sexta-feira, fevereiro 16, 2007

As cidades sonhadas pelos renascentistas

O texto que vai abaixo é o primeiro dos painéis que foram apresentados neste semestre.




Universidade Federal de Pernambuco
Departamento de História
Prof.: Severino Vicente da Silva
Alunos: João Augusto e José Zito
História Moderna I


Seminário: “As cidades sonhadas pelos renascentistas”





AS CIDADES SONHADAS PELOS RENASCENTISTAS



Embora quando se fale de Renascimento pensemos imediatamente como um conjunto de idéias que se opõe à Idade Média – vida contemplativa e vida ativa, mundo fechado e universo infinito, etc. –, é importante salientar que este movimento tem como característica a justaposição de concepções provenientes tanto do pensamento medieval quanto das inovações que propunha a partir de então; até porque o processo de mudança, predominantemente cultural, é um processo lento e gradual e não se pode considerar o Renascimento como um momento de ruptura que anula a tradição anterior, nem, no limite, opor o saber escolástico ao saber racional, pois é a partir da presença dessas múltiplas formas de pensamento que se abrem os novos horizontes para o mundo e para o homem.[1]
Dessa forma, podemos identificar a origem das cidades ainda na Idade Média, sobretudo após a revolução comercial do século XIII. As grandes feiras realizadas em pontos estratégicos de entreposto comercial fizeram surgir as cidades num sentido mais contemporâneo do termo, com características propriamente urbanas. Aos poucos essas cidades foram se tornando o espaço das transformações do período renascentista; assim também o objetivo das reflexões de muitos pensadores – como, por exemplo, Alberti, Morus, Bacon, Campanella. Na verdade, há uma alteração de valores decorrentes da renovação mental do homem moderno estabelecendo transformações essenciais no campo filosófico: a instauração do campo da crítica e a valorização dos métodos de comparação.
Esse processo de abertura teve como base a ampliação do conceito de alteridade[2], oriundo da descoberta do Novo Mundo. Como podemos comparar algo sem que haja um modelo de comparação? Daí a importância dos relatos advindos dos cronistas viajantes. Como decorrência, estabelece-se um forte vínculo entre o Novo Mundo e a Europa renascentista, não porque se verificam os movimentos das descobertas, mas pela complementaridade cultural[3]. Há como que um desejo intenso de conhecimento acerca do (Novo) mundo, acarretando o desenvolvimento da crítica social e desempenhando importante papel na produção das cidades ideais e utópicas. A partir de então, abre-se um processo de rediscussão do significado da civilização e da idéia de Europa.[4]
Tomemos como exemplo a “Abadia de Telêma” de Rabelais[5]: Gargântua oferece a Frei Jean uma das grandes abadias da Europa pelo sucesso na empreitada. A resposta do monge inicia a descrição espacial da nova abadia e introduz os elementos de oposição às situações reais, pois, na resposta, o monge descarta a possibilidade aventada por Gargântua, dizendo-se incapaz de dirigir a si mesmo, e ressalta os aspectos negativos das grandes abadias. Mas, no final o frei propõe a construção de uma nova abadia – a de Telêma. Assim, podemos perceber a identificação do novo (lugar) com o ideal, mesmo que isso demonstre uma idéia de um “um outro lugar” ou de um “não-lugar”[6], característica própria das cidades utópicas.
Mas, então, passemos para a diferenciação das cidades ideais e cidades utópicas.
A diferença fundamental entre elas é que na cidade ideal há um projeto de reforma dentro das próprias cidades reais, ou seja, a cidade ideal deve conviver com a cidade real e funciona como alarme em situações de crise[7] - sendo Alberti um dos precursores dessa concepção. Já as cidades utópicas são pensadas a partir de um “lugar nenhum”, no sentido de que é a construção da cidade num lugar determinado[8], num tempo futuro. Outrossim, nas cidades utópicas há um aparente cancelamento do “eu”, e os ideais de liberdade e autonomia são regulados pelos preceitos morais contidos em cada um dos habitantes. Nas cidades ideais mantém-se o “eu” renovado e a noção de sujeito adquire o sentido de criador e planejador[9].
De acordo com Antonio Rodrigues podemos traçar algumas correspondências entre a produção de Alberti e Morus, “sonhadores” da mesma causa de um sujeito ativo e intervencionista, estabelecendo um campo de complementaridade entre eles, reduzindo as diferenças sem eliminá-las e ampliando as semelhanças:
a produção de Alberti e Morus tem um profundo sentido humanista que privilegia o homem como sujeito-construtor do mundo e promovedor das mudanças;
ambos, embora humanistas, têm um forte sentido crítico com relação às atitudes e propostas humanistas, defendendo acima de tudo a dignidade, a liberdade e a autonomia;
a força de suas considerações provém da capacidade dos dois de observar o mundo em sua dimensão universal;
ambos se preocupam com o lugar-espaço onde essas transformações adquirem forma e tomam sentido, e como um espelho constroem seu contrário ou seu inverso;
os resultados espaciais de ambos se universalizam;
por fim, ambos se inserem na produção matemática do espaçamento urbano que utiliza as formas esféricas em oposição ao quadrado da Antiguidade.
Na verdade, a cidade ideal de Alberti estava muito próxima da realidade, apresentando-se no mesmo plano da cidade real. Assim, para Alberti a cidade é sempre obre de arte, pois que construídas pelos homens e pensada enquanto espaço de garantia de sua eternidade. A cidade real vive da manutenção das idealizações, embora não possam ser consideradas como utopias. Para Alberti, o sonho é justaposto à realidade!


