domingo, dezembro 17, 2006

Vencendo os obstáculos e representações

Faz algum que não ponho letras nesta página. Estive no Sertão do São Francisco, especificamente na cidade de Belém do São Francisco. Ministrei uma discussão sobre teorias da História, como parte de um curso de especialização. Eram pessoas vindas de cidades diferentes, maior parte delas do Estado da Bahia. Já faz alguns meses que não chove o suficiente para manter os pequeno açudes molhados. Nós dá uma impressão que o calor não vai diminuir nunca, nem mesmo à noite. Ainda assim, as pessoas estão vivas, procurando um brecha de vida no enorme emaranhado de problemas que são postos para superá-los. E elas superam com um jeito próprio, uma aceitação marota, que vai minando o obstáculo.
Fico sem graça indicar livros em uma região que não tem livraria; exijo que eles possuam uma carga de leitura que, de antemão, sei que não tiveram, pois a sociedade se organizou de maneira que eles jamais tivessem alcançado o posto em que estão. Eles riem e aceitam as minhas implicâncias, chegam para o debate, escutam, discordam e me ensinam de novo que a vida é muito complexa e muito bonita.
No final de semana eles e elas voltaram para suas cidades - algumas estão 300 quilômetros. Vão de ônibus, estrada de barro, tmendo assaltos, que são comuns. Impressiona como essas moças - a maioria é mulher entre 20 e 35 anos - avança com medo e destemor a atravessar rios em paquetes, estradas em ônibus. Quando perdem o ôbnibus arriscam caronas. Mas, a cada mês chegam para a semana de estudos. E fazem isso todos os dias, pois são professoras que atendem alunos de cidades, não apenas do seu município.
Ficamos discutindo idéias pós-modernas. Elas e eles acompanham. Localizados nos sertões, fazem relações entre a sua vida e a queda do muro de Berlim e, no otimismo com que vivem suas vidas, procuram entender o pessismismo dos que não conseguiram terminar o ano de 1968. Entendem que são parte desse mundo, querem se apoderar dessas idéias, saber porque elas foram"vencidas" e estão interessados em saber daqueles que não ficaram debaixo do muro. Não querem se perder nas discussãoes sobre representações do mundo, mas estão querendo mudar o seu mundo concreto. O mundo pode parecer ser, para alguns, mas o sol, as estradas, os barcos, os alunos, a ausência de livros, o desejo de mudar, esses são realidade.

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