quinta-feira, fevereiro 08, 2007

muitas origens

Estamos vivendo a proximidade do carnaval, um acontecimento que expõe a complexa realização que é o povo brasileiro. Nesse período, de maior descontração, de maior liberdade em relação a certos hábitos cotidianos, as casas e as ruas se confundem, com uma vantagem para as ruas.
Uma das razões dessa vitória é que as ruas ficam mais movimentadas, um maior número de pessoas saem das casas para viver mais intensamente a beleza de estar fora das paredes que cerceiam os movimentos e inibem os olhares.
As ruas ficam mais visitadas por gente de países e regiões de etnias mais definidas, de hábitos mais singularizados, onde misturas não puderam ser realizadas na formação dos povos e dos Estados. Essas pessoas querem saber e entender, como é não ser tão cartesianamente alguma coisa. Povos europeus - e não apenas europeus - que foram construídos estabelecendo fronteiras físicas, mentais e espirituais estão desejosos de saber - e de sentir o sabor - como é possível uma mesma pessoa participar de tantas manifestações, festas, de origens tão diversas e, ao mesmo tempo, não estar fora de seu lugar. Como é possível ser um sendo tantos - como disse Venícius de Moraes a respeito do Maestro Milton Santos, um pernambucano que orquestrou a Bossa Nova, nas margens de Ipanema, fez frevos e orquestrou para cantores norteamericanos.
O carnaval é uma demonstração de que não somos múltiplos, mas somos tudo, pois somos misturados. Uma mistura que pode ter ocorrido sem a intenção de ocorrer. Darcy Ribeiro brincou certa vez dizendo que o Brasil não foi descoberto por acaso, mas se formou por acaso. Os europeus quiseram chegar neste território, mas não parece que tivesem querido fazer nacer um povo.
Não gosto da expressão "carnaval multicultural", ela coloca as culturas em paralelos, justapostas e, ao fazer isso, pode criar aversão aos "estrangeiros". Não é muticultura, mas uma cultura de múltiplas origens.

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