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Tommaso Campanella:



O autor nasceu na cidade de Stilo, na Itália em 1568. Ainda jovem seu pai lhe quis fazer jurista, mas Campanella se opôs. E saiu de sua cidade natal para ingressar na vida de monge. Quando completa seus estudos de teologia, Tommaso volta a sua cidade e fica aterrorizado com a miséria que assolava as pessoas. Com isso, entra em um grupo que estava disposto a declarar independência da Espanha. Pois nessa época a família dos Hanbsburgos dominava quase toda a Europa e as Américas. Porem, o grupo é descoberto e muitos são presos ou mortos, Campanella, sabiamente, finge-se de louco, e escapa da morte. Sendo assim, é preso onde passa 27 anos na cela. Foi solto apenas porque escreveu artigos em favor da igreja católica e assim que foi solto, foi para a França onde passa seus últimos dias. Morre no ano de 1639.




Cidade Sol:


Essa foi sua principal obra. Ela retrata uma republica oposta do que se vivia em sua época, uma republica perfeita, livre dos defeitos humanos. Nesse livro, há apenas dois personagens que dialogam em uma taverna sobre uma viajem fantástica num mundo diferente. Esse personagem é o almirante e o outro um amigo. Com monólogos extensos, o almirante descreve a nova sociedade em que entrou contato.

Algumas características, tais como:


Os cidadãos não davam valor algum ao ouro e a prata. Uma verdadeira resposta a sociedade da época de Campanella onde se morria e se matava por esses metais.
Negam ser natural do homem, mulher, casa e filhos. Para evitar que não se criem laços prejudiciais a republica. Sua família é a Republica.
Na cidade Sol era proibido que as mulheres embelezassem. Pois a maquiagem esconderia algum defeito, e isso seria prejudicial as gerações futuras. Os cidadãos solares tinham que ter físicos perfeitos.
A soberba era punida com duras penas. Todo trabalho era considerado único e precioso. Não se tem trabalho melhor ou pior. Contrapondo ao que se existia na sociedade do autor.
Os solares não tinham servos e todos se vestiam iguais. Campanella não gostava dos nobres e os condenava por não produzirem nada, pois todos os trabalhos eram lançados ao servos.
Todos os Solares trabalhavam, em media, quatro horas diárias. O resto do dia dedicavam-se à meditação, leitura e discussão.
Os habitantes da Cidade Sol nunca reclamavam do seu trabalho. Pois eles eram concebidos para aquele feito. De modo que quando a astrologia era favorável a aquela profissão, Mor juntava os casais com características físicas e psicológicas para que a criança nasça para uma determinada profissão; da qual ela será satisfeita para o resto da vida.
Para os Solares quanto mais o trabalho era árduo mais nobre era considerada aquela pessoa. Uma clara critica aos nobres que, por sua vez, eram considerado mais nobres por não se esforçarem muito.
Como era uma Cidade avançada, os Solares já possuíam a arte de voar em pleno século XVI! Talvez para mostrar o como essa sociedade era avançada em relação a sociedade em que o autor viveu. Como que afirmando o quão a sociedade do século XVI era primitiva e retrógrada.




Alem do mais, a sociedade solar estava dividida assim:

Hoh
Pon
Sin
Mor

Hoh: Era o chefe supremo da sociedade. Sendo um representante direto de Deus. Todas as suas decisões teria que ser acatadas. Tinha como função a purificação da alma das pessoas. Seu cargo era infinito ate que surgisse outro ser mais inteligente e melhor capacitado para governar.

Pon: Era o responsável por tudo que se relacionava com o aparelho militar. Era o estrategista, o que cuidava da defesa da cidade, o que treinava os pelotões etc.

Sin: era o representante da sapiciêcia. O que cuidava das artes, o que produzia as tecnologias, enfim, que cuidava da ciência.

Mor: sua principal função era de cuidar das gerações. Era o responsável pela união dos casais, pela alimentação e vestuário.


Alem da tríade acima, havia os ministérios que cuidava de assuntos menores. Como, por exemplo, o ministro das estratégias diretamente subordinado a Pon.





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[1] Antonio Rodrigues. “Os sonhos renascentistas: cidades e cidades utópicas”. In: Tempos Modernos: ensaios de história cultural. (P. 133)
[2] “alteridade” – caráter ou qualidade daquilo que é outro, do conhecimento do outro.
[3] Antonio Rodrigues. Opus. Cit., p. 134
[4] Idem, p.141.
[5] Gargântua. São Paulo: Hucitec, 1982 (caps. LII e LIII)
[6] Antonio Rodrigues, op. Cit., p.136-137
[7] Idem, p. 142.
[8] Quase todas as cidades utópicas têm como elemento comum o fato de estarem separadas do mundo real pelo braço do mar ou por um rio, adquirindo a feição de uma “ilha” isolada, como na Utopia de Thomas Morus (mesmo que tenha se transformado em ilha, já que outrora era um istmo); na Cidade do Sol de Campanella, na Ilha de Atlântida de Bacon, etc.
[9] Antonio Rodrrigues, op. Cit., p. 143.

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