sexta-feira, dezembro 22, 2006

A Cambinda do Cumbe

Aos poucos a Zona da Mata Norte do Estado de Pernambuco tem ocupado espaços culturais e sociais que não se comparam com os da Mata Sul. A Mata Sul foi mais explorada inicialmente no processo de dominação portuguesa e durante os períodos imperial e republicano. Na galeria dos presidentes e governadores de Pernambuco pode ser percebida uma grande parte de pessoas originárias daquela região. A Mata Norte só muito recentemente concedeu governantes ao Estado. São indicações para pesquisa daqueles que se dedicam a entender a civilização do açúcar.
O massapê da Mata Sul forneceu um bom número de intelectuais e poetas lidos e relidos com os sabores dos doces e bolos dos Souza Leão e outras famílias. Na segunda metade do século XX, parece, é que tem aumentado o número de poetas e escritores da Mata Norte. Mas o que chama atenção é que hoje, na Mata Norte, a arte não escrita, não burilada, a arte que está sendo renovada e consumida é a que vem das camadas populares.
Nessa corrente é que foi publicado A CAMBINDA DO CUMBE, em torno do Maracatu Cambinda Brasileira. Vou dizer, que Cumbe é um engenho de cana de açúcar de Nazaré da Mata, onde na segunda década do século XX, foi fundado o Maracatu Cambinda do Cumbe.
Este é um livro visual e de leitura, melhor dizendo, as letras acompanham as imagens, as fotografias de Aline Feitosa, Beto Figuerôa, Elenilson Soares, Luca Barreto e Mateus Sá. As imagens apresentam um pedaço da magia do maracatu e de seus criadores, os cortadores de cana, cambiteiros, mestres do açúcar e mestres na relação com a natureza e com os espíritos da Natureza Maracatu é brinquedo sagrado, como lembram os textos falados pelos folgazões e fogazães e organizados por Sumaia Vieira e Maria Aparecida Nogueira. O Canal 03 fez a realização com apoio da GráficaJB e incentivo do Governo do Estado.
Tudo isso para dizer que o livro é mágico nas imagens e na captação dos sentimentos dos artistas que vivem da cana, não como proprietários e exploradores - pois um bom número de intelectuais pernambucanos deve o doce de suas vidas ao amargor do trabalho diário dos cortadores de cana - mas como os que sentem na pele o peso do canavial. E o livro indica como eles se tornam sacerdotes dos espíritos da Jurema, das matas que esconderam os índios; conta como eles se tornam artistas que viajam nas estrelas e nas águas buscando inspiração enquanto costuram e bordam as suas roupas. Com suavidade, nos é mostrado o percurso desde o tempo das cacetadas até o fulgor que os governos desejam para atrair turistas.
Estou feliz com mais um livro que conta mais uma parte da vida do povo brasileiro.

Nenhum comentário: