vezes esse esquecimento vai sendo construído, com certas memórias que são lembradas por conta da história mais recente. Esse é o caso de quando alguém menciona as primeiras greves dos trabalhadores, ainda no ano de 1979, em Pernambuco. Todos lembram a greve dos Trabalhadores Rurais e, erroneamente falam da ação do Sindicato dos Professores da Rede Oficial de Ensino, como sendo as primeiras realizadas em Pernambuco. A greve dos professores da Rede Oficial ocorreu em 1980. Até popdemos entender esse fenômeno por terem, nos anos seguintes, essas categorias se organizado melhor, especialmente o sindicato dos professores da Rede Pública e de terem, os trabalhadores públicos sido mais notáveis na organização das centrais sindicais que surgiram depois. Contudo, é necessário que se debruce sobre os jornais do ano de 1979 e, quando tal se fizer, se encontrará que as duas primeiras greves ocorreram no mesmo dia: a dos professores da rede particular de ensino e a dos motoristas de ônibus. Enquanto os professores procuraram seguir todo o ritual para a greve ser reconhecida pelo Ministério do Trabalho, os motoristas sairam ilegalmente. Isso fez com que houvesse uma relação de apoio das categorias, provocando confusão para a polícia, pois não sabia se reprimia os motoristas - ilegais - ou protegia os professores - legais. (Caso interessante foi o de um motorista que colocou o ônibus na frente do portão de uma escola e furou os pneus, impedindo o acesso de alunos e fura-greves). Será muito interessante que os professores militantes daquele movimento - Mário Medeiros, James Beltrão, Edmilson Menezes, Vera Gomes, entre outros - produzam algum documento para que haja um melhor conhecimento daquele instante de reorganização do SIMPRO-PE. Isso não mudará a explicação do processo e das tendências sociais, mas aprofundará o conhecimento de um movimento social.

